Ainda é cedo para avaliações definitivas, até porque Bob Dylan segue ativo e produtivo, mas a data redonda – 70 anos, comemorados nesta terça-feira (24) – tem estimulado avaliações sobre o tamanho do seu legado artístico.

A mais entusiástica veio do insuspeito jornal “The Independent”, um dos mais importantes da Inglaterra, terra dos Beatles e dos Rolling Stones, para quem o aniversariante é “a mais importante figura da história da cultura pop”.

O jornal enumera 70 motivos para embasar esta afirmação. As canções clássicas que compôs, como Like a Rolling Stone, Mr. Tambourine Man e Blowin´in the Wind, representam dez pontos da lista. Não menos importante é o fato de ter inventado uma espécie de subgênero musical, o folk-rock, até hoje com discípulos.

Igualmente notável é a sua influência sobre outros artistas. O jornal britânico cita os Beatles (a quem apresentou não só a música, mas também a maconha), os Byrds e Tom Waits, mas a lista completa preencheria um volume do tamanho do “Houaiss”.

De todos os argumentos em defesa desta tese polêmica, um, muito bem-humorado, faz pensar: “Porque foram necessários seis atores para representá-lo no filme ‘I´m Not There’ (Eu Não Estou Lá), de Todd Haynes.”

Quem viu o filme deve se lembrar que entre os atores que encarnaram Dylan na tela havia um menino negro e, não menos surpreendente, a bela Cate Blancett. Veste perfeitamente em Bob Dylan a famosa frase de Mario de Andrade: “Eu sou trezentos, sou trezentos e cinqüenta”.

Ao longo de 50 anos de carreira, o músico nunca deixou de se reinventar. Tanto nos momentos de maior quanto de menor criatividade, a sua obra jamais se repetiu. Por conta desta inquietação permanente, seus fãs sofrem nos shows. O músico sempre apresenta novos arranjos para as velhas canções, de maneira a deixá-las irreconhecíveis.

Na década de 60, Dylan estava no palco próximo a Martin Luther King quando ele proferiu o famoso discurso “Eu tenho um sonho”. Várias de suas canções ganharam o status de hinos do movimento pelos direitos civis naquela década. Sua obra deste período já seria suficiente para gravar um nome na história.

Mas, como mostrou Martin Scorsese no documentário “No Direction Home”, Dylan não estava nem aí para o que pensavam dele. Trocou o violão pela guitarra elétrica e deu início a uma nova e bem-sucedida fase de sua carreira.

Ao longo dos anos, Dylan já se arriscou como romancista, autor de livros para crianças, ator, cineasta e, até, artista plástico, além de um memorialista brilhante, como se viu em “Crônicas – Volume 1”

Por tudo isto, e muito mais, creio que o “Independent” acerta em sua avaliação de Bob Dylan.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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