A inspiração provocada pelo contato com obra de Chico Buarque parece não ter fim. Hoje mais escritor do que compositor, o carioca de olhos azuis tem 45 anos de músicas apresentadas em disco, peças de teatro, cinema e televisão. E, não por acaso, o valor desta obra já mereceu homenagens de medalhões, como Gal Costa, Ney Matogrosso e Cida Moreyra, e de novos artistas, caso dos estreantes do Seu Chico.

Criado em 2006, o grupo recifense lançou seu primeiro registro recentemente, o CD e DVD Tem Mais Samba. Gravado ao vivo em 2009 na casa carioca Estrela da Lapa, o trabalho exibido pelo Canal Brasil em 2010 traz como destaque o piano eletrizado de Vítor Araújo. “A banda partiu da ideia de um estudo da obra do Chico com jovens músicos e compositores que viram ali novos caminhos harmônicos, novas formas de rima, as formas de Chico encarnar o personagem. Coisas que todo mundo sente necessidade como compositor”, explica Vítor que diz ainda que hoje não vê mais o Seu Chico como uma banda de homenagem, mas sim com uma linguagem estética própria. “Quando vimos isso, resolvemos gravar o DVD”. O lançamento só aconteceu agora por conta dos outros compromissos dos músicos.

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Além de Vítor, o Seu Chico conta com a presença de Tibério Azul (vocal), Bruno Cupim (percussão), Negro Grilo (percussão), Rodrigo Samico (violão 7 cordas), Amendoim (percussão) e Vinícius Sarmento (violão), todos, como adianta o material enviado para a impressa, com menos idade do que o próprio Chico tem de samba. E foi abusando do vigor juvenil que eles pinçaram um repertório amplo que passeia por várias épocas do compositor de Roda Viva e promove encontros inusitados. É o caso de João e Maria, que ganhou introdução de La valse D’Amelie, do francês Yann Tiersen, trilha de O fabuloso destino de Amélie Poulain. Tem Quem te viu, quem te vê misturada com Paranoid Android, do Radiohead (tema já registrado no trabalho de estreia de Vitor, TOC), e Samba do Grande Amor com Quem me deu foi Lia. O disco passa ainda por Brejo da Cruz, Geni e o Zeppelin e Jorge Maravilha (assinada por Julinho da Adelaide, pseidônimo de Chico durante a ditadura).

Durante toda a entrevista realizada por telefone, Vitor não economiza ao elogiar Chico Buarque e suas composições. “Aquelas formas rítmicas, as formas da música nordestina. Imagine uma banda pernambucana já com um olhar de que fosse boa e a união com o Chico, com uma estética pop e uma formação instrumental interessante”.

 

Apesar do vasto material disponível, o disco traz apenas nove faixas (no DVD são 17). Vitor explica, “foi o Tibério quem mais se dedicou a isso. Nos ensaios fizemos uma seleção de 20 músicas que a gente achava que tinha uma característica muito forte. Grande parte foi por isso. Muitas já estávamos calejados no arranjo e outras que foram pensadas por uma unidade nos shows, que o público respondeu melhor”.

Se o disco ainda é pouco conhecido pelo grande público, pelo menos um grande presente o Seu Chico já recebeu: um convite para conhecer o compositor que dá nome à banda e uma pelada contra o Politheama, time de futebol montado por Chico. “Ele foi muito legal, mas apanhamos terrivelmente”, lembra Vítor sem decepção. Registrado nos extras do DVD, o encontro entre o Seu Chico e seu homenageado maior serviu como uma prévia para Tem Mais Samba. “A gente sabe que levar o Chico pra assistir o show seria um tumulto, logo não sei o que ele achou”. Serviu também como combustível. “Planejamento de carreira a banda nem tem, mas sei que tem muita gente querendo ouvir. Temos pretensão de fazer show pela Europa. É muito legal fazer homenagem a um artista que não só ta vivo como que ainda lança trabalho”, comemora Vítor.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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