Está ficando difícil decidir pra onde ir numa noite de sábado em Fortaleza. Além dos forrós, barzinhos, boates e restaurantes, no último sábado (19), três shows curiosos, entre novidades e nem tanto, passaram por aqui. No BNB teve a voz aguda de Tetê Espídola, no aterrinho o samba envenenado do Bangalafumenga e no Theatro José de Alencar um duo de vozes e violões formado por Zé Renato e Renato Braz. Optei pelo último e admito que foi uma ótima pedida.

A parceria foi inaugurada em 2010 com o disco Papo de Passarim, carimbado com o selo do Canal Brasil, um dos mais belos lançamentos do ano. E foi basicamente em cima do disco que os Renatos montaram o delicado show que maravilhou um TJA à meia lotação. Logo na primeira música, Ponto de encontro (Zé Renato/ Milton Nascimento), ficou claro que os próximos momentos seriam emocionantes. No palco, dois intérpretes primorosos donos de vozes igualmente emocionadas, agudas e afinadas a um ponto quase inacreditável, se acompanhavam do baixista Sizão Machado, que já tocou ao lado de Chet Baker, Elis Regina, Paul Winter e muitos, muitos outros, para desfilar um repertório marcado pelo mais excepcional bom gosto.

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Mas não pense que foi uma sequência de virtuosismo, perfeição e pedantismo musical. Soltos, vestidos de forma simples e entrecortando as canções com rápidas brincadeiras, eles ganharam o público, principalmente nos momentos em que o repertório fugia do disco. “Tenho uma ligação muito forte com Fortaleza. Foi neste palco que o Boca Livre fez um dos seus primeiros shows, acompanhando o Edu Lobo”, relembrou Zé Renato antes de cantar Toada, do seu quarteto Boca Livre. Mais calado, Renato Braz aproveitou seu momento solo para cantar a delicada Anabela, registrada em seu primeiro disco.

Outra surpresa foi quando eles relembraram Viver e reviver, versão de Fausto Nilo para Here, There and Everywhere da dupla Lennon e McCartney. A canção, lançada por Gal Costa em 1987, foi o mote para a entrada do poeta cearense, acompanhado do seu fiel escudeiro Tarcísio Sardinha. Se contrapondo aos passarinhos, Fausto impôs seu canto torto e cheio de verdade em duas parcerias com Zé Renato, Todo mundo quer um bem e A janela. Convidado para participar do disco O Trovador, homenagem da prefeitura de Fortaleza ao compositor Evaldo Gouveia, Renato ainda entregou, “semana que vem estarei aqui novamente pra cantar na Praia de Iracema”. Acho que era pra ser surpresa.

A apresentação durou pouco mais de uma hora e deixou pra trás uma sensação de paz, tranquilidade e satisfação. Ao que parece, muitas pessoas ficaram impressionadas com Renato Braz, o paulista de jeito tímido, que se dividiu entre violão e percussão ao longo do show. Para muitos, aquela era a primeira vez que ouviam sua voz privilegiada. Certamente a oportunidade foi das melhores.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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