Se uns acham que Nando deu um tiro no pé, para outros o disco é corajoso e festivo. “Cara, tô cagando pra repercussão. Faço as coisas pra me satisfazer, sinceramente”, manda ele em tom nada ameno. Nando conta que a seleção das faixas do Bailão foi baseada em suas próprias memórias, canções que ele gostava de ouvir, mais sugestões dos Infernais, banda que acompanha já há alguns anos. Numa avaliação faixa-a-faixa, ele diz que Vênus, hit setentista do Shocking Blues, é “do caralho”; Chorando se Foi, lambada de sucesso da banda Kaoma, “é maravilhosa”; Lindo Balão Azul “retrata, resume tudo. É épica e infantil é o cara que acha que essa é infantil”; já Você não vale nada mas eu gosto de você foi sugestão do guitarrista Carlos Pontual e Nando confessa que não consegue cantá-la no show. Para gravá-la, diz ele, teve que juntar com Severina Xique Xique, forró lendário do mestre Genival Lacerda. “Eu faço parte de uma banda e nós temos uma relação tão boa e desenvolvida que, claro, eu ouço opiniões deles sobre o repertório. Acatei”, explica e complementa, “todas elas têm melodias que eu penso ‘queria ter feito essa música’”.
Quanto ao Ceará, suas primeiras lembranças são curiosas. “Canoa Quebrada eu fui quando tinha uns 15 anos e fumava uns 15 baseados por dia”. Voltando aos palcos, ele aproveita e faz uma ressalva: “eu gosto de tocar em lugar pequeno”. Assim sendo, como foi a gravação do Bailão no Carioca Club (SP)? Dá pra lembrar a reação das pessoas diante do repertório? “Posso confessar, na verdade eu estava muito concentrado na gravação. Tinha muita coisa sem decorar, em inglês então… Não posso dizer que eu tive uma percepção da reação da plateia”. Gravado nos dias 10 e 11 de agosto de 2010, a maior parte do que se vê no DVD foi tirado da segunda noite que teve um público maior. Um dos motivos para a preferência pelos shows mais intimistas está na sua confessa timidez. “Não gosto de falar ‘e aí galera’. Sou tímido pra caralho, por isso tenho que tomar duas ou três doses de whisky antes de subir no palco. Parece um contra senso, mas eu sou”.
Boa parte das influências musicais de Nando Reis foram reveladas ao longo dos seus 30 anos de carreira e, mais ainda, neste Bailão do Ruivão. Mas, claro, nem tudo está ali. Se revelando um refinado conhecedor dos sons mais antigos (os melhores, verdade seja dita), o bardo começa anunciando que já tem duas semanas que só ouve Janis Joplin e aproveita pra colocar a voz rasgada e sofrida da diva pra cantar Move Over no seu toca discos (LP mesmo). “Tava ouvindo antes de ligar pra você. O (disco) Kozmic blues é o melhor”, diz depois de soltar um suspiro de quem se transporta pra outros mundos quando ouve os berros de Janis. “O refrão do Segundo Sol é totalmente inspirada em Kozmic Blues”, revela antes de fazer uma declaração de amor à roqueira falecida há 40 anos: “ela é a não bela mais linda que existe”.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=m3XYcV1JpFA[/youtube]Para além de Janis, Nando Reis viaja no tempo quando bota o prato da sua vitrola (mesmo) pra girar e pára principalmente nas lendas da soul music. “Acabei de ouvir do Donny Hathaway o disco Live (1972), e depois Bill Withers. Também estava ouvindo o Curtis Mayfield, conhece?”. Sim. “Põe na sua lista o disco Curtis Live (1971). Quando eu ouvi que ele morreu (em dezembro de 1999) eu chorei. Chorei com ele e com o Bob Marley (em maio de 1981)”. E aumenta o volume agora com Janis cantando Try. “Meus vizinhos vão me expulsar…” Mais alguma sugestão, Nando? “Você já ouviu Neil Young?”. Pouca coisa. “Qual é sua idade?”. 31. “Pois eu tenho 131. Faça o seguinte ouça Everybody knows this is nowhere (1969) e After the gold rush (1970) e esquece tudo que eu falei”.