O movimento é sempre o mesmo. O Brasil gera, depois esquece. Em seguida o estrangeiro descobre e resgata. Só então nós voltamos a dar valor. Com o fortalezense Eduardo Lincoln Barbosa Sabóia, nascido em 31 de maio de 1932, não seria diferente. Após trabalhar como jornalista em sua terra natal, mudou-se aos 19 anos para o Rio de Janeiro para tentar a vida como músico. Começou como baixista, até que assumiu o piano e o órgão eletrônico. E foi aí que ele se consagrou como o Rei dos Bailes.

Não é a toa que foi este o nome dado ao box lançado recentemente pelo selo Discobertas. Reunindo os seis discos lançados pelo músico entre 1960 e 1966, ela traz um apanhado de sucessos nacionais e internacionais da época, além de composições próprias, tudo com foco das melhores pistas de dança do Brasil. Lançados originalmente pela Musidisc, da qual foi diretor artístico, os discos de O Rei dos Bailes tiveram o som recuperado a partir das fitas originais. As capas originais e os textos escritos à época por Sebastião Fonseca também foram recuperados.

No repertório, jazz, samba e bossa nova, tudo com um forte acento dançante que conquistou as pistas inglesas no início deste século. Enquanto os DJs europeus iniciaram uma garimpagem eletrônica da obra do pianista, o selo inglês Whatamusic.com relançou em Cd o disco Ed Lincoln, de 1968. O Amor e a rosa, Mulher de trinta, Influência do jazz são algumas das músicas que encantaram os ingleses e que estão presentes na caixa, com destaque para arranjo soberbo da Aquarela do Brasil. Por ali, infelizmente não citados numa ficha técnica, também estão muitos dos grandes músicos brasileiros, como Emílio Santiago, Silvio César, Tony Tornado, Durval Ferreira e Wilson das Neves.

“Os músicos eram catados a dedo”, confirma o músico Orlandivo, também presente naquelas sessões. Ele, que inclusive co-assina algumas canções como D’Orlan (por questões contratuais), conta que a competição era grande, mas não havia páreo para a banda de Ed Lincoln, que sempre procurava meios para cada músico se desenvolver sozinho. “Por isso as pessoas eram boas. Não tinha ensaio, era só dar o tom”.

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Orlandivo lembra que outros grupos de baile esperavam os lançamentos de Ed pra saber o que ele estava fazendo. “Por que era garantia de sucesso”, lembra, apesar de confessar que não era tanto dinheiro que entrava. “Não era tanto dinheiro assim, mas deu pra fazer um pé de meia. Mas olhe, além de eu gostar de fazer, ainda tinha um dinheirinho na mão. Ta bom, Né?”, brinca.

Os bailes só diminuíram de frequência em 1963, quando Ed sofreu um acidente automobilístico que deixou sentindo dores fortes na coluna e o obrigaram a se apresentar eventualmente usando colete. Com o lançamento no ano seguinte do disco A volta, ele deu continuidade à carreira de shows e gravações. Com um estilo admirado por outros músicos, ele ainda participaria de gravações ao lado de Ed Motta (Conversa mole) e do DJ Marcelinho da Lua (Sem compromisso).

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Orlandivo lembra que Ed Lincoln não parava de trabalhar nem quando estava na cama do hospital. “Ele até pedia whisky, mas só pra mim”, lembra rindo. Nessa época ele chegou a ser substituído por outros pianistas famosos como Tenório Jr e Eumir Deodato. Recentemente, um acidente doméstico voltou a lhe causar dores e o afastou novamente dos palcos, e hoje, aos 79 anos, ele não pode mais fazer o que lhe dava mais prazer que é fazer as pessoas dançarem.

Por isso, quanto ao relançamento, Orlandivo comemora saber que novas gerações vão poder entrar em contato com estes trabalhos. “De tempos em tempos, as gravadoras remexem seus arquivos por que tem uma juventude que não conhece isso. Agora os mais novos vão poder dançar com os discos do pai e do avô”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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