Elba Ramalho está comemorando 30 anos de carreira. De verdade, esta data se fechou no ano passado, quando fez 30 anos desde o lançamento do disco Ave de Prata. Mas nunca é tarde pra comemorar tal data e, em se tratando de Elba, comemorar com festa. Festa grande para 100 mil pessoas no Marco Zero do Recife, onde já ela já esteve tantas vezes. O show foi gravado e lançado  pela Biscoito Fino. Neste novo trabalho, Elba repassa sua carreira e seus sucessos, e já aponta para um futuro tendo ao lado o músico Cezinha do Acordeom. Por telefone, a paraibana contou sobre esta carreira de 30 anos e o futuro. Aproveitou para anunciar que pretende rever sua porção romântica. Sorte a nossa. Acompanhem.

DISCOGRAFIA – Você pode começar falando sobre como nasceu esse disco.

Elba Ramalho – Traduzir 30 anos de estrada em um CD é quase impossível. Então, fiquei pensando “o que que eu vou fazer? O que eu vou cantar?”. E fui mapeando momento por momento. Pensei nos sucessos mais populares e nos compositores mais importantes, e consegui traduzir desta maneira. Também contei com os fãs sugerindo pela internet. Claro, ficou muita gente de fora, mas acho que tem os principais (sucessos). Também queria um show que atendesse àquele público e eu tinha que ser ousada, arrojada.

DISCOGRAFIA – A direção musical deste trabalho ficou com o Cezinha do Acordeom. O que ele trouxe de novo para o seu trabalho?

Elba Ramalho – O Cezinha trouxe a juventude, a ousadia. Ele é um músico muito competente que conhece bem o meu trabalho. Fora a amizade, também tenho muita admiração por ele. Até voltei a compor e estamos com uma parceria muito forte. Eu admiro o músico Cezinha. Depois de Dominguinhos, ele é um dos que mais me chamou a atenção. O Brasil tem ótimos sanfoneiros, como o Waldonys. Esse disco é prova de que ele é muito ousado. Ele tem uma assinatura.

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DISCOGRAFIA – Este disco, comemora 30 anos desde que você estreou com Ave de Prata. O que mais mudou desde este início?

Elba Ramalho – Olha, muita coisa. O Ave de Prata é um disco que deveria ser um disco de colecionador. Sei que é um disco forte por que traz vários compositores que ninguém conhecia. O regional já estava em minha vida, no meu canto de carpideira. Se for comparar com o novo, é outra cantora, outra voz. Ta tudo mais bem distribuído. Eu acho que, tanto eu quanto outras cantoras, como a Maria Bethânia, podem se dizer que chegaram num ponto. É como um bolo que você bota no forno até ele ficar pronto. Hoje, posso dizer que estou o tempo da delicadeza.

DISCOGRAFIA – Queria que você falasse sobre os convidados deste trabalho.

Elba Ramalho – Fui a primeira cantora a gravar Lenine, logo ele não poderia faltar. Ele sempre fala que eu fui uma janela. Foi ele que escolheu (a música) Queixa. O Chico Buarque é mais contemporâneo e eu tinha que homenageá-lo. Então, escolhi o Morena de Angola e O Meu Amor, que eu gravei com a Marieta Severo para a peça A Ópera do malandro. Também tem as parcerias mais sacramentadas como o Geraldo (Azevedo) e o Zé (Ramalho). Meus olhos se encheram de lágrima quando vi o Geraldinho. Quando tem afeto, tudo dá certo. Pela Marrom, eu sempre tive respeito. Ela sempre fez belas declarações de amor. Fiquei muito honrada com a presença dela.

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DISCOGRAFIA – Apesar de conhecida pelo forró, você é uma cantora de muitos ritmos. A prova fica no acento pop de “Qual o assunto que mais interessa?”. Queria saber como você monta seu repertório e o que você gosta de ouvir.

Elba Ramalho – Depois de Qual o assunto… montei o Balaio de Amor (Biscoito Fino, 2009) pensado no Cezinha. Ele que me apresentou compositores mais contemporâneos e eu gostei de saber que eles existem. Eles têm uma linha mais romântica, mais urbana. A música pega você ou pela emoção ou pela alegria. (Explicando a hora que ouve uma música nova) “Essa música nem tem tanta letra, mas ela tem uma explosão”, e é assim. Quanto ao que estou ouvindo, acabei de ganhar o disco novo de Djavan (Ária – Biscoito Fino, 2010). Vez por outra escuto um Bob Marley, Billie Holiday, o disco novo da Bethânia. Mpb é muito bom.

DISCOGRAFIA – Você acha que já gravou o disco da sua vida?

Elba Ramalho – Sei lá (em tom de desdém). “O sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei” (cantando). A cada trabalho você diz que é o seu melhor. Gosto muito do Baioque (BMG, 1997), do Leão do Norte (BMG, 1996). Eu acabei de falar que um dos meus desejos era pegar minha parte romântica e reler.

DISCOGRAFIA – O que é o melhor de se saber com 30 anos e 30 discos de carreira?

Elba Ramalho – É se sentir alguém que conseguiu construir um castelo. Foi uma travessia dura, com muita verdade, com muita ingenuidade também. Estou passando quase 40 anos no palco e sem aquele ego chato que certos artistas têm. O barato é perceber que estou aqui. Ter cantado no Marco Zero pra 100 mil pessoas e ver gente nova conhecendo meu trabalho e agradar os mais velhos por uma simples razão: pela minha alegria, minha capacidade profissional.

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DISCOGRAFIA – Teria um momento mais importante?

Elba Ramalho – Não saberia dizer. Cada disco tem momentos bem interessantes. Me sinto uma vitoriosa.

DISCOGRAFIA – Você sempre foi uma mulher atuante e de opinião sobre o cenário político. Qual sua expectativa pra o ano de 2011 no campo político?

Elba Ramalho – A essa altura, é nessa a chuva que a gente está e tem que se molhar. Espero que ela (Dilma Rousseff) saiba fazer isso atendendo os interesses da população e não ao jogo político que tem aí. Se ela pudesse ser um Mahatma Ghandi que dizia “A terra e as riquezas devem ser de todos”, se ela conseguir coadunar esses anseios todos que nós temos, então teremos uma grande governante.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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