Reconhecido como um gênio da música mundial, David Bowie tem no Brasil um nome mais famoso que sua obra. Transgressor, inovador, visionário, ele é autor de uma obra longa, plural, mas bem menos ouvida do que merecia. Em terras tropicais, por exemplo, seu maior sucesso fica com a música Let’s dance (1983), quando, em uma de suas muitas descobertas musicais, ele caiu na pista de dança com uma sonoridade típica dos anos 80. Não por acaso, este foi também o único grande sucesso comercial de sua discografia, iniciada em 1967. Vendas irregulares à parte, o grande trunfo de Mr. Bowie é sua performance ao vivo. Isso fica claro na biografia Bowie (Benvirá), escrita pelo jornalista Marc Spitz. Transitando entre o investigador e o fã, Sptiz construiu um texto cronológico, partindo da infância simples do ídolo em Brixton, Londres, até os dias atuais, quando o ídolo entrou em reclusão voluntária após sofrer um infarto na Europa, em 2004. Pra ter uma ideia, seu último contato com a civilização foi quando aceitou o convite pra dublar o filme Bob Sponja (atendendo um pedido da filha), em 2006,  e no ano passado quando compareceu a alguns poucos eventos de divulgação do filme Moon, dirigido por seu filho Duncan. Fora isso, somente a vida de dono de casa, o que muito se diferencia do artista de outrora. Como contado por Spitz, desde que decidiu sair de casa na adolescência para ver o que o mundo tinha a lhe oferecer, David Robert Jones viveu o que podia e não podia da trilogia sexo & drogas & rock’n roll. Apesar de ser a única biografia do cantor disponível no mercado brasileiro, Bowie deixa a desejar em alguns pontos, principalmente quando o autor resolve se mostrar mais do que deve. Da metade do livro em diante, Marc Spitz decide revelar momentos particulares que o fizeram virar fã de Bowie, o que acrescenta bem pouco a quem quer saber sobre a vida do artista. Também, a narrativa presa aos fatos em muitos momentos se torna enfadonha, o que é um desperdício quando se trata da vida de um Camaleão do Rock. Este título, por sinal, foi dado pela constante inventividade do cantor, que em sua carreira passou pelo, rock, dance, soul, funk e outros estilos. Como cada um veio e o que cad um deixou, acaba passando batido em nome dos velhos e eternos argumentos de “ele criou…”, “ele foi o primeiro a…” ou “sem ele, não teria…”. No entanto, é notório que, até por ser um fã, Spitz conhece bem saobre a vida e a carreira de Bowie, trazendo na biografia uma série de detalhes curiosos, resenhas de discos e shows, e entrevistas relevantes de amigos, parentes e pessoas que trabalharam com o ídolo em cada fase de sua carreira. Ou seja, recluso ou não, David Bowie continua sendo uma figura curiosa, dono de uma história rica, ainda em construção (ou alguém acha que ele não vai mais gravar?) que ainda vai ser recontada muitas vezes. Até lá, Bowie, a biografia, funciona como um caminho para os iniciantes.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles