ALUNOS MOSTRAM A MANEIRA COM FUNCIONA O CARNEIRO HIDRÁULICO

Dois alunos da Escola de Ensino Profissionalizante de Canindé, Capelão Frei Orlando, que tem 20 horas de campo criaram um bomba de água de fácil execução que vai ajudar o produtor rural.

As peças podem ser compradas em loja de material de construção e o equipamento é capaz de jogar água a vários metros de distância.
Carneiro hidráulico é o nome dado a uma bomba d água muito útil para produtores dos Sertões de Canindé. Ela não usa gasolina, energia elétrica, diesel e pode ser montada artesanalmente. A REPORTAGEM DO C4 NOTÍCIAS DO POVO ON LINE, foi conhecer de perto a invenção dos estudantes.
O barulho parece à batida de um coração. Mas este é o som de uma bomba de água. Na localidade de MINADOR, no município de Canindé, a cerca de 20 km da sede, durante muito tempo, seu José Erivaldo viu a água do açude Caiçara sumir pelo consumo e a evaporação, enquanto suas plantações eram dizimadas pela falta de opção para puxar água que vinha de três cacimbões existentes na propriedade usados pela família.

MARIA CAMILA FAZ AJUSTES NO CANO QUE DESCE PARA O CARNEIRO HIDRÁULICO

‘’Devido à oscilação de energia, as bombas sempre apresentavam defeito, ‘’queimavam’’ por conta da queda de energia elétrica. Foi a partir daí que passamos a pesquisar uma forma de ajudar o agricultor a evitar novos prejuízos e criamos o carneiro hidráulico adaptado à realidade do semiárido’’, explica o aluno do 3º ano agropecuário Francisco Marcelo.

“Chama carneiro hidráulico artesanal porque na Idade Média, os soldados, para derrubar os portões das fortalezas, eles utilizavam uma tora de madeira com uma cabeça de metal ou de madeira mesmo, no formato de um carneiro. E esse golpe é o mesmo que o animal carneiro dá quando ele bate em alguma coisa”, explica Maria Camila.

O carneiro hidráulico funciona assim:
A água desce do reservatório por uma tubulação grossa. Entra no carneiro e aciona a peça martelo, que dá um golpe que fecha a passagem da água. Parte dela vaza pra natureza, outra parte é forçada de volta e encontra a pressão da água que chega do reservatório. Resta apenas uma saída, subir para a câmara cheia de ar. Mas chega um momento em que o ar comprimido ali dentro pressiona a água, que sai por uma tubulação mais estreita e é lançada para um ponto mais distante e mais alto.

“Basicamente precisa de no mínimo um metro de desnível. Teoricamente pra cada metro de desnível da área de captação até o carneiro. Ela impulsiona os dez metros de altura”, conta Camila aluna que criou a ideia de montar a peça com Marcelo.
Erivaldo ficou satisfeito com o resultado. “Essa bomba no caso bombeia por 13,5 h vai bombear cinco mil litros pro reservatório que faz funcionar e segue o curso normal pra natureza…”, afirma ele.
Segundo a aluna, a capacidade é de bombear 378 litros por hora. A água vai cair no tanque e abastecer o cocho dos animais, o sistema de irrigação da horta e até a mangueira pra regar o jardim.
Segundo os alunos, levar a água de um ponto a outro é um problema comum nas propriedades. “Quase toda propriedade tem um açude, mas nesse período se encontra seco. E com esse carneiro, eles podem usar a água da propriedade sem custo nenhum”.
Erivaldo é o primeiro agricultor do Nordeste a receber o benefício. É um equipamento muito simples feito apenas com peças compradas em loja de material de construção.
Entre as peças existem também umas curiosas. As bombas de sucção. São três peças que ajudam na pressão da água, de forma automática que abrem no vai e vem gerando a pancada ao som de tec.tec.tec. É o coração do carneiro, sem ela o carneiro não funciona.
“Esta mola é o coração do carneiro. Sem esta mola o carneiro não funciona. Adjunção dela é simplesmente fazer com que a válvula de sucção feche interrompendo a passagem da água. Fazendo que ocorra aquele golpe”, explicam.
Marcelo e Camila explicam do que depende a escolha da mola: “D instância… quanto mais longe e quanto mais desnível, mais dura tem que ser a mola. Se for até 2 metros de desnível a mola funciona perfeitamente.

Para começar a montagem, eles rosqueiam um parafuso 5×16, em válvulas de sucção de uma polegada cada. Apertam as porcas e encaixam as molas.
Com a válvula pronta eles vão montando as outras partes. Todas as peças têm que ser unidas com a fita veda rosca.
O cano que vai captar a água já está com vários furos e é protegido por uma rede pra evitar entupimento. Esticam o cano até um ponto mais baixo pra instalar o carneiro
e o serviço fica pronto em menos de uma hora. Eles aproveitam pra mostrar mais uma adaptação que criaram: um cano para dar a pressão interna dentro do cano, que substitui a garrafa pet. Ele é melhor que garrafa pet porque ela cria um limo na luminosidade do sol e o cano por ser opaco não fazem a formação e a água sai com uma boa qualidade.
Um ajuste no parafuso e começa a funcionar.
Para quem duvidava da eficiência pela simplicidade do equipamento, construído por Marcelo e Camila já vislumbra os benefícios.
“Vai ser bom pra levar água pro gado, cuidar da irrigação do plantio de cana de açúcar. Nós levamos pra onde nós quisermos essa água aqui agora”, diz ele.
Para Erivaldo, que trabalha com agroecologia, o barulho da bomba, além de ser bom pra propriedade, faz bem até pra alma. “Eu fico meditando aqui. Só o barulhinho da água faz muito bem pra gente. Ele já aproveita a água para irrigar cana, capim, mamão, milho, feijão, maracujá e verduras”.

O preço de um carneiro hidráulico industrial de metal, dependendo do tamanho, varia de R$ 600 a R$ 1.800. Já este artesanal, sai por R$170.

“Essa bomba usa somente energia da água, com a gravidade, então precisa basicamente ter três coisas: volume de água, peso e velocidade (que se dá pela distância da captação até o ‘carneiro’). A água percorre por um cano, sempre em descendente, e quando ela sofre uma interrupção surge essa força interna dentro dos canos (uma pressão muito grande dentro dos canos), que repercute numa pressão suficiente para levar a água para cima. Se tiver dois metros de desnível da captação até o carneiro, tem a possibilidade de jogar até 20 metros de altura numa distância de 200 metros”, explica Francisco Marcelo.

“O carneiro industrial é muito bom. O único detalhe dele que é ruim é que ele é todo de metal, então a água não fica de uma boa qualidade quando for usado para consumo humano. Esse que é a gente monta é de PVC, então não enferruja. Outra diferença é o peso. O outro (industrial) tem uma média de 30 a 35 quilos, e esse aqui tem entre 1,5 kg e 2,0 kg. É de fácil manuseio e muito fácil de lidar. A forma de aproveitar uma água na propriedade sem gastar energia e combustível é utilizando esse ‘carneiro’. Não agride o meio ambiente, não contamina, não polui, é barato, leve, de fácil manuseio e a manutenção é muito pequena. Então é uma forma sustentável de se captar água. Muito prático. No início pode parecer um pouco complicado para montar e fazer a regulagem, mas depois fica muito simples”, ensina Maria Camila.

FOTOS E TEXTO DE ANTÔNIO CARLOS ALVES