Já se vão mais de 40 anos desde que Toquinho se lançou como artista. Cantor, compositor e músico reconhecido, seu primeiro trabalho foi o instrumental O violão de Toquinho, de 1966. O último lançamento de inéditas foi Mosaicos, em 2005, junto com Paulo César Pinheiro. De lá pra cá, foram muitas histórias e canções que surgiram, ao lado deste e de outros parceiros, e agora ele decidiu passar isso a limpo no livro Histórias de Canções: Toquinho (ed. Leya). Escrito por João Carlos Pecci, irmão de Toquinho, e pelo pesquisador de música Wagner Homem, este é o terceiro volume da coleção que já narrou as histórias de Chico Buarque (também de Wagner) e de Paulo César Pinheiro (escrito pelo próprio compositor). Diferente do livro de PC Pinheiro, que se ateve mais aos bastidores e a como estas músicas surgiram, o livro de Toquinho se detém mais as sensações que as canções trouxeram para o compositor. Em alguns momentos, esta opção torna a leitura vazia e traz a impressão de se tratar de um compositor que nunca teve lá tantos problemas, nunca sofreu reviravoltas e viveu na mais perfeita tranquilidade. De fato, é importante lembrar, Toquinho é músico letrado, estudado, aluno disciplinadíssimo, segundo consta na longa biografia postada em seu site oficial. Ou seja, embora a emoção esteja presente no seu trabalho, compor é ofício que exige matemática e organização. Ex-aluno de Paulinho Nogueira, Toquinho é desses que compõe escrevendo na partitura e, em seguida, faz as devidas correções para deixar tudo perfeito harmonicamente. Aliás, ver Toquinho dedilhando o violão é um espetáculo único. Fugindo um pouco desta linha, um dos momentos mais forte do livro é quando surge o poeta Vinicius de Moraes em sua vida. Parceiros e irmãos por pouco mais de dez anos, foi mesmo no Poetinha que Toquinho encontrou seu parceiro mais prolífico. O primeiro fruto do encontro, segundo o livro, foi Como dizia o poeta, lançada no disco homônimo da dupla, ao lado de Maria Medalha, em 1971. Há ainda ele explicando que compôs Samba para Vinicius para servir de tapete na hora que o homenageado entrasse no palco. Como não queria ter o próprio Vinícius como letrista, convidou Chico Buarque para o papel. Matreiro como sempre, Chico aproveitou a oportunidade para dar uma alfinetada no governo militar. Quando o presidente Costa e Silva demitiu Vinicius do seu cargo de diplomata, disse: “Demita-se este vagabundo”. Daí a letra dizer: “Poeta, poetinha vagabundo”. Outro ponto que faz o livro de Toquinho perdeu em relação ao de PC Pinheiro é que o primeiro não compõe letras, que justamente onde a maior parte dos fãs ficam cascaviando em busca mensagens secretas e detalhes escondidos. Ainda assim, é importante dizer que, mesmo com a morte de Vinicius, em 1980, Toquinho manteve a qualidade e buscou novos caminhos para seu trabalho. Por exemplo, um dos momentos mais felizes que vieram foram os trabalhos infantis, como o Casa de Brinquedos, onde esteve ao lado do baterista Mutinho. Pena que o livro não entre em detalhes sobre esta época. Histórias de canções: Toquinho encerra de forma abrupta citando os trabalhos do compositor no musical Cats e ao lado de Paulo Ricardo, este último ainda inédito. No fim, fica a impressão de que ouvir a obra de Toquinho é mais importante do que necessariamente saber como ela nasceu. Ainda assim, é um registro importante sobre canções que se tornaram clássicos e assim vão permanecer por tempo indeterminado.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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