Papa Francisco durante entrevista no Avião.

Papa Francisco durante entrevista no Avião.

As palavras do Papa Francisco sobre os homossexuais, em entrevista concedida durante o voo de retorno para o Vaticano, quando retornava da Jornada Mundial da Juventude, foram interpretadas por alguns como uma liberação do Papa à prática homossexual, um engano de interpretação.

Fato é que a forma como Francisco fala –  como assinalou o The New York Times – é diferente. Sua palavra alcança os mais distantes da Igreja e da cultura rotulada de conservadora. As palavras de um homossexual, relatadas em uma carta endereçado ao pontífice publicada em um blog italiano, o http://eliseodeldeserto.blogspot.it , rodaram o mundo em uma fração de segundos.

É um texto comovente e fala sobre ” as periferias” da homossexualidade. O site Aleteia fez a tradução do artigo assinado pelo pseudônimo de Eliseu, discípulo de Elias, figura bíblica do Antigo Testamento.

O autor se apresenta no início, “Eu sou um jovem, mais um homem adulto, e sofro impulsos homossexuais“. Em seguida o autor elenca e discorre sobre o que considera as três periferias da homossexualidade. ” A primeira é a periferia da solidão vivenciada por quem se descobre homossexual; a segunda é a homossexualidade de quem é crente e a terceira são os infernos da homossexualidade, aquela onde a pessoa perde a dignidade”.

Confira as periferias da homossexualidade segundo o texto do autor:

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Blog italiano no qual foi publicada carta do Homossexual ao Papa

1ª Periferia:  a de quem se descobre homossexual. É a periferia da solidão.

Recordo que quando me reconheci homossexual, por um momento minha vista escureceu. Me perguntei por que isso acontecia comigo, recordo que estava indo à missa diária. O jovem que admite ser homossexual se sente um monstro e não sabe com quem falar sobre isso. Os pais? Por que lhes dar um sofrimento tão grande? Os amigos? Chacoteariam de mim. Os sacerdotes? Me diriam que é pecado. Quando falei com Deus, encontrei na Bíblia esta palavra: “Mas aqueles que contam com o Senhor renovam suas forças; ele dá-lhes asas de águia. Correm sem se cansar, vão para a frente sem se fatigar”. É Isaías. Na imagem da força eu li uma promessa. Porque eu pensava que não era varão porque não era forte como os da minha idade. Depois encontrei o valor de falar disso com um sacerdote, e com o tempo a amigos de confiança.

 

2ª Periferia: é a homossexualidade de quem é crente. Sim, há também muitos homossexuais que creem em Jesus.

Sim, há também muitos homossexuais que creem em Jesus, mas que não aceitam o que a Igreja diz sobre a homossexualidade e sobrefrases a sexualidade em geral. Não penso neles, mas sim naqueles que, em contrapartida, amam a Igreja e gostariam de seguir seus ensinamentos. A homossexualidade tem um problema fundamental, que leva frequentemente a viver uma sexualidade desordenada e excessiva: as pessoas homossexuais sentem pulsões compulsivas fortíssimas dentro de si, além disso, às vezes podem nascer inclusive sentimentos reais. A proposta da castidade ou do celibato pode parecer um ato de heroísmo, um martírio que só poucos podem enfrentar. Esses homens cada vez são menos, porque o conceito de castidade é cada vez menos compreensível em nossa sociedade, também no âmbito católico. E se não bastasse isso, há também os ataques da própria militância gay, porque os consideram uma espécie de traidores.

 

3ª Periferia: são os infernos da homossexualidade. Onde o homossexual perde a dignidade de pessoa humana.

São os websites de contatos, uma espécie de escape onde exibir pedaços do próprio corpo para encontrar quem te compre ainda que seja barato. Não se trata sempre de dinheiro, mas do preço da própria dignidade. São as ruas onde de noite se buscam encontros com outros homens que possam preencher os próprios vazios. São os locais gay, como as discotecas ou também esses novos bordéis que se escondem como círculos culturais, onde se pratica todo tipo de depravação. São as manifestações em que se pede dignidade pela própria condição, e em contrapartida se lhe perde.

 

Ao final da carta o homossexual faz um apelo emocionante ao Papa: “Você nos pede para ir às periferias e que o façamos juntos. Eu ainda sou muito frágil, mas lhe peço que reze para que possa ter força. Quero estar junto a quem está sozinho, para lhe dizer que não perca a esperança em Deus, e creia que é precioso aos seus olhos“.

Tendo compreendido a mensagem o autor fala sobre a importância da mudança de vida. “A mudança começa por mim e por ti, dizia Madre Teresa. Papa Francisco, tenho esta imagem sua descendo também a essas periferias tão incômodas da existência. Agradeço pela delicadeza com que sempre enfrentou a questão. Você nunca levantou o dedo para dividir a humanidade segundo seus instintos sexuais. Você sabe que o ser humano é algo muito mais complexo e rico”.

Reze por mim e por todos aqueles que talvez lendo esta carta decidam cruzar o umbral dessas periferias para levar a Boa Nova de Jesus.Eu rezarei por ti, como filho”, diz o final da missiva que alcançou milhares de leitores na internet.

 

About the Author

Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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