Padre Francisco Lopes mais uma vez brinda o leitor do ANCORADOURO com um artigo seu. Desta vez o Frade Capuchinho escreve sobre o Papa Francisco, o jesuita que viveu como franciscano e agora governa um rebanho de 1,2 bilhão

Frei Lopes, em Roma.

Frei Lopes, em Roma.

Salve ,Jorge!” que virou nome de telenovela é uma saudação ao santo guerreiro e mártir venerado desde os primórdios da igreja. Comunidades muçulmanas o veneram como “Jorge dos Milagres”. Pois bem, o que levaria alguém com um nome tão forte a trocá-lo por Francisco, sinônimo de humildade, sobretudo? Terá sido o mesmo motivo que levou um jesuíta que vive como franciscano a escolher este nome. O Papa Francisco, até então Cardeal Jorge, traz em si esta têmpera dos mártires guerreiros de Deus e a ternura de Francisco, irmão universal.

Recordemos a simbologia da mudança dos nomes na Bíblia: Israel, Abraão, Pedro… Deus deu-lhes nomes novos significando a nova missão confiada. Assim, Jorge, intrépido defensor da doutrina católica, mostra a misericórdia de Deus aos mais pobres e excluídos do seu rebanho, criticando a hipocrisia e falácia dos deslumbrados que estimulam a promiscuidade, mas depois desprezam as chagas que esta provoca nos pobres e abandonados; que defendem a permissividade, mas não libertam os escravos dos vícios e doenças que esta gera no corpo e na alma. Por isso mesmo, nos próximos dias, ouviremos mentiras e calúnias acusando Francisco de ter sido Jorge demais em tempos políticos delicados para seu país. Uma coisa é certa, ele nunca se calou ou se omitiu e sabemos o quanto isso incomoda num mundo de mentiras e meias verdades como o nosso.

Na Capela do Santíssimo da Igreja de Santo Inácio em Roma, surpreendentemente deparei-me com afrescos com cenas da vida de S. Francisco de Assis, momentos que chamamos da “conversão”. Sabemos que Inácio, fundador dos jesuítas, como São  Jorge, foi um soldado e estando ferido lia a vida dos santos. Conhecendo estes passos da conversão de Francisco de Assis decidiu mudar de vida e formar um exército pra Cristo, a “Companhia de Jesus”. E para tal, contou com um braço direito, guerreiro da fé e da santidade, São Francisco Xavier, apóstolo das missões, que fez uma viagem só de ida à Índia, China, Japão…e morreu esgotado de tanto trabalhar pelas almas! Seu corpo repousa até hoje em Goa, na Índia.

Eu estava na Praça de São Pedro no histórico 13/03/2013, quando a fumaça branca e o carrilhão anunciaram o novo Papa. Mas nunca imaginei que sairia daquela janela um Papa meu “xará”! Sua figura paterna, sereno, bonachão e sorridente, sua simplicidade desarmante sem paramentos pomposos nos comoveu profundamente. Mas, sobretudo, quando o novo Sumo Pontífice apresentou-se simplesmente como bispo de Roma e rezou Pai Nosso, Ave Maria e Glória, como um simples fiel, vimos que Deus nos tinha mandado uma surpresa. Ver o Papa, no Vaticano onde ele é soberano, curvar-se para pedir a bênção ao povo é como ver  o Mestre lavando os pés dos discípulos naquela última ceia.

E a chuva que há dias cobria o céu de Roma deu lugar a um céu estrelado. E Francisco voltou aos seus aposentos não na viatura placa n° 1 do Vaticano, mas no ônibus com os demais cardeais. E como prometeu, foi rezar bem cedo à Virgem no primeiro templo a Ela dedicado no Ocidente, Santa Maria Maior. Sem protocolos e carruagens Francisco começa seu ministério. E se ele traz em si a força de Xavier, patrono das missões e a ternura do “poverello” de Assis, não tenhamos dúvidas, estamos vivendo um novo Pentecostes no coração da Igreja, porque o Espírito Santo, que não é guiado por especuladores, considerou que é hora do coração participar do que já vivem os membros do Corpo Místico de Cristo. Salve, Francisco!

Frei FRANCISCO Lopes, OFMCap

(Roma)

About the Author

Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

View All Articles