Por Elisa Parente (elisa@opovo.com.br)

Um local com vista para o mar, um por do sol radiante, a brisa da praia e a companhia de amigos. Este parece ser o cenário perfeito para ouvir o som do músico havaiano Jack Johnson. Natural de Honolulu, o cantor de 36 anos começou a carreira no mar, aprendendo a pegar onda com o pai. Já como surfista profissional, viajou o mundo, mas aos 17 anos sofreu um acidente que o deixou afastado da praia.

Antes da paixão pela música se concretizar, o havaiano investiu nos filmes. Aos 18 anos, quando se muda para a Califórnia, passa a estudar cinema. Lançou três documentários (Thicker Than Water, A Broken Down Melody e September Sessions), todos sobre o mundo do surfe. Foi ao compor as trilhas de seus próprios filmes que Jack Johnson chamou a atenção de ninguém menos do que o músico Ben Harper, que o indicou para uma gravadora.

Hoje são dez anos de carreira, mais de 20 milhões de discos vendidos e milhares de fãs pelo mundo. Ainda assim, Jack Johnson é um cara tranquilão. Ativista ambiental, grava seus discos em estúdios movidos a energia solar, doa os lucros de suas turnês para ONGs e é contra o uso de materiais plásticos. Casado com Kim Johnson, sua parceira nos projetos sociais que desenvolve, Jack é pai de três filhos, cuja identidade ele prefere preservar. Em sua segunda passagem pelo Brasil (a primeira foi em 2009 com shows em São Paulo e Rio de Janeiro), Jack Johnson convidou o amigo e parceiro no selo Brushfire Records, G. Love, para abrir seus shows.

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A entrevista aconteceu por telefone, na última quinta. A assessoria do músico avisou que teríamos apenas 10 minutos, mas bem humorado e dono de uma voz calma, Jack Johnson respondeu de forma generosa e avisou que, onde tiver ondas, ele vai surfar.

O POVO – Você já disse que a música brasileira tem grande influência no seu trabalho. Gostaria de saber de qual maneira e se pode citar alguns destes artistas.

Jack Johnson – Claro, eu provavelmente direi os nomes de forma errada (risos). O som que adoro é a combinação de violão, percussão e instrumentos percussivos acústicos, com bastante soul e funk. Fui criado ouvindo muita música acústica, meus amigos tocando percussão, sons de artistas de outros lugares. E isso é similar à minha experiência com o Brasil, onde a música tem bastante espaço fora do país. O público é conhecido por não só ficar parado assistindo, mas por participar bastante do show, parecido com o que acontece aqui. Gosto muito disso na música brasileira. Adoro as coisas do Jorge Ben? É assim? Gosto de coisas mais antigas como Carlos Jobim? (se referindo a Tom Jobim), também o Seu Jorge é alguém com quem meu produtor está trabalhando bastante, amo a música dele.

OP – Mesmo com a agenda comprometida, você acha que terá tempo para surfar? A prancha virá junto?

Jack – Sim, eu vou surfar, mas geralmente me encontro com amigos e pego as pranchas deles emprestadas. Porque não dá pra sair com a prancha por aí, é algo a mais para carregar. Mas vou encontrar alguns amigos e, se tiver onda, eu vou surfar.

OP – Sabemos que na sua turnê os lucros serão revertidos para a caridade. Que organizações são estas?

Jack – No Brasil trabalharemos com a Surfrider Foundation, uma escola de surfe para crianças. Nós doamos para este grupo na última vez (quando veio tocar no Brasil em 2009). A Surfrider Foundation é a que trabalharemos desta vez no Brasil. 100% do lucro da turnê irá para caridade. O restante que não usarmos, nós guardaremos para que possamos doar no futuro. Ano que vem e nos anos seguintes, devemos ainda enviar subvenções para grupos brasileiros. Nós percebemos que, melhor do que dar todo o dinheiro de uma única vez, era melhor fazê-lo de forma responsável. Nós colocamos o dinheiro de lado e entregamos a uma fundação de forma que ela possa usar esse dinheiro no futuro.

OP – Como preparou o repertório do show? Iremos ouvir canções antigas, covers?

Jack – Sim, um pouco de tudo. Estamos tocando várias músicas do novo disco (To The Sea). Nós somos um pouco babões, gostamos de agradar o público. Quando viajamos geralmente conversamos com as pessoas e procuramos saber qual é o álbum mais popular ali. Então vamos tocar muito das coisas novas, mas muito das coisas antigas também. E com relação aos covers, ainda não decidimos nada. Mas a banda vai se reunir e decidir. Talvez um pouco de Sublime e White Stripes.

OP – Você já aprendeu algumas palavras em português?

Jack – Ahm, eu aprendi mais da última vez. Aprendi a dizer “boa noite galera” (risos). E eu sei dizer “oi linda”. Mas eu não deveria dizer isso, só para a minha esposa (risos).

OP – É verdade que você pretende conhecer a presidente Dilma?

Jack – Acho que alguém colocou essas palavras na minha boca, porque ouvi bastante isso hoje (quinta), mas eu não me importaria, seria legal. Ouvi dizer que ela é a primeira presidente mulher, então envio meus parabéns para ela.

OP – O álbum To The Sea foi inspirado no seu pai e em você sendo pai também. Como você encoraja os seus filhos a seguir os teus exemplos do seu pai?

Jack – É, boa pergunta, porque meu pai (o campeão de surfe Jeff Johnson, que faleceu em agosto de 2009) era alguém que não estava sempre em público, gostava de estar longe de multidões. Para mim foi uma mudança interessante quando comecei a tocar música ao vivo e as plateias começaram a crescer. Era algo completamente novo para mim. E agora é um desafio ensinar meus filhos o que está acontecendo aqui, porque as pessoas chegam para bater foto com o pai, eles vêem as pessoas cantando as letras das minhas músicas. Eu tento explicar da melhor forma que o pai escreve músicas sobre amor e as pessoas se atraem pelo amor. E, sabe, algumas adolescentes se confundem e eles pensam que elas estão atraídas pelo pai, mas é da música que elas gostam e as músicas que o pai escreve que atrai todas essas pessoas e não eu.

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OP – Eles já demonstraram algum talento artístico?

Jack – Sim, eles adoram tocar. Temos uma casa muito musical. Tem piano, vários instrumentos espalhados pela casa. Então eles ficam o dia todo batucando nas coisas, assoprando nas flautas, se divertindo. Eu não pressiono para que eles façam nada sério.

OP – Você tem muitos fãs em Fortaleza, gostaria de enviar uma mensagem para eles?

Jack – Sim, quero. Obrigado (em claro português) por todo o apoio. Nos sentimos muito sortudos de poder ir tocar aí. A gente sabe que não poderia chegar até aí se as pessoas não se interessassem e fossem ao show. E nós vamos nos divertir muito e o público irá também. Obrigado. Tchau.

Discografia:

> Brushfire Fairytales (2001)

> On and On (2003)

> In Between Dreams (2005)

> Sleep Through The Static (2008)

> To The Sea (2010)

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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