Quando Michael Jackson morreu Quincy Jones chegou a declarar que era um dos maiores artistas com quem teria trabalhado. Em seguida voltou na opinião e disse que Michael não era nada demais. Bom, enfim… A questão é que, quando Michael Jackson lançou o maravilhoso disco Off the wall, em 1979, o nome de Quincy Jones vinha nos créditos como produtor. Também foram comandados por ele os multiplatinados Thriller e Bad, nada menos que os dois discos de maior vendagem da história da indústria fonográfica. Em 1984, Michael e Lionel Richie escreveram We are the world para uma campanha milionária que lançou os olhos para a fome na África. Quem regeu o coro de 45 estrelas que canta a balada? Quincy Jones! O homem também esteve à frente de muitas trilhas sonoras hollywoodianas onde se inclui o filme A cor púrpura. Com tantas estrelas no peito, não seria de se estranhar que ele comemorasse seus 50 anos (!) de carreira e os 78 de vida com um disco reunindo alguns nomes que fizeram parte desta história. Inovador e vanguardista, Quincy preferiu apontar para novos (velhos) caminhos em Soul Bossa Nostra (Interscope/ Universal) e foi aí que ele deu com os burros n’água. Marcado pela onipresença de artistas do hip hop, o disco soa inssosso e, principalmente quando recria clássicos como Give me night (George Benson) e P.Y.T (Michael Jackson), chega a ser vergonhoso. A primeira, lançada por George Benson, ganha vocais de David Banner (Hulk!?) e Jamie Foxx, e a segunda, lançada por Michael Jackson, ganha vocais de T-Pain e Robin Thicke. São 15 faixas onde Quincy usa e abusa de teclados, arranjos pouco inspirados e datados. De bom, a divina Amy Winehouse em It’s my party (gravada originalmente por Lesley Gore, 1963) e John Legend na balada soul Tomorrow, que ganhou uma voz infantil na introdução que lembra muito as músicas de Michael Jackson. No meio da legião de rappers presentes, todos repetindo os mesmos clichês, quem se sai melhor é o mau garoto Snnopy Dogg em Get the funk out off my face, pelas referências ao soul clássico. De resto, pouco merece ficar a posteridade. Se a história de Quincy Jones merece todo o respeito, seu último disco, infelizmente, não.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles