Fortaleza se surpreendeu com um dos seus shows mais marcantes dos últimos tempos. No palco, um jovem músico de 51 anos, trajando terno claro e empunhando uma bela guitarra de onde metralhava docemente uma série de notas musicais. Seu nome é John Pizzarelli, jazzista americano com presença constante no Brasil, que se apresentou por aqui pela primeira vez na noite da última quinta-feira.

A esperada apresentação aconteceu para uma plateia cheia no Teatro do shopping Via Sul. Marcado pra as 21h30, o show começou poucos minutos depois do combinado com o músico já demonstrando a que veio. Ao entrar com o palco ainda escuro e com o público completamente em silêncio, ele abriu os braços como quem não estava entendendo o que se passava. Mas, foi só acender as luzes e a casa vir abaixo em aplausos, que ele abriu um sorriso e começou a trabalhar.

Acompanhado do trio formado por Tony Tedesco (bateria), Larry Fuller (piano) e seu irmão Martin Pizzarelli (baixo), John cantou, tocou, conversou e brincou o quanto pode ao longo de quase duas horas. Mesmo sem falar nada em português, parecia que o entendimento ali era perfeito. Aliás, logo no comecinho, ele adiantou o pouco que sabia da nossa língua: “obrigado”, “saudade”, “com licença” e “três caipirinhas”.

O repertório foi regido de forma impecável, dividindo o espaço entre números instrumentais e momentos pra se cantar junto. No primeiro time, John explicou que usa uma guitarra de sete cordas, que também faz a função do baixo. Essa foi a deixa pra que seus companheiros deixassem o palco para que ele fizesse um solo virtuoso. “Com esse instrumento, eu não preciso deles”, brincou. Com todos de volta ao palco, ele enfileirou canções de Duke Ellington, George Gershwin, Nat King Cole, Frank Sinatra e outros. Fã assumido de Bossa Nova, ele ainda afagou o ego brasileiro com Só danço samba, Garota de Ipanema e Samba de uma nota só. Única falta sentida foram as canções dos Beatles que ele gravou no disco Meets the Beatles (1998), mas deixou de lado em Fortaleza.

Num dos pontos altos da apresentação, John Pizzarelli falou sobre seu estado natal, New Jersey. Comentando que por onde vai sempre encontra algum conterrâneo – em Fortaleza não foi diferente -, ele aproveitou uma das canções clássicas de lá para mostrar como ficaria se interpretada por outros artistas. Vieram, então, imitações de Billie Holiday, João Gilberto, Johnny Cash, Bee Gees e outros. Um verdadeiro show de improviso, domínio do público e simpatia. Após o acender das luzes, John ainda atendeu as palmas e retornou para cantar sozinho As time goes by, que nem estava no programa. Finda a apresentação, ficou a impressão de que foi divertido para o público e para os músicos. Fica agora a expectativa  e a vontade de saber quando ele volta.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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