A música brasileira começou a ganhar ares de nacionalismo no finzinho do século XIX. Com a ajuda de Chiquinha Gonzaga, Catulo da Paixão Cearense e Pixinguinha, ela começou a se afastar das tradições europeias para absorver o que ela tinha de tropical e que ainda não havia sido explorado. A consequência foi o surgimento de gêneros verde e amarelos como o choro, o samba e a bossa nova. A história é bonita, heroica e bem pouco conhecida. Já pensou se estudássemos Ernesto Nazareth da mesma forma que estudamos Tiradentes, por exemplo? Caso a sugestão seja aceita, segue aqui uma sugestão de material didático. A caixa 100 anos de Música Popular Brasileira faz um resumo valioso, em quatro CDs duplos, do que foi o período entre as raízes do chorinho e a popularização do samba pelas mãos de Beth Carvalho, Elza Soares e Clara Nunes. Lançado pelo selo Discobertas, do “arqueólogo musical” Marcelo Fróes, a coleção é composta por oito LPs lançados em 1975 com gravações inéditas, realizadas na Rádio MEC do Rio de Janeiro. Elas fazem parte dos registros do programa MPB 100 Ao Vivo, produzido e transmitido pelo Projeto Minerva aos sábados, a partir das 13h45, para 960 emissoras de rádio. Foram 23 programas, com cerca de meia hora, que tinham a pretensão, segundo o pesquisador Ricardo Cravo Albin (em texto publicado junto com os discos), de “mostrar um pouco da história da evolução cronológica da Música Popular Brasileira nesses últimos 100 anos”.

Volume 1

Fazendo um panorama da produção musical embrionária, apresentada no final do século XIX e início do XX, o box começa trazendo o mestre Altamiro Carrilho e seu regional apresentando peças instrumentais de Ernesto Nazareth (Brejeiro), Pattápio Silva (Primeiro amor) e Pixinguinha (Ingênuo), entre outros. Também presente, o modinheiro Paulo Tapajós (pai de Paulinho Tapajós, compositor de Andança) interpreta, com ar de especialista, canções de Catullo da Paixão Cearense.

Volume 2

O segundo disco começa a entrar nos primeiros momentos do samba, quando a herança dos terreiros ainda era quem ditava o ritmo. De Donga e Mauro de Almeida, Paulo Tapajós interpreta a inaugural Pelo Telefone. Paulo Marquês traz, de Noel Rosa, a enfezada Com que roupa, enquanto Odete Amaral desfila classe sobre Taí, clássico imortal da divina Carmen Miranda.

Volume 3

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Saindo do terreno do samba de terreiro, o terceiro volume adentra nos auditórios das grandes vozes do rádio. Gilberto Milfont duela com a saudosa Zezé Gonzaga (vídeo) e com as Gatas ao longo de marchinhas clássicas do mestre Lamartine Babo. Pra encerrar, o eterno Cauby Peixoto, com a voz no auge do primor, adoça Lábios que eu beijei  e Ave Maria do Morro antes de receber Marlene para um dueto.

Volume 4

Cauby e Marlene voltam à cena e derrapam nas letras de sambas clássicos de Dorival Caymmi. O que não compromete o valor do registro, que só entrega a pouca intimidade com o repertório. Mais na frente, ninguém menos que o grande Luiz Gonzaga puxando seu fole seguido pela velocidade falada de Ademilde Fonseca cantando Brasileirinho e Delicado. Pra encerrar, Jackson do Pandeiro faz um pot-pourri de forrós.

Volume 5

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Pulando alguns anos, a coleção chega à sofisticação da Bossa Nova e já começa com sua porção mais classuda. Johnny Alf divide com Doris Monteiro a responsabilidades sobre Rapaz de bem, Eu e a Brisa e A banca do distinto. Tem ainda a voz trôpega de Lúcio Alves em Foi a noite e Alaíde Costa afinando o Desafinado.

Volume 6

Repetindo o time do volume 5, o volume 6 começa com Alaíde (Lobo bobo), Alf (Influência do Jazz) e Lúcio Alves (Fim de noite). Pery Ribeiro entra no time e interpreta as primeiras composições de Chico Buarque (Carolina e A Banda) e Caetano Veloso (De manhã). Ao lado de uma esquecida Rosana Toledo, Pery ainda apresenta pot-pourris de Gilberto Gil, Jorge Ben e Milton Nascimento.

Volume 7

O sétimo disco começa com um susto. É a voz do divino Cartola acompanhado apenas do seu violão em quatro sambas de lavra própria, entre eles, o cortante Acontece. O mestre Roberto Silva pinta e borda na coleção que entra na produção mais popular do samba. Aí se inclui ainda Elza Soares em Diz que fui por aí, Beth Carvalho em pot-pourri de Nelson Cavaquinho e na boêmia Minha madrugadas.

Volume 8

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Ainda sobre o samba, o volume 8 encerra esse documento sobre a música brasileira fazendo um voo sobre o samba, dando destaque ao compositor Paulinho da Viola, que também aparece cantando. Se Elza Soares apresenta Sei lá, Mangueira, que rendeu a Paulinho o título de vira casaca por homenagear outra escola que não sua Portela, Beth Carvalho resolve o assunto com Foi um rio que passou em minha vida.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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