PALMA FORRAGEIRA SURGE COMO ALTERNATIVA DE SOBREVIVÊNCIA.

Ouro verde. Assim pode ser definida a palma forrageira. A planta foi trazida para o Brasil pelo empresário alagoano Delmiro Gouveia com o objetivo de fomentar atividades industriais na área de tecidos, mas tornou-se alternativa para a alimentação do animal no sertão nordestino. Na época em que foi trazida do México, Delmiro tinha o objetivo de utilizar a palma para produção do carmim, um corante natural produzido pela cochonilha, uma espécie hospedeira da planta.
Devido a sua fácil adaptação e cultura no Semiárido, a palma forrageira passou a ser plantada no Sertão e logo se expandiu. Sem depender diretamente da chuva, a planta serve de alimento para bois, cabras e ovelhas. No 2º semestre do ano, quando a chuva fica ainda mais escassa no interior do Ceará, por exemplo, o “ouro verde” serve também para matar a sede do animal, pois o interior da palma é constituído de até 90% de água.
O cultivo do “ouro verde” é hoje a principal alternativa para alimentação animal no município de Canindé, que fica a 120 quilômetros de Fortaleza. Lá, a cultura da planta começou a ser fomentada há dois anos com a distribuição de apenas 2.500 sementes para 20 agricultores. “Antes da chegada da palma, agricultores de Canindé se deslocavam para outra cidade para retirada do mandacaru. Além do desgaste físico, os moradores da região também contribuíam de certa forma para a diminuição da espécie. Hoje, eles colhem uma planta totalmente sustentável no quintal de casa”, explica o articulador estadual do agronegócio do SEBRAE, Paulo Jorge.

Para ampliar a oferta da palma no Estado, o SEBRAE junto a órgãos governamentais vem capacitando o cultivo junto a 150 produtores de Canindé, Quixadá, Quixeramobim, Jaguaretama e Barreira. “O SEBRAE orienta o agricultor com práticas de adubação e manejo do solo. Essa orientação acontece após o cadastro do agricultor nas secretarias municipais. Com o plantio iniciado, a gente orienta o produtor até que ele esteja capacitado para conduzir a plantação. Há ainda visitas de acompanhamento das atividades”, explica o articulador do agronegócio.
Como fonte de energia para o animal, a palma substitui em até 70% a energia do milho, que é tradicionalmente usado na ração para o gado, mas que consegue sobressair-se melhor em condições de sequeiro. “Em um hectare de terra, é possível obter até 600 toneladas de palma forrageira com baixo custo e pouca água”, diz Paulo Jorge.
No Assentamento Logradouro II, em Canindé, o cultivo do “ouro verde” serve também para a alimentação humana. Suco, pastel, panqueca, salada e até sobremesas como mousse e sorvete podem ser produzidos, utilizando como matéria-prima o broto da planta. “A palma traz muitos benefícios para o consumo humano. Ela é rica em dois nutrientes muito carentes na culinária nordestina. O ferro, que é bom para anemia, e a vitamina A, boa para a visão”, explica a técnica da Secretaria de Agricultura de Canindé, Iraci Amorim.
O consultor do SEBRAE afirma que até 2016, pelo menos 700 produtores sejam beneficiados com o cultivo da palma. “Com os incentivos governamentais, o Ceará vai receber um tipo de semente que vai gerar uma planta mais resistente às pragas e aumentar a produção”, diz.

Projeto Repalma
Atualmente, o Ceará é o único estado que distribui as sementes da palma. “Começamos no Cariri e hoje estamos em vários municípios. Queremos 50 hectares para produção de sementes. A semente mais resistente vai chegar de forma gratuita ao produtor, somente após isso será cobrado 50% dos custos com a outra parte paga pelo governo”, diz o Secretário de Desenvolvimento Agrário (SDA), Dedé Teixeira.
Chamado de projeto Repalma, a distribuição da semente resistente às pragas, foi instituído no início de 2014 como incentivos à produção de palma forrageira, como alternativa de reserva alimentar para os rebanhos bovino e ovino caprino, e para a aquisição de kits de irrigação para os investimentos na agricultura familiar.
Segundo o coordenador de Desenvolvimento das Cadeias Produtivas da Pecuária da SDA, Márcio Peixoto, a palma forrageira é importante tanto para a alimentação animal como para a alimentação humana. Peixoto destacou ainda que a produção de forragem é a garantia de renda certa para os produtores, principalmente em momentos de estiagem, “isso porque bem alimentado, o gado produzirá um leite de melhor qualidade”.
Paulo Jorge, articulador do SEBRAE, lembra ainda que há outras atividades sustentáveis que contribuem para convivência na Caatinga, como a amonização, que é o uso de amônia anidra e de ureia para melhorar o valor nutricional de vegetais originalmente não forrageiros, assegurando ração mais palatável e digestível.
Outro dado relevante é que a amonização pode suprir em até 100% a alimentação dos rebanhos ao longo de todo o ano, caso o material seja devidamente estocado. Além disso, mesmo se a forragem estiver seca e velha, pode ser perfeitamente usada, desde que combinada com palma forrageira, onde a fibra é zero, mas a energia chega a 3,7 mil quilocalorias ou, ainda, associada a óleos vegetais.
Fotos e texto de Antônio Carlos Alves
Amanhã na última Reportagem Especial: Palma vira alimento humano no Sertão do Ceará.