Em agosto de 1969, o Festival de Woodstock se tornou um marco na contracultura, o retrato de uma geração e o palco certo para o surgimento de uma série de grandes artistas. Entre eles, Joe Cocker, Janis Joplin e o guitarrista mexicano Carlos Alberto Santana Barragán. Este último, ficou conhecido pela sua mistura de rock com sons latinos, guiados por uma destreza incomum na guitarra. Quase sempre calado, no máximo um vocal aqui e ali, foi mesmo como instrumentista que Santana atravessou a carreira, entre bons e maus momentos. Em 1999, no entanto ele embarcou numa série de bons trabalhos, com ótima aceitação do público, tendo sempre o produtor Clive Davis como guia. A fórmula para o trabalho da dupla era bem simples: um ótimo músico acompanhado de uma penca de convidados de peso. Primeiro veio Supernatural, com Smooth e Corazon espinado, e convidados como Eric Clapton e Dave Mathews. Em seguida, mantendo o pique, Shaman, com as ótimas The game of love e Feels like fire nas vozes de, respectivamente, Michelle Branch e Dido. Já perdendo o fôlego, All that I am traz I’m feeling you, mais uma vez com Michelle, e Just feel better, com Steven Tyler. Eis que este ano Santana resolve colocar nas lojas seu quarto trabalho seguindo a mesma linha. Pra mudar um pouco as coisas, em Guitar Heaven: The greatest guitar classics of all time foram selecionadas 12 canções que, como dito no título, são tidas como “clássicos guitarreiros de todos os tempos”. Entre os homenageados, The Doors, AcDc, George Harrison e Jimie Hendrix. Pois bem, a ideia seria ótima se a fórmula não fosse tão repetitiva e já um tanto desgastada. Outro problema é que nem tudo no disco é tão clássico assim. A sorte é que o pior disco de um grande artista é bem melhor que o melhor disco de um artista ruim. Entre bons e maus momentos, o disco cumpre seu papel de mostrar o quanto Santana é bom músico. O resultado deve agradar num primeiro momento, mas tem data de validade. As versões mudaram bem pouco em relação ao original. Algumas ganharam novo corpo, como While my guitar gently weeps. Outras perderam intensidade, como Riders on the storm. Veja abaixo o faixa-a-faixa.

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Santana e Maná em Corazon Espinado

1. Whole lotta love – Um dos clássicos do Led Zeppelin ganha nova versão na voz de Chris Cornell. Ex vocalista do Soundgarden e do Audioslave, ele mostra empolgação sobre um instrumental mais suingado que o original.

2. Can’t you hear me knocking – O bom Scott Weiland, ex Velvet Revolver e de volta ao Stone Temple Pilots, faz uma boa performance nesta faixa de Sticky Fingers, dos Rolling Stones. O charme fica com as congas de Raul Rekow.

3. Sunshine of your love – Esse sim um clássico da guitarra, Sunshine of your love foi tirada do repertório do Cream que tinha ninguém menos do que Eric Clapton cuidando da guitarra. Música que já passou também pelas mãos de Jimy Hendrix, aqui ela vem cantada por Rob Thomas, outro fiel companheiro de Santana. Mais roqueira do que o original, ganha pela latinidad.

4. While my guitar gently weeps – Clássico dos clássicos entre os guitarristas, esta maravilhosa música foi composta por George Harrison, para o Album Branco (1968) dos Beatles, com inspiração no I-Ching. Revezando entre a guitarra e o violão, Santana chama Yo-Yo Ma para dar um clima com o seu cello e India.Arie para os vocais. O resultado é uma versão viajandona que tem sido apontada como uma das melhores do disco.

5. Photograph – Canção da banda Def Leppard, não chega a ser uma clássico da guitarra. O vocal ficou a cargo de Crris Daughtry, participante do American Idol. O clima oitentista farofa compromete consideravelmente.

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Santana e Steven Tyler em Just feels better

6. Back in black – Esse sim um clássico guitarreiro, merecia mais respeito por parte de Santana. Esqueça os berros de Brian Johnson e coloque um rap de Nas. Dispensável.

7. Riders on the storm – Bela viagem de Jim Morrison e seu The Doors, tinha o teclado mais marcante que a guitarra. Não por acaso, Ray Manzarek é convidado para pilotar os teclados nesta nova versão. Chester Bennington, do Linkin Park não compromete nos vocais, mas também não acrescenta. Difícil mesmo é acrescentar em algo que já foi cantado por Morrison e seus xamãs.

8. Smoke on the water – Quando Ritchie Blackmore criou o riff de Smoke on the water, acabou resumindo e eternizando o Deep Purple em poucas notas. Qualquer ouvinte de rock, mesmo que não conheça o Purple, conhece este riff. Santana se permite viajar mais na guitarra enquanto Jacoby Shaddix, do Papa Roach, se mostra apenas correto. Não mais que isso.

9. Dance the night away – Outra que não tem nada de clássico da guitarra, mas vale pelo respeito ao Eddie Van Halen. Aqui ela só peca pelo clima excessivamente oitentista. O vocal é de Pat Monahan, do Train.

10. Bang a gong – Música da banda T-Rex, é outra que passa longe de ser um clássico da guitarra. O vocal de Gavin Rossdale, do Bush, soa sem força e sem vontade. Melhor ficar com o original.

11. Little wing – Se não é um clássico, o pai dela é. Qualquer canção composta por Jimie Hendrix, passa a ser automaticamente um clássico da guitarra. O companheiro de geração Joe Cocker, aos 66 anos, não tem mais a performance de outrora e acaba compromentendo o encontro. Mas, vale pela presença deste lendário e esquecido cantor.

12. I ain’t superstitious – Power blues com Santana incendiando na guitarra. Esse sim. Jonny Lang, no vocal, é blueseiro de primeira linha. Composta por Willie Dixon (1915 – 1992) e gravada por Howlin’ Wolf (1910-1976) em 1961, a música fecha Guitar heaven em clima de animação.

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About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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