O texto abaixo contém leves spoilers da trama.

No panteão dos grandes autores de ficção científica, o russo Isaac Asimov criou as chamadas “três leis da robótica”, um de seus maiores conceitos. Por meio delas, a relação entre humanos e robôs ocorreria de forma pacífica, sem que as máquinas pudessem fazer mal algum a seus criadores. Mas como viveria uma sociedade onde a primeira lei, que garante a integridade física humana do ataque de um robô, fosse contestada pelos seres artificiais?

Criada a partir de uma nova interpretação do filme “Westworld – Onde Ninguém Tem Alma” (1973), de Michael Crichton, a série “Westworld”, da HBO, foi lançada em outubro deste ano. Seu último capítulo, exibido no último domingo, 4, e se tornou a maior audiência de uma série estreante do canal. A trama do longa original falava de um parque futurista, no qual robôs idênticos aos humanos viviam, entre outros cenários, em um Velho Oeste eterno. Os visitantes de carne-e-osso podiam, então, se aventurar naquele período artificial. Até os receptivos robôs se rebelarem contra seus mestres e promoverem um massacre no local.

Escrita por Jonathan Nolan e sua esposa Lisa Joy, a série expande os temas abordados no filme. Com décadas de funcionamento, o Velho Oeste do seriado é rico em tramas para os visitantes: é possível participar de aventuras em busca de bandidos, salvar a mocinha indefesa, procurar tesouros ou apenas beber nos bares e se perder em bordéis com os anfitriões. Nesse ponto reside um dos maiores pontos positivos da série. Apesar de contar com interrupções por demandas do mundo real, em diversos momentos é possível esquecer que aquelas situações são artificiais, tamanha a veracidade do que se vê em tela, provando que o parque seria, de fato, uma experiência inesquecível.

A história é encabeçada por Dolores (Evan Rachel Wood), uma anfitriã cuja personalidade parece se diferenciar da artificialidade de seus semelhantes. Ao lado de Teddy (James Marsden), a moça procura descobrir sua relação com o Homem de Preto (Ed Harris). O desenvolvimento dos anfitriões foi realizado pelo Dr. Robert Ford, interpretado magistralmente por Anthony Hopkins. Sereno e ciente de tudo que se passa no parque, o criador possui segredos a serem desvendados, além de ter que lidar com a nova mesa de diretores do parque.

Em “Westworld”, os anfitriões não são apenas robôs puramente construídos para realizar fantasias humanas. Implantada em suas mentes, memórias de programações passadas acabam por formar o que seria uma espécie de consciência – dessa forma, reduzindo a artificialidade de sua existência. Com isso, a série levanta o questionamento: se os anfitriões possuem consciência, até que ponto é correto fazê-los levar uma vida de escravos ao bel-prazer dos humanos?

Fruto direto dessa pergunta, a anfitriã Maeve (Thandie Newton) busca, em sua trajetória, fugir da programação que lhe foi dada, indo diretamente contra as leis que a regiam. De todas as tramas da série, a de Maeve se mostra a mais cativante, tanto pela interpretação da atriz como dos rumos inesperados tomados.

Durante todo seu período de exibição, um detalhe interessante ocorreu do lado de fora das telas. Assim como “Lost” fez durante seu auge, uma legião de fãs se dedicou a procurar o máximo de pistas que ajudassem a solucionar os mistérios do parque. Muitas  teorias se cumpriram, enquanto outras continuaram no âmbito especulativo. Com as perguntas deixadas pela primeira temporada, novas teorias já estão sendo construídas para o futuro da série.

O brasileiro Rodrigo Santoro também está no elenco principal da série.

O brasileiro Rodrigo Santoro também está no elenco principal da série.

Para os amantes da ficção científica, a série ainda é um prato cheio de referências, desde “Eu, Robô”, de Asimov, ao mais recente “Ex Machina”, passando por George Orwell em seu clássico “1984”. Infelizmente, o segundo ano de “Westworld” chegará apenas em 2018. Com os rumos tomados ao final da temporada, os espectadores podem aguardar a chegada de uma nova realidade para os habitantes do parque.  

Ficha técnica
Westworld (EUA, 2016). 
De Jonathan Nolan e Lisa Joy. Com Anthony Hopkins, Evan Rachel Wood e Thandie Newton. 60 min. Disponível na HBO.

About the Author

Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

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