Protesto da equipe do brasileiro “Aquarius” em 2016

Mais do que nas últimas décadas, o Festival de Cannes de 2016 ganhou evidência nacional pela participação de um competidor brasileiro à Palma de Ouro, principal prêmio da competição. O protesto de Kleber Mendonça Filho e da equipe de “Aquarius” contra o impeachment de Dilma Rousseff acabou eclipsando o fato de que a obra era o primeiro filme nacional na mostra principal do festival desde “Linha de Passe”, de Walter Salles e Daniela Thomas, em 2008.

Infelizmente, 2017 não é o ano de um “bi”. Na manhã da última quinta, 13, a organização do 70º Festival de Cannes anunciou os 49 selecionados para o evento, sendo 18 elegíveis para a Palma de Ouro. Como sempre democrático em suas nacionalidades, os longas escolhidos vêm de diretores de diferentes países: Rússia, Estados Unidos, Escócia, França, Hungria, Ucrânia, Grécia, Japão, Coréia do Sul, Alemanha, Áustria e Alemanha. Os países com mais indicados foram os Estados Unidos e a França, com quatro filmes cada. Benny e Josh Safdie, Todd Haynes, Sofia Coppola e Noah Baumbach representam os EUA, enquanto François Ozon, Michel Hazanavicius, Jacques Doillon e Robin Campillo. O Festival de Cannes será realizado entre os dias 17 e 29 de maio, na cidade da riviera francesa.

O austríaco Michael Haneke busca o recorde de três Palmas de Ouro em Cannes

O austríaco Michael Haneke é o único entre os indicados a ter ganhado uma Palma de Ouro. Aliás, caso vença, Haneke se tornará o único vencedor do prêmio principal por três filmes diferentes. Considerado o maior “queridinho” de Cannes nos últimos 15 anos, o austríaco venceu em 2009 pelo alemão “A Fita Branca” e em 2012 por “Amor”. Esse ano, ele compete com “Happy End” (“Final Feliz”, em tradução literal), título paradoxal para um diretor conhecido pelo sadismo e melancolia de suas obras. O Brasil venceu o prêmio principal do Festival apenas em 1962, com “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte.

Entre os 18 indicados, apenas três são dirigidos por (talentosíssimas) mulheres: “You were never really here”, da escocesa Lynne Ramsay; “Radiance”, da japonesa Naomi Kawase; “O Estranho que nós Amamos”, da norte-americana Sofia Coppola. Sofia, inclusive, é filha de Francis Ford Coppola, um dos nove diretores a vencer a Palma de Ouro duas vezes. Outros destaques são os novos filmes de Todd Haynes, ícone do New Queer Cinema e injustiçado por não vencer o Oscar 2016 por “Carol”, do grego Yorgos Lanthimos, indicado ao Oscar de melhor roteiro por “O Lagosta”, do coreano Hong Sangsoo, de obras delicadas como “Certo Agora, Errado Antes” e “Filha de Ninguém” e de Michel Hazanavicius, vencedor do Oscar pelo maçante “O Artista”. As redes de streaming Amazon e Netflix serão representadas pelo infanto-juvenil “Wonderstruck”, de Todd Haynes (AmazonTV), “Okja”, de Boong Joon-Ho (Netflix) e “The Meyerowitz stories”, de Noah Baumbach (Netflix).

Todd Haynes leva o infanto-juvenil “Wonderstruck”, da AmazonTV, para Cannes

O júri deste ano será presidido pelo espanhol Pedro Almodóvar. Já a Semana da Crítica terá como presidente do júri o brasileiro Kleber Mendonça Filho. Nessa edição, haverá ainda um evento especial comemorativo de 70 anos de Cannes. Nele, serão exibidos episódios da nova temporada da série “Twin Peaks”, de David Lynch; “24 Frames”, um dos últimos projetos do iraniano Abbas Kiarostami, morto em 2016; “Top of the Lake: China Girl”, segunda temporada da série dirigida por Jane Campion e Ariel Kleiman e “Come Swim”, estreia da atriz Kristen Stewart na direção.

Filme de abertura: “Ismael’s Ghosts”, de Arnaud Desplechin

Mostra principal
– “Loveless”, de Andrey Zvyagintsev
– “Good Time”, de Benny Safdie e Josh Safdie
– “You were never really Here”, de Lynne Ramsay
– “L’Amant double”, de François Ozon
– “Jupiter’s Moon”, de Kornél Mandruczo
– “A gentle creature”, de Sergei Loznitsa
– “The Killing of a sacred deer”, de Yorgos Lanthimos
– “Radiance”, de Naomi Kawase
– “Le jour d’après”, de Hong Sangsoo
– “Le Redoutable”, de Michel Hazanavicius
– “Wonderstruck”, de Todd Haynes
– “Happy end”, de Michael Haneke
– “Rodin”, de Jacques Doillon
– “O estranho que nós amamos”, de Sofia Coppola
– “120 battements par minute”, de Robin Campillo
– “Okja”, de Bong Joon-Ho
– “In the Fade”, de Fatih Akin
– “The Meyerowitz stories”, de Noah Baumbach

Episódios da nova temporada de “Twin Peaks”, de David Lynch, serão exibidos

Evento de comemoração de 70 anos de Cannes
“Top of the Lake: China Girl”, de Jane Campion e Ariel Kleiman
“24 Frames”, de Abbas Kiarostami
“Twin Peaks”, de David Lynch
“Come Swim”, de Kristen Stewart

Exibições especiais
“An Inconvenient Sequel”, de Bonni Cohen & Jon Shenk
“12 Jours”, de Raymond Depardon
“They”, de Anahita Ghazinizadeh
“Keul-Le-Eo-Ui-Ka-Me-La”, de Hong Sangsoo
“Promised Land”, de Eugene Jarecki
“Napalm”, de Claude Lanzmann
“Demons In Paradise”, de Jude Ratman
“Sea Sorrow”, de Vanessa Redgrave

Exibição fora de competição
“Mugen Non Junin”, de Takashi Miike
“How To Talk To Girls At Parties”, de John Cameron Mitchell
“Visages, Villages”, de Agnes Varda & JR

Mostra Un Certain Regard
– “Barbara”, de Mathieu Amalric
– “La Novia Del Desierto”, de Cecilia Atan & Valeria Pivato
– “Tesnota”, de Kantemir Balagov
– “Aala Kaf Ifrit”, de Kaouther Ben Hania
– “L’Atélier”, de Laurent Cantet
– “Fortunata”, de Sergio Castellitto
– “Las Hijas De Abril”, de Michel Franco
– “Sanpo Suru Shinryakusha”, de Kiyoshi Kurosawa
– “Lerd”, de Mohammad Rasoulof
– “En Attendant Les Hirondelles”, de Karim Moussaoui
– “Apres La Guerre”, de Annarita Zambrano
– “Wind River”, de Taylor Sheridan
– “Jeune Femme”, de Leonor Serraille
– “Western”, de Valeska Grisebach
– “Posoki”, de Stephan Komandarev
– “Out”, de Gyorgy Kristof

About the Author

André Bloc

Redator de Primeira Página do O POVO, repórter do Vida&Arte por seis anos, membro da Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine).

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