Pode parecer estranho, mas a cantora Aretha Marcos está fazendo sua terceira estreia na carreira de cantora. Lançada nos anos 80 como uma das crianças prodígio dos musicais infantis de Augusto Cesar Vanucci, ela tinha apenas seis anos quando contracenou com Maria Bethânia, Chico Buarque e Raul Seixas. Chegou a lançar um disco produzido pelo ex-Mutante Liminha e deu uma parada. Depois de adulta, começou a cantar em bares cariocas e paulistas até reestrear em disco com uma releitura da obra do pai, o ótimo e pouco lembrado Antônio Marcos (1945 – 1992). Cheia de teatralidade, ela re-reestreia, agora como cantora, em Aretha, lançado pelo selo Discobertas. O disco, produzido pela própria e banda, é um trabalho cuidadoso, desde o som até o material gráfico, que expõe a docilidade e a agressividade da cantora. O repertório autoral deixa clara sua intenção de se mostrar adulta e criativa em duas composições, com destaque para A mulher do sacana. Quatro canções são de compositores pouco badalados como Xande Mello e Kleber Albuquerque, este último na boa Na telha. Completando as 11 faixas do disco, quatro releituras irregulares que vão de Edit Piaf a Elvis Presley, este último melhor defendido em A little less conversation. Para Non je ne regrette rien e Resposta ao tempo faltou o peso que elas exigem, mas sobrou em coragem ao canta-las. Em entrevista por email, Aretha explicou como nasceu este novo disco, mas fugiu de questões abordando sua família. Até pra saber como foi sua transição de cantora infantil pra cantora adulta, ela se mostrou receosa e a pergunta precisou de uma repescagem. Mesmo quando pedi para ela comentar os vídeos de sua mãe Vanusa no youtube, ela disse que prefere não falar pois “quanto mais se fala nesse assunto, mais machuca”. Concordo. Acompanhe.

DISCOGRAFIA – Queria que você falasse sobre esse disco. Como ele nasceu e quais suas impressões sobre ele agora, depois de um tempo de lançado e já apresntado em shows.

Aretha – Bem, primeiramente quero agradecer a oportunidade de falar sobre o trabalho. Eu costumo dizer que esse disco foi uma cartarse… sabe quando o copo está cheio e precisa transbordar. Foi um movimento contínuo entre eu e meus músicos. Desde o dia que decidimos fazer o disco, tudo aconteceu muito rápido. Trabalhei na escolha do repertório sozinha, para que o disco tivésse realmente a minha cara. Depois entramos no estúdio e coletivamente fomos levantando os arranjos, uma por uma. Depois começamos a gravar as bases e em seguida a voz. Não demos intervalo entre a produção e a gravação e acho que isso gerou um coesão no resultado final. Confesso que ficou melhor do que eu esperava. rsrsrs

DISCOGRAFIA – Trata-se, como tem sido muito comentado, do seu primeiro trabalho adulto, com canções próprias. Como nasceram essas suas primeiras composições? Como foi o momento de mostra-las para a banda?

Aretha – A música Tudo que posso com você já tinha sido feita por mim em forma de poesia há muitos anos, depois fiz a melodia sozinha também. E foi a última música que fizemos o arranjo porque eu tinha muito preconceito com minhas composições. Depois ouvi do tecladista que é a melhor música do disco. A mulher do sacana eu fiz em casa com o violão e juro… fiz em 12 minutos. Quando faço a música com instrumento saí muito rápido. Num dia de ensaio, depois de fazermos o arranjo de A little less conversation, pedi a guitarra para o Estevan (Sinkovitz, músico) e mostrei a música. Logo em seguida, já estávamos cantando e tocando todos juntos. Uma maravilha…. eles me conhecem bem.

DISCOGRAFIA – O disco traz quatro regravações de canções famosas e de raízes bem distintas, indo de Nana Caymmi a Elvis Presley. Como e porque elas foram escolhidas?

Aretha – Desde o início, eu sabia que queria regravar Resposta ao tempoNon je ne regrette rien por serem duas músicas profundas, mas que me daríam interpretações completamente diferentes. Só não sabia se conseguiria bancar os direitos das músicas e foi nessa hora que o selo Discobertas fez toda diferença, pois ficou ao encargo dos direitos.

DISCOGRAFIA – Você encontra a influência dos seus pais neste trabalho?

Aretha – Acho que a influência dos meus pais está na vida, na temperatura, na força de expressão… que acaba recaindo sobre o trabalho. Mas concientemente é só.

DISCOGRAFIA – Seu disco anterior, inclusive, foi um tributo ao Antônio Marcos. Queria que você falasse sobre este trabalho.

Aretha – Esse trabalho foi um sonho realizado. Uma alegria sem tamanho. Eu captei junto ao empressário Jacinto Figueira os recursos e tive o auxílio luxuoso de Bocato e sua banda. Um sonho inesquecível. Gratidão eterna.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=EsJqVr34Kfk&feature=related[/youtube]

DISCOGRAFIA – Quando se fala em Aretha Marcos, é impossível não lembrar de você pequenininha nos programas infantis da Rede Globo. Quais suas lembranças mais marcantes desta época?

Aretha – Os artistas que tive a honra e o melhor destino de contracenar. Chico Buarque em O Caderno, Ney Matogrosso em Galinha d’angola e Cérebro, Maria Bethânia em Brincar de viver, entre tantos outros… Alguns me levaram a acompanhar seu trabalho por toda  a vida como Vinícius.

DISCOGRAFIA – Como era seu convívio com o Antônio Marcos? Ele sempre passou a imagem de ser um homem triste, melancólico. Era isso mesmo?

Aretha – Olha, não tenho por costume falar sobre a vida pessoal dos meus pais. Só posso dizer que meu ERA.

DISCOGRAFIA Encerrando o assunto família, recentemente a Vanusa foi notícia em vários lugares por conta dos vídeos no youtube. Qual sua visão sobre o que aconteceu? Como artista e tendo convivido de perto com esta experiência, você não tem medo desse tipo de exposição?

Aretha – Acho que em respeito a minha mãe e sabendo que quanto mais se fala nesse assunto mais machuca. Não direi nada.

DISCOGRAFIA – Passada sua fase “criança prodígio”, o que você fez. Trabalho, casamento, filhos, estudos. O que aconteceu?

Vida pessoal… não tenho interesse em falar e espero que entenda.

(Após uma explicação, ela reconsiderou a pergunta)

Me perdoe, não entendi então a pergunta. Vamos lá: Minha formação musical é pouquíssima. Fiz aulas de piano particular quando criança e desisti por que a professora batia em minhas mãos para que não ficassem muito suspensas. Estudei música em vários momentos diferentes com pessoas diferentes. Estudei com Daltony Nóbrega, Sergio Sá , André Gonçalves entre outros, desde teoria até prática. Atualmente estudo violão com Daniel Conti. 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=v3LTQCiFC3U[/youtube]

DISCOGRAFIA – Como tem sido a recepção do público em relação a este novo trabalho?

Aretha – O trabalho está sendo recebido aos poucos, pois a divulgação é pequena em vista aos grandes artistas. Mas, tive críticas maravilhosas de pessoas respeitadas e isso já é muito para mim.

DISCOGRAFIA – Já tem planos para um novo trabalho? O que e quando?

Aretha – Sim… segredo de estado!!! Rsrsrsrsrs

Para mais: www.myspace.com/oficialarethamarcos

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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