Já diz o adágio popular: A fé pode não remover montanhas, mas arrasta multidões em todo Brasil, principalmente aos grandes centros de religiosidade de fé cristã. Essa realidade foi comprovada na madrugada desta segunda-feira na cidade de Canindé, onde está localizado o maior Santuário Franciscano das Américas e realizar a segunda maior romaria em homenagem a São Francisco do Mundo, que ano tem como tema: ‘’Senhor fazei-me instrumento de vossa paz’’.

A cada ano, devotos de São Francisco, aproveitam para reverenciarem o Santo do Sertão, o homem mais popular do mundo, considerado o homem do milênio em 1999, através de uma pesquisa feita pela Revista Times, que não é cristã e sim secular.

Choro, emoção, fé e devoção ao santo dos pobres marcaram a abertura da maior romaria franciscana das Américas. A festa do padroeiro da cidade completa 260 anos e tornou-se o maior acontecimento religioso do calendário turístico religioso do Nordeste. Na madrugada de hoje, em procissões vindas de diferentes lugares, os devotos participaram da abertura da festa, que culminou com a missa campal na Praça da Basílica

A cidade fica pequena para tanta gente. Uma multidão invade o Município na busca da cura e da fé. No levantamento da bandeira, quem não conhece de perto todo o processo, fica emocionado. No entanto, mais tocante é o fervor religioso dos devotos.

Em hotéis, pousadas, casas de alugueis ou mesmo em instalações improvisadas em espaços públicos, os romeiros não medem esforços para o pagamento de suas promessas e, sobretudo, reconhecer na intermediação de São Francisco a graça alcançada.

O ritual se repete. As mãos disputam espaço em meio ao tecido santo. Mesmo com o cansaço da madrugada, os fiéis fazem questão de permanecer junto ao símbolo de devoção. Muitos rezam e agradecem, alguns até choram. Tudo para estar perto da bandeira franciscana.

Com pagamento de promessas e agradecimentos de graças alcançadas, uma grande multidão de católicos repete todos os anos a reverência ao padroeiro de Canindé no segundo maior centro de romaria a São Francisco.

Ainda na tarde de domingo, comunidades rurais de Canindé e de municípios vizinhos organizaram as tradicionais “caminhadas”, dos locais onde moram até a Basílica de São Francisco, pelo 32º ano consecutivo.

Festejos

Os festejos foram iniciados em frente ao santuário, com uma celebração eucarística coordenada pelo Reitor Frei Marconi Lins, e o Pároco e animador dos festejos Frei Jonaldo Adelino, além do hasteamento das bandeiras e de espetáculo de fogos de artifício. A estimativa da Paróquia é de que cerca de 30 mil pessoas tenham assistido à missa de abertura, que foi transmitida pelo Núcleo de Televisão do Santuário – NTS.

Uma das franciscanas mais fervorosas era a aposentada Luciana Gonçalves Soares, 54 anos, da Localidade de Ipu Monte Alegre em Canindé. Há 12 anos, ela repete o ritual de se postar ao lado da bandeira de São Francisco, segurando-a, ajudando a erguê-la e ficando ali durante toda a missa. “Tenho muita fé. Ele já me livrou da porta da morte”, diz, revelando já ter sido desenganada pelos médicos. “Por isso, pago minha penitência: não largar a bandeira enquanto eu for viva. Ano passado, até desmaiei no pé do mastro”, lembra emocionada. O agricultor Pedro de Sousa Campo, 65 anos saiu da localidade de Boa Vista dos Caúlas, saiu às 17 horas de domingo, e só chegou à Basílica depois de 3h30 hoje.

Vestido de franciscano, ele participava da caminhada pela primeira vez. “Meus pés estão doendo muito, mas quero pagar minha promessa”, disse, ao revelar a graça alcançada.

“Minhas pernas iam ser amputadas, mas fiz a promessa com São Francisco e estou aqui para contar a história. Não foi preciso fazer a cirurgia´´, disse emocionado e os olhos cheios de lágrimas.

Quando é necessário, nem dormir nas calçadas, nas praças, nas ruas assusta os romeiros. O agricultor Manoel da Silva Dias, 65 anos chegou à meia-noite do domingo, junto com a esposa, Ana Rita Paulino, 56 anos todos moradores da comunidade de São Domingos, no município de Caridade.

Deitados sobre pedaços de papelão, eles se protegiam do frio com lençóis. Desde os 10 anos, Manoel repete o ritual de vir caminhando até Canindé, para ver a abertura da romaria. “Todo ano, venho a pé. Comecei a vir com meu pai”, explica. “É muita fé em São Francisco, nosso intermediador”, completa a esposa.

Homilia

Durante a homilia, o Frei Marconi Lins destacou que a festa deste ano tem um significado muito forte na devoção ao santo em Canindé, com o tema: ‘’Senhor fazei-me um instrumento de vossa paz’’. O franciscano pediu que os fiéis orassem pela paz.

“Somos chamados a externar essa paz nos nossos relacionamentos. A saímos do comodismo, do medo, das incertezas e fazermos a nossa caminhada, buscando a verdadeira paz”, pregou o sacerdote.

Frei Marconi Lins, Reitor do Santuário lembrou ainda que o centro de nossa fé, é Jesus Cristo. ‘’Deus tem caminhos próprios, tem caminhos especiais. Louvar a Deus é nos deixar tocar para que Jesus possa nos dizer a tua fé, te curou. Os milagres de Jesus, continuam aqui em Canindé, através de São Francisco’’, ressaltou.

Em dez dias de festa, que segue até o dia 04 de outubro, a organização da romaria prevê a passagem de cerca de 2 milhões de fiéis por Canindé. ‘’Canindé é a alma franciscana do Brasil’’, ressaltou. Em relação a paz, Frei Marconi que São Francisco é o príncipe da paz. O problema da paz não é o lugar, o problema é o coração dos homens’’, finalizou

Texto de Antônio Carlos Alves

Fotos PASCOM