A brisa da graça divina sopra sobre todos nós. Mas precisamos ajustar a vela para que ela a receba.

Atribuído a Ramakrishna (1836-1886), Índia

[1001 pérolas de sabedoria Budista: ideias que iluminam e trazem paz interior / selecionadas por The  Buddhist  Society; tradução Clara Allain. – São Paulo: Publifolha, 2007, 647.]

A citação acima me fez pensar no quanto necessitamos, de vez em quando, fazer um ajuste na vela do barco de nossa vida. Não são poucas as vezes em que percebemos que as coisas não estão caminhando exatamente como planejamos ou imagináramos. Parece que estamos fazendo tudo certinho, seguindo todos os trâmites necessários e, ainda assim, percebemos que vamos seguindo numa direção contrária ou ligeiramente diferente daquela tínhamos em mira. Parece até que o vento está soprando numa direção contrária.

Em ocasiões assim, talvez seja necessário fazer uma ligeira parada para tentar checar o que está, de fato, acontecendo. Não resta dúvida de que, algumas vezes, o vento não nos é favorável e sopra mesmo em outras direções. Mas nem sempre é assim. Será que, antes de culpar o vento, que supostamente estaria soprando em outra direção, não seria melhor verificar a vela do nosso barco?

Claro que culpar o vento é muito mais cômodo. Reajustar a vela do barco pode ser trabalhoso. Requer esforço. Exige que saiamos da nossa zona de conforto, que nos movamos. Há o risco até mesmo da vela sofrer algum dano, devido à impetuosidade do vento. Nesse caso, uma certa prudência pode ser necessária. Sabe-se que a vela está precisando de um ajuste ou, até, de alguns ajustes. Mas agir com precipitação não vai resolver o problema. Na verdade, poderá até complica-lo mais ainda.

Então, fiquemos atentos e aguardemos o momento certo para agir. Quando soprar uma brisa um pouquinho mais suave, é porque chegou a hora do ajuste. Aí, sim, mãos à obra.

Esse ajuste não implica, necessariamente, uma mudança de rumo. É provável que se trate muito mais de adequar a nossa vela à natureza do vento que sopra, para que o barco possa seguir sereno em direção ao almejado porto.

Creio que todos nós temos um porto ao qual se destina o barco de nossa vida. Igualmente, acredito que todos nós sejamos agraciados com bons ventos que sopram em nossa direção, enfunando a vela para que sigamos o destino que nos cabe realizar.  Não nos recuemos, pois, a navegar, quando somos solicitados a isso. Barco algum foi feito para ficar parado num porto. Ele foi feito para navegar. Assim é a vida. Aproveitemos, pois, a brisa, quando ela soprar enfunando a nossa vela, antes que a eterna calmaria se faça… mesmo que para isso tenhamos que fazer muitos ajustes ao longo da travessia.

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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