Documentários que exploram casos de assassinato são, quem sabe, os campeões em número de produções audiovisuais nos Estados Unidos. Indo desde investigar a fundo os casos, até existindo pelo mais puro sensacionalismo, tais obras mostram que o fascínio do público estadunidense por esse tipo de material parece não ter fim. O próprio vencedor do Oscar de Melhor Documentário deste ano, “O.J: Made in America”, é um retrato dessa característica.  

Partindo do mesmo assunto, um assassinato, mas explorando técnicas incomuns para a produção documental, “Quem é JonBenet”, distribuído pela Netflix, aposta em utilizar as testemunhas do caso para que elas próprias sejam as protagonistas da reencenação das possíveis causas da morte da pequena JonBenet. Morta em 1996 sob circunstâncias até hoje não esclarecidas, a criança de seis anos virou capa de revistas e jornais e protagonista de incontáveis documentários que buscavam encontrar uma explicação para seu assassinato, sem jamais encontrar uma respostas conclusiva.

E esse é o maior trunfo de “Quem é JonBenet”. Ao invés de focar em como a garota foi morta, o documentário prefere abordar as relações dos moradores da cidade de Boulder, palco do assassinato, e como eles enxergaram as ramificações do caso. Para tanto, eles são convidados a receberem os papéis de pais de Jon, para encenarem as possíveis formas com a qual a jovem pode ser sido morta.

Durante as entrevistas, onde os moradores comentam sobre o que conhecem do caso, se percebe como a falta de informação pode rapidamente criar boatos infundados e teorias que apenas prejudicam a história de uma vítima. Abusos sexuais, pedofilia, obsessão com a beleza, quatro possíveis assassinos, explicações que nem mesmo foram consideradas pela polícia. Tudo isso permeia o discurso destes moradores que, ainda chocados com um caso de 20 anos, seguem frustrados por não obterem uma resposta conclusiva.

É preciso destacar, também, a bela fotografia empregada por Michael Latham, ao conseguir capturar belas imagens, mesmo dentro de um assunto tão infeliz. O clímax do longa, com todos os atores interpretando as diversas possibilidades do crime, impressiona pela montagem ágil e lenta, ao mesmo tempo, mas sem soar sensacionalista em momento algum.

Despreocupado em encontrar um culpado e focado em como a morte de JonBenet abalou os moradores de Boulder, “Quem é JonBenet” mostra que não é preciso seguir uma fórmula cansada para extrair novas abordagens para relatar um caso de assassinato. Ainda que o espectador precise fazer uma pesquisa na internet para de fato tentar entender o caso, o documentário merece ser visto tanto por suas qualidades técnicas como pelo corte que realiza da sociedade estadunidense.

Cotação: nota 6/8

Ficha técnica
“Quem é JonBenet”: De Kitty Green. 81 min.
Disponível na Netflix

About the Author

Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

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