A primeira que o sul-africano Aquiles Priester viu uma bateria pela primeira foi aos quatro anos. Pela televisão, a imagem do jazzista Gene Krupa atrás daquele instrumento foi marcante. Vindo para o Brasil dois anos depois, passou a juventude em busca de conhecer mais sobre o instrumento. “Fiquei o tempo todo pensando como alguém poderia tocar aquilo”, comenta ele que, quando via apresentações de bandas de caranaval, ficava sentado ao lado do baterista acompanhando cada movimento. Hoje, aos 39 anos, Aquiles “Polvo”, como ficou conhecido, é uma referência no assunto. Angariando fãs ao redor do mundo, ele decidiu contar sua história no livro De fã a ídolo (Ed. Anadarco).

Escrita a seis mãos e sem pressa, a biografia nasceu quando Aquiles começou a receber recados de admiradores que, após ler o que tem no seu site oficial, queriam saber mais detalhes sobre sua carreira. “Geralmente faz livro que a pessoa morre. Eu pensei, se naquela biografia as pessoas já estavam achando legal, imagine se eu escrever tudo com os detalhes”. Ele, então, arregimentou o jornalista Antonio Carlos Monteiro, da revista Rock Brigade, para uma entrevista que levou mais de 20 horas. Pegou o material e entregou para a escritora Circe Brasil, que deu o formato final ao texto. Ele ainda acrescenta que, preocupado em oferecer um trabalho realmente de qualidade, chegou a diagramar o livro duas vezes.

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“Uma das partes mais legais foi lembrar a ingenuidade, quando pensava o que era o show business. Você vai apreendendo da forma mais errada, na hora que as coisas estão acontecendo”, conta ele com um tom de quem ainda está se acostumando com a fama. Metaleiro de carteirinha, Aquiles começou a carreira integrando uma banda de baile de Nova Iguaçu (PR), onde morava. Antes, ele treinava dublando cações do Ultraje a Rigor. Sua primeira oportunidade de tocar o que realmente queria, o heavy metal, veio em 1989, quando entrou para a Lucas Scariotys. Em seguida veio a Spartacus, Pistys Sophia, Hangar e, em 2000, tornou-se o baterista oficial do Angra.

 Apesar de fã assumido do rock mais pesado, ele não deixa de lado outros sons. “Em meus solos, toco um pouco de samba, aquele de escola de samba mesmo. Tenho até um DVD lançado no mundo todo que tem um trecho do Brasileirinho. Pelo fato de eu ser brasileiro, as pessoas já esperam essa mistura de ritmos”, explica ele que aponta João Barone (Paralamas do Sucesso), Serginho Herval (roupa nova), Charles Gavin (Titãs) e Deen Castronovo (Journey) como diferentes referências.

Recheado de fotografias, De fã a ídolo traz uma imagem de Aquiles com o filho Arthur, de três anos sentado no kit de bateria, com a legenda “Arthur se preparando para o futuro”. Esse é o desejo do paizão? “Eu não quero nada. Como nessa fase o filho se prende muito à figura do pai, é natural que ele queira fazer igual. Mas, juro que não estou forçando. Sempre que você faz uma coisa e é bem sucedido, a cobrança para os filhos é grande. De fato, tem que ser uma coisa que ele queira fazer. Quero mesmo que ele seja feliz”, afirma o músico que também é pai de Juliana, 11, pianista aprendiz.

Agora, Aquiles comemora o reconhecimento que vem recebendo da crítica e dos fãs. “Recebi uma notícia de que tinha sido indicado em duas categorias na revista Modern Drummer, na votação dos melhores nomes, e em janeiro estou indo para um workshop em Los Angeles, num dos mais importantes institutos de música do mundo. Isso é surreal”. Ainda assim ele sabe que, no Brasil, seu som ainda é pouco reconhecido. “Mesmo sendo uma coisa que ainda é underground, que nunca esteve na grande mídia como o sertanejo universitário, o metal é uma coisa muito verdadeira pela quantidade de fãs. O Brasil virou rota obrigatória tanto dos clássicos, quanto com os mais novos”, aponta. “É importante para o pessoal saber que existe outro tipo de música no Brasil e que também é bem feita”.

DE FÃ A ÍDOLO

Resenha: Biografia do baterista Aquiles PriestER, de Circe Brasil, baseada em entrevista a Antonio Carlos Monteiro. Ed. Anadarco. 162 páginas.

Preço médio: R$35.

À venda pelo site: http://www.aquilespriester.com/

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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