Em uma guerra não há espaço para “preto no branco”. Nem sempre os chamados “mocinhos” irão conseguir agir apenas da forma com que se espera. Dessa forma, ambos os lados precisam realizar decisões moralmente questionáveis para conseguir alcançar objetivos. Trazendo os conflitos bélicos que antecederam a origem de toda a saga ‘Star Wars’, “Rogue One” chega como o primeiro da nova leva de filmes a trazer história do passado do universo criado por George Lucas em 1977.

Logo no início do “Episódio IV: Uma Nova Esperança”, é dito que um esquadrão conseguiu roubar os planos da Estrela da Morte, a arma de destruição em massa do Império. É justamente a formação desse esquadrão e as missões realizadas por eles que acompanhamos em tela. Se a história antes foi contada em apenas uma fala dita rapidamente no longa original, agora é possível conhecer os protagonistas por trás de um momento tão importante para a Aliança Rebelde.

Filha de Galen Erso (Mads Mikkelsen), responsável pela elaboração da Estrela da Morte, a jovem Jyn (Felicity Jones) é resgatada pela Aliança para ajudar a descobrir a mensagem deixada por seu pai a Saw Gerrera (interpretado pelo sempre competente Forest Whitaker), um antigo combatente rebelde. A partir disso, se inicia a conspiração para atingir o Império.

Apesar de situado no mesmo universo e contando com alguns personagens dos outros filmes, esse não é um filme de Star Wars como os outros. A trama, dirigida por Gareth Edwards – responsável pelo mediano “Godzilla” (2014) -, traz uma identidade visual até então desconhecida pela saga. Muitos dos cenários são sujos e devastados, mostrando a face de uma sociedade assolada pelo conflito galático. Os personagens da Aliança Rebelde caminham por sarjetas, com medo de serem presos por stormtroopers, o que amplia o sentimento de desesperança que muitos personagens carregam. Nesse aspecto, a atmosfera acaba lembrando muito a de “Blade Runner” (1982), com as tropas imperiais apresentando manchas de sujeira em seus uniformes brancos, outro reforço no cansaço que nasce do conflito incessante.

As nuances da guerra são um dos pontos mais relevantes do filme. Cassian Andor (Diego Luna) personifica o sentimento de esforço e sacrifício por um bem maior, ao ser um homem moldado a partir das escolhas que precisou fazer para conseguir se manter vivo, mesmo que muitas dessas tenham sido moralmente controversas. Outra abordagem do longa a esse assunto está em Saw Gerrera. Apesar de liderar um grupo rebelde, ele já não faz parte da Aliança, por suas ações envolverem ataques extremos, beirando a paranoia.  

Com a responsabilidade de apresentar toda uma nova leva de protagonistas, o início do filme acaba sendo um pouco lento, algo realçado pelo volume de diálogos expositivos presentes. A partir de seu segundo ato, contudo, a formação do esquadrão os coloca no centro dos conflitos, tornando a experiência fluída. Toda a imponência do Império é vista nestes momentos de batalha. Em dado momento, caças dos rebeldes fogem pelo espaço, quando um grupo de centenas de forças imperiais surge em tela, mostrando todo o poder dos vilões em seu auge.

Provando mais uma vez que os melhores droides estão em Star Wars, K-2SO é uma das melhores adições ao cânone de personagens, com falas divertidas e boas cenas de ação. Agora entre os humanos, quem se destaca é Chirrut Inwe (Donnie Yen). Membro de um grupo que ajudava os jedis, o personagem mostra um novo lado da Força, como uma religião que permeia o universo da franquia. Mesmo não sendo um jedi, ele consegue se conectar com a Força a ponto de utilizá-la em seu favor, quase como um monge ao se unir à sua religião. Sua participação acaba por adicionar novas camadas ao conceito da Força, mostrando que, mesmo situado no passado, o filme é capaz de trazer novidades para a mitologia da saga, algo ampliado com os cenários variados e contrastantes, como uma fortaleza obscura e uma praia paradisíaca.

Os fãs de longa data têm, ainda, muito para se deleitar. Aparições de personagens clássicos, referências em diálogos e localidades, tudo para retirar alguns gritos da plateia nos cinemas. Alguns momentos chegam a soar forçados, mas não prejudicam a experiência final. No futuro, será interessante encontrar listas com personagens da saga e se deparar com o nome de Jyn Erso como uma das principais soldados da rebelião durante os anos que antecederam a derrocada do Império. Que a Força continue com esta história e com um universo cada vez mais extenso.

Cotação: nota 6/8

Ficha técnica:
“Rogue One – Uma História Star Wars”  (EUA/2016). De Gareth Edwards. Com Felicity Jones, Diego Luna e Mads Mikkelsen. 12 anos. 133 min.

About the Author

Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

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