Os personagens da história que o ANCORADOURO tem orgulho de apresentar são dois irmãos e os conheci em 2002, em sua cidade natal, junto com os pais, na festa do padroeiro.

A narração é feita pelo Wanderson. Confira:

Filhos de Antonia de Maria e José Wilson, nascemos no Rio de Janeiro, e em 1994, viemos para o Ceará em busca de uma vida melhor, quando o Hudson (à direita na foto) tinha 4 anos e Wanderson 2 anos, porque nossos pais não estavam mais aguentando a vida de lá, e nós vivíamos doentes com problemas respiratórios.

wanderson hudson

Os irmãos Wanderson e Hudson e familiares.

Chegando ao Ceará e passamos por muitas dificuldades, porque não existia tratamento para nós, uma simples fisioterapia não existia, tínhamos que nos deslocar para outras cidades, como Ipueiras que fica a 40 quilômetros, Crateús a 60 quilômetros e Sobral 150 quilômetros de Nova Russas , cidade onde vivemos. Minha mãe tinha de  se humilhar para conseguir carros na prefeitura para ir a esses lugares para que pudéssemos fazer a  fisioterapia.

A nossa doença é diagnosticada como Distrofia Muscular, um problema que acomete os músculos, enfraquecendo-os  com o decorrer do tempo, ou seja, é uma doença degenerativa.

Na nossa infância andamos até os dez anos de idade, logo depois fomos para a cadeira de rodas. Onde tivemos muitas dificuldades, porque não existiam escolas adaptadas em nossa cidade.

Só a partir de 2001, a Prefeitura de Nova Russas disponibilizou fisioterapia de forma gratuita para a população.   Ficamos felizes pensando que nossos problemas estariam resolvidos. Foi puro engano, surgiram novas pedras no caminho.

Quando solicitamos transporte à administração pública para o deslocamento de nossa residência até o setor de fisioterapia, nos negaram e a primeira dama da época ainda disse com extrema arrogância que minha mãe “se virasse”. Nossa  mãe se sentiu arrasada naquele momento.

Foi então que nossa mãe conversou com a fisioterapeuta Socorrinha Arrais, e viu uma luz se acender. Ela de pronto disse: “Não se preocupe eu posso ajudar, vou buscar e deixar os meninos no meu carro, todos os dias”.

Começaram a vir as melhorias, tivemos de mudar de escola para ficar próximo da fisioterapia, o que foi uma benção para nós. Tanto na fisioterapia quanto no colégio, conhecemos pessoas maravilhosas, uma delas foi o Sr. José Marques, que idealizou uma campanha, através de uma rifa de uma moto, para adquirir duas cadeiras motorizadas para nós.

A diretora da Escola Monsenhor Leitão, Neudélia Aragão. onde estudávamos  abraçou a ideia. E envolvendo todo o corpo docente e discente, promoveu a organização de carreatas, buscando a mobilização e aceitação de toda a sociedade novarrussense.

Enquanto isso, amigos e parentes de outras cidades também ajudavam. A campanha foi um sucesso  e recebemos as cadeiras no dia da formatura do ensino fundamental do Hudson. Foi a realização de um grande sonho.

Na Escola Monsenhor Leitão concluímos o ensino fundamental e médio. Onde nunca fomos discriminados, muito pelo contrário, buscaram nos incluir em todos os eventos que a escola promovia.

Em 2010, ingressamos na faculdade de Ciências Contábeis em Nova Russas, e com ajuda do nosso pai que nos leva e nos traz todos os dias estamos quase concluindo o curso. Em 2012, começamos a fazer a nossa pós-graduação em Auditoria e Controladoria Contábil, iremos concluir simultaneamente  com  a faculdade.

As lutas foram muitas, e vão continuar sendo, pois nossa cidade ainda não oferece a estrutura necessária para termos facilidade de acesso em qualquer ambiente. Gostaríamos de agradecer a todos que nos ajudaram até hoje, especialmente aos nossos pais que sempre tiveram força de vontade de acreditar nos nossos sonhos.

 

About the Author

Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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