Familiares para qualquer um que acompanha as notícias e, infelizmente, para os habitantes dos Estados Unidos, tiroteios em massa se tornaram uma mancha que insiste em permanecer como parte do cotidiano do País. E a tendência não mostra sinais de queda. Em dado momento de 2016, o número de tiroteios era equivalente à quantidade de dias daquele ano. Casos famosos como os de Columbine e o atentado a boate em Orlando serão lembrados para sempre, mas o início desse fenômeno data de cinco décadas atrás, em 1º de agosto 1966.

Recém-chegado à Netflix, o documentário “Tower”, lançado ano passado no exterior, aborda o primeiro caso de um tiroteio em massa em território estadunidense. Na torre localizada no centro da Universidade do Texas, o ex-fuzileiro Charles Whitman disparou contra estudantes e outros pedestres, vitimando mais de uma dúzia de pessoas e ferindo outras 31. O caso abalou todo o País e rapidamente foi noticiado por todas as grandes emissoras.

Por mais chocante que seja o crime, um documentário sobre um atentado não é incomum. Inúmeras obras de temática semelhante podem ser encontradas, seja em forma de longa-metragem ou seriadas nas tvs à cabo. “Tower”, porém, em seu primeiro plano já mostra seu diferencial. Ao invés de imagens de arquivo, o que se apresenta é uma animação com estilo incomum de traço. Por mais que parece estranho abordar um tema tão pesado sob a forma de animação, o documentário em momento algum perde sua força pela forma com que apresenta sua história.

Um jovem que passeava de bicicleta com seu primo, um casal de namorados, grávidos do primeiro filho, pessoas confusas que apenas passavam pela Universidade em um dia particularmente quente. Múltiplas histórias relatadas de forma humana por meio da animação utilizada pelo documentário, que opta por não usar a voz original dos sobreviventes, e sim de atores cujas idades se assemelham às das vítimas 50 anos atrás.

Estruturado de forma cronológica, “Tower” utiliza, em alguns momentos, imagens de arquivo como forma de complementar os relatos e atribuir veracidade aos relatos dos sobreviventes. É doloroso para o espectador ouvir a descrição de uma jovem baleada, que sofre, acima da dor do disparo, a de ter sua pele queimando no concreto quente. No entanto, a única falha de “Tower” é na fraca abordagem dada ao atirador, deixando a audiência com poucas informações acerca das motivações de Whitman para cometer seu crime.

Impactante e profundamente bem realizado, “Tower” é um dos melhores documentários disponíveis atualmente no catálogo nacional da Netflix. Uma obra que não só não tem medo de escolher uma forma inusitada de apresentar sua história, como o faz de forma exemplar e tocante.

Cotação: nota 8/8

Ficha técnica: (EUA, 2016). De Keith Maitland. 82 minutos.  

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Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

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