O “Vox populi, vox Dei” parece referir-se à opinião pública, ao consenso da cidade, unânime ou em maioria decisiva num determinado julgamento. Vale a sentença ditada pela coletividade.
Creio tratar-se de outra origem, mais diretamente ligada a um processo de consulta divina, sendo o povo o oráculo, a pítia da transmissão.
Hermes, o Mercúrio de Roma, possuía em Acaia, ao norte do Peloponeso, um templo onde se manifestava, respondendo às consultas dos devotos pela singular e sugestiva fórmula das vozes anônimas. Purificado o consulente, dizia em sussurro ao ouvido do ídolo o seu desejo secreto, formulando a súplica angustiada. Erguia-se, tapando as orelhas com as mãos, e vinha até o átrio do templo, onde arredava os dedos, esperando ouvir as primeiras palavras dos transeuntes.
Essas palavras eram a resposta do oráculo, a decisão do deus. Vox populi, vox Dei, na sua expressiva legitimidade.
[LUÍS DA CÂMARA CASCUDO no livro “Coisas que o povo diz”]
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