Filhos de Antonia de Maria e José Wilson, nascidos no Rio de Janeiro, em 1994, vieram para o Ceará em busca de uma vida melhor, quando o Hudson Guilherme (à direita na foto) tinha 4 anos e Wanderson 2 anos, porque os pais não estavam mais aguentando a vida na grande capital, e os irmãos viviam adoentados com problemas respiratórios.
Hoje com 30 anos, Hudson Guilherme mora em Novas Russas e possui uma história inspiradora. Junto com o irmão Wanderson Guilherme foram diagnosticados com uma Distrofia Muscular, doença degenerativa incurável. “Na nossa infância andamos até os dez anos de idade, logo depois fomos para a cadeira de rodas”, explica.
Hudson recorda ao blog, em uma entrevista exclusiva, do período desafiante. “Passamos por muitas dificuldades porque não existia tratamento para nós, uma simples fisioterapia não existia na cidade, tínhamos que nos deslocar para outros municípios, como Ipueiras que fica a 40 quilômetros, Crateús a 60 quilômetros e Sobral 150 quilômetros de Nova Russas. Minha mãe tinha de se humilhar para conseguir carros na prefeitura para ir a esses lugares para que pudéssemos fazer a fisioterapia”, desabafa.
Mas logo chegou o socorro da população. Em 2004, uma campanha na cidade mudou a vida dos irmãos. “Naquele tempo, a partir da iniciativa do casal José Marques e Dona Socorro, outras pessoas amigas, parentes e todo corpo docente e discente da Escola Monsenhor Leitão abraçaram a causa e conseguiram arrecadar recursos para a compra de duas cadeiras de rodas motorizadas para nós“, relembra.
Em 2010, ingressaram na Faculdade de Ciências Contábeis em Nova Russas, e com ajuda do pai que os levava e trazia todos os dias conseguiram concluir o curso. Em 2012, começaram a fazer a pós-graduação em Auditoria e Controladoria Contábil, concluída simultaneamente com a faculdade.
Um baque na vida da família. Em 2016 Wanderson faleceu em decorrência da síndrome. Foi o mesmo ano em que Hudson decidiu-se por uma nova fase na vida, entrar na política para honrar a memória do irmão. “Ele também tinha vontade de se candidatar, vi então uma forma de homenageá-lo e tentar retribuir um pouco do que as pessoas fizeram por nós. Graças a Deus e a este povo querido de Nova Russas, mais uma vez fui vitorioso”, vibra.
A popularidade dos irmãos era grande na cidade que fica a 300 quilômetros de Fortaleza. “Diante de tudo isso, achei que deveria fazer algo em prol das pessoas do município que nos acolheram tão bem no momento importante e desafiante de nossas vidas. Achei que entrando na política poderia ser a melhor forma para ajudá-las. E desde então vim maturando essa ideia”, explica Hudson.
Hudson está no primeiro mandato. “Confesso que quando entrei tive algumas decepções, achei que Seria mais fácil ajudar a população, mas a realidade é outra. Fiz várias indicações e requerimentos que foram aprovados, mas o legislativo não pode executar, portanto ficamos de mãos atadas. Mas, diante das dificuldades, venho solicitando à administração que olhe com atenção a questão da acessibilidade, saúde, educação(faculdade) e geração de renda(fábricas)”, disse ao blog em uma entrevista exclusiva.
Conta com orgulho o zelo que tem pela coisa pública em vistas da população. “Sou a primeira pessoa com deficiência a assumir um cargo no legislativo municipal, o único vereador que nunca tirei diária durante todo o mandato e o vereador que tem maior número de presença nas sessões”.
A lembrança de Wanderson é constante. “A saudade será sempre eterna do Wanderson Guilherme. Pois em todos os lugares eu estava com ele, nos passeios, em casa, compondo músicas, poemas. Ele era um garoto espetacular, super inteligente e sempre de bem com a vida, humorista, traduzindo ele era um anjo que veio a terra pra deixar alegrias”.
“Dos momentos que a saudade aumenta mais é na igreja, pois estávamos juntos, sempre lado a lado. Tanto que tem pessoas de outros lugares que nos viam no patamar da igreja nos festejos de Nossa Senhora das Graças e ainda perguntam por ele. Após o falecimento de Wanderson Guilherme, as pessoas que fazem parte da igreja, continuaram sempre nos dando apoio”, testemunha.
Diante da agenda movimentada, Hudson concilia a vida pública com a de fé. “Até hoje participo de missas, festejos e sempre quando estou em dúvida, me pego com Deus converso com o Bispo [de Crateús] Dom Ailton, padres. Pois nunca quero me corromper com atitudes que não agradam a Deus”, sentencia.