No fundo, a história de “It: A Coisa” nunca foi sobre terror. Claro, há o palhaço assustador que mata as crianças da cidade de Derry e, de tempos em tempos, provoca ondas de violência no local. Mas o foco real na história criada por Stephen King é a amizade entre o grupo de sete amigos conhecidos como “Clube dos Otários”. E por mais que a nova adaptação tropece um pouco na construção desse grupo, o espírito da obra pode ser sentido durante toda a produção.

Partindo do assassinato do jovem Georgie (Jackson Robert Scott) em 1987, a trama une Bill (Jaeden Lieberher), irmão da vítima, a Richie (Finn Wolfhard, de “Stranger Things e a pessoa mais famosa do elenco), Ben (Jeremy Ray Taylor), Berverly (Sophia Lilis), Eddie (Jack Dylan Grazer), Stan (Wyatt Oleff) e Mike (Chosen Jacobs), para buscarem uma forma de derrotar o palhaço Pennywise (Bill Skarsgård) e encerrar a onda de assassinatos.

Vítimas de bullying e possuindo fortes características de personalidade, o clube dos otários é a alma do filme. Apesar de estreantes, os atores juvenis não desapontam e dão performances convincentes. É uma pena, contudo, que o roteiro não consiga desenvolver Mike e Stan, deixando os dois como coadjuvantes na história, o que prejudica a relação dos jovens.

Destaque de todas as peças promocionais do filme e personagem mais aguardado pelos fãs, o Pennywise da nova adaptação não decepciona. O diretor argentino Andy Muschietti não cai na armadilha de transformar o palhaço em apenas uma assombração. Pennywise é um personagem como todos os outros, com uma personalidade zombeteira, que mais procura assombrar os jovens que matá-los de imediato.

Acertando na construção dos personagens, mas errando em elementos básicos de terror, Muschietti, do sofrível “Mama” (2013), mostra que ainda tem muito a aprender no gênero. A  criação de tensão é básica, com aumento da trilha sonora e cortes rápidos, seguindo a fórmula tão utilizada por outras produções. Jump scares também estão aos montes no filme, deixando a obra com pouca sutileza. Esses aspectos rasos são compensados pela excelente fotografia de Chung-hoon Chung, sul-coreano responsável por obras-primas como “Oldboy” (2003) e “A Criada” (2016). A paleta de cores varia do azul para o amarelo, dosando bem a iluminação dos ambientes internos e externos.

Sem cair na obviedade das músicas comuns da década de 1980, o filme ainda se beneficia de uma trilha sonora competente. Por mais clichês que sejam os sustos de “It: A Coisa”, o longa já pode ser considerado um dos melhores filmes de terror do ano. A ótima condução da história, aliada aos personagens carismáticos, compõem uma obra sólida. Com um segundo filme já garantido, agora com as versões adultas das crianças, resta aguardar até que ponto Pennywise irá abalar a trágica cidade de Derry.

Cotação: nota 6/8

Ficha técnica: IT (EUA, 2017). De Andy Muschietti. Com Bill Skarsgård e Finn Wolfhard. 135 min

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Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

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