Do Uol

Sobre Bob Dylan, arrisco dizer, já foram escritos mais livros do que sobre qualquer outro músico nascido no século 20. No momento em que se comemora o seu 70º aniversário, cinco novos volumes juntam-se à biblioteca. Apenas um deles, mas justamente o mais importante, está saindo no Brasil.

Trata-se de “No Direction Home – A Vida e a Música de Bob Dylan” (Larousse, 784 págs., R$ 90), de Robert Shelton. Publicado originalmente em 1986, o livro acaba de ganhar uma segunda e definitiva edição. Bob Dylan tinha 20 anos, em 1961, quando Shelton, então crítico do “New York Times”, o ouviu cantar num pequeno clube no Village, em Nova York. Impressionado com o que ouviu, escreveu uma crítica no jornal. Este texto, hoje histórico, é considerado fundamental para a carreira do músico. Tornou-o conhecido e levou a gravadora Columbia a assinar um contrato para a gravação do seu primeiro LP.

Shelton virou amigo de Dylan. Entrevistou-o dezenas de vezes ao longo de uma década. Dedicado a escrever sobre o artista, batalhou durante anos para conseguir publicar o livro do jeito como imaginava. A obra acabou saindo em 1986, com muitos cortes em relação ao texto original. Esta primeira edição nunca foi publicada no Brasil.

Agora, um calhamaço de quase 800 páginas faz justiça ao projeto de Shelton, morto em 1995, aos 69 anos. “No Direction Home” é o mais detalhado relato sobre os primeiros anos de Bob Dylan, a infância, as influências musicais, os primeiros passos em Nova York, os primeiros romances (com Suze Rotolo, Joan Baez), a guinada na carreira em 1966.

Não a toa, Martin Scorsese batizou o seu ótimo documentário sobre os primeiros anos da carreira de Dylan com o nome do livro de Shelton. “No Direction Home”, o filme, lançado em 2005, concentra-se justamente neste episódio-chave da carreira do músico: a decisão de largar o violão e adotar a guitarra elétrica, deixando para trás o posto que o consagrara, como cantor de protesto.

Vício em heroína
Na véspera do 70º aniversário foi divulgada uma entrevista inédita de Robert Shelton com o músico, realizada em março de 1966, na qual Dylan admite ter usado heroína e pensado em suicídio. O relato feito por Dylan a Shelton dentro de um avião, logo depois de um show, não foi incluído em seu livro. Por duas horas, o músico falou sem parar e revelou que, no início dos anos 60, viciou-se em heroína, mas conseguiu abandonar a droga. Dylan também disse nesta entrevista que contemplou a ideia de suicídio. “Admito ter pensado em suicídio, mas superei esta coisa”.

A conversa de duas horas foi sucedida por outra, no dia seguinte, de uma hora e quarenta minutos. Dylan, então já uma estrela, fala de sua carreira, do seu trabalho como compositor e da insatisfação com as pessoas que estavam se aproveitando dele. Segundo a BBC, um filme sobre estas duas gravações de Shelton com Dylan está em fase de produção.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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