No lançamento do álbum Renaissance, Beyoncé explicou que seu projeto após a Era Lemonade seria dividido em uma trilogia com três atos distintos, mas que se complementavam. Em cada ato ela exploraria um gênero diferente que nasceu em sua comunidade negra dos Estados Unidos.
O Renaissance de 2022 foi lançado como o ato 1 (act i) com o gênero House que nasceu em Chicago em clubes gays e negros, se popularizou na boate The Warehouse, por isso o nome. Já no ato 2 (act ii), o Cowboy Carter lançado em 2024, Beyoncé explorou o country misturando com rap, hip hop, flamenco, música clássica e até funk brasileiro.
A turnê do segundo ato, a Cowboy Carter Tour 2025, trouxe vários elementos criticando a sociedade americana, e a forma como limita o que as comunidades negras podem produzir criatividade, assim como consumir. Da mesma forma como se apresenta levando a bandeira na capa do álbum ou como se posiciona como parte de um gênero que ela nunca pôde cantar livremente. Lembrem da participação dela no Country Music Awards de 2016, no qual cantou Daddy Lessons, música country do Lemonade, com participação das Dixie Chicks, onde ela foi desconsiderada.
Beyoncé trouxe algumas declarações na abertura do Tour Book da turnê Cowboy Carter falando um pouco sobre o country. E como algumas pessoas têm preconceito com o gênero, bem semelhante ao sertanejo na nossa música popular brasileira. Ela fala como às vezes temos hábitos que temos vergonha de falar pras outras pessoas, mas que te dão prazer, e isso foi o que aconteceu com ela ao ouvir country, um gênero dito branco sulista. Seria mesmo?
“Se o mundo soubesse que amamos isso, fazemos isso, que não conseguimos viver sem isso, será que nos enxergariam de forma diferente? Durante muitos anos, esse fui eu, e meu hábito clandestino era a música country. Talvez fosse o seu também? Quando você cresce ouvindo a frase ‘eu gosto de tudo, menos de música country’ até a exaustão, fica claro que esse é o tipo de coisa que não devemos admitir, muito menos nos permitir gostar.”
Beyoncé conta como escuta críticas de artistas dizendo que country é o gênero que não deve ser escutado, por ser caipira demais ou sem sofisticação, ela imagina dizendo “Você é culto, mas não gosta daquele som brega de bar honky-tonk. Você ouve de tudo, menos música country. Talvez não seja apenas que você não ouve… talvez você nunca tenha dado uma chance à música country.”
E complementa falando como o country do sul dos Estados Unidos, com vários estados sendo conservadores, faz o gênero ser sequestrado por essa classe: ” ‘Tudo, menos country’ é uma daquelas frases carregadas, que revelam não só uma opinião artística, mas também uma visão sociológica: ela serve para sinalizar um certo tipo de gosto, de classe, de estilo. De posicionamento político.”
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Ao longo do tourbook ela se define ao dizer para observar “… a transformação de Cowboy Carter ao abraçar a dualidade entre o poder e a feminilidade. Isto não é um truque só. É uma mulher sulista poderosa, recuperando com seu laço tudo o que é dela por direito.”
E no meio das imagens que compõem todo o conceito da turnê, ela dá as cartas sobre o mundo digital e a forma como todos nós temos que lidar com geração de conteúdo, redes sociais e mídia:
“Agora no mundo, a internet é o velho oeste selvagem. Não há regras, nada que regule o que é verdade e o que é ficção.” Mrs Carter
Beyoncé uma vez disse na entrevista à revista GQ de 2024 que o trabalho dela não era sobre ser perfeita, mas sobre ser revolucionária. Não tinha como ser menos exata.