Em março deste ano, Elba Ramalho subiu ao palco montado no Merco Zero, em Recife, e cantou para um mar de gente. Cem mil pessoas estiveram lá para comemorar os 30 anos de carreira da cantora apelidada de “Tina Turner do sertão”. O motivo do apelido – que ganhou variações como “Madonna do Agreste” ou “Rita Lee da Caatinga” – não é outro se não a energia com ela carrega todo o público numa sequência de forrós, xotes, frevos e baladas românticas. Isso fica comprovado no CD e DVD Marco Zero Ao Vivo (Biscoito Fino), lançado recentemente.

Para Elba, difícil mesmo foi resumir 30 anos de carreira em um disco. “Pensei nos sucessos mais populares e nos compositores mais importantes, e consegui traduzir desta maneira”. Já o melhor de fazer este resgate, ela responde rápido com o tom de voz de mulher determinada. “É se sentir alguém que conseguiu construir um castelo. Estou passando quase 40 anos no palco e sem aquele ego chato que certos artistas têm. O barato é perceber que estou aqui.”

Aos 59 anos, Elba continua elétrica diante do público e já começa o show entoando “Anunciação”, de Alceu Valença. O pique é o mesmo, mas Elba sabe que muita coisa mudou desde que ela estreou em 1979 com o disco Ave de Prata. “O Ave de Prata é um disco forte por que traz vários compositores que ninguém conhecia. O regional já estava em minha vida, no meu canto de carpideira. Mas, se for comparar com o novo disco, é outra cantora, outra voz. (Hoje) ta tudo mais bem distribuído. Hoje, posso dizer que estou o tempo da delicadeza”, avalia a cantora por telefone.

Apesar das mudanças, a curiosidade de apresentar novos compositores não deixou de ser uma marca em seu trabalho. No novo disco, por exemplo, ela convida o cantor André Rio pra dividir “Chuva de Sombrinhas” e fortifica a parceria com Cezinha do Acordeom, com vem trabalhando desde “Balaio de amor” (2009). “Eu admiro o músico Cezinha. Depois de Dominguinhos, ele é um dos que mais me chamou a atenção”. Como se trata de uma revisão da carreira, Elba também relembra antigas parcerias convidando ao palco Zé Ramalho, Geraldo Azevedo e Alcione e não esconde o orgulho de ter sido a primeira intérprete de sucesso a gravar uma música de Lenine. Em Marco Zero Ao Vivo, ela aceitou a sugestão do pernambucano e dividiu com ele Queixa (Caetano Veloso).

Apesar do um ano de atraso, Marco Zero Ao Vivo representa uma bela homenagem à carreira e ao nome de Elba Ramalho. Ao longo desses 31 anos foram 29 discos, quatro DVDs, participações em discos, filmes e uma boa lista de prêmios. Ainda assim, quando pergunto se ela já gravou o disco da sua vida, ela responde (cantando) com um verso de Caetano Veloso: “O sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei”. E, em seguida, desdenha, “sei lá”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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