Coco, xaxado, rock, punk, heavy metal, samba, carimbó. Num país continental como o nosso, são muitos os ritmos e estilos que a música assume. Esses toques aumentam ainda mais nas mãos de sabe misturar um pouco daqui, um pouco dali pra construir uma nova ideia. E é com a proposta de fazer um panorama sobre essas novas “invenções” musicais e promover encontros para transformá-las em algo viável dentro do mercado que a Feira da Música estreou em Fortaleza em 2002.

Chegando este ano à sua 10ª edição, a Feira da Música é hoje um grande palco de encontros, informação, negócios e apresentações, reconhecido por artistas e produtores de várias partes do País. A abertura acontece amanhã (17) e segue até sábado (20) com palestras, debates, rodas de conversa e shows com 33 bandas da cena independente de 12 estados brasileiros, tudo nos arredores do Centro Dragão do Mar. Para engrossar o caldo, no mesmo período o Centro Cultural do BNB realiza o Cultura Vai à Feira, evento reunindo mais 32 bandas – algumas também participam da Feira da Música – de dez estados.

“O evento já era de meu interesse, eu já paquerava há tempos. Finalmente, esta é a primeira vez que eu vou como frantman”, comemora Julio Andrade do The Baggios (São Cristovão – Sergipe), um dos que se apresenta nos dois palcos. Destaque na noite de abertura da feira, o duo de guitarra e bateria faz rock com pegada setentista, puxando para Led Zeppelin. “Estou empolgadíssimo por que sei que vamos tocar pra público e produtor que entende e quer ouvir coisas novas”, acrescenta o guitarrista que parte de Fortaleza para uma turnê de 12 shows em nove estados nordestinos.

As atrações da Feira da Música vão se distribuir entre três palcos. O palco rock (auto explicativo) fica no Teatro da Praia, próximo ao Dragão do Mar. O palco Brasil independente, voltado para a variedade, fica na Praça Verde. O palco Instrumental Nordeste (também auto explicativo) fica espaço Rogaciano Leite, sob a passarela. Outros espaços próximos ao Centro Cultural – como a Faculdade Católica e Sesc Senac – vão abrigar oficinas de Produção Executiva, pandeiro, berimbau e novas mídias, e painéis sobre economia criativa, ativismo digital, gestão e outros. Para Rafael Aragão, baixista do grupo sergipano Elvis Boa Morte e os Boa Vida, que se apresenta na quinta-feira, “é importante ter esse diálogo com músicos e produtores. Cria uma coisa mais íntima com a Feira”.

“Já toquei outras duas vezes na Feira e sempre saí com a mesma impressão: esse é o momento de tocar num lugar que respeita a música, que dá dignidade ao nosso trabalho”, elogia Talles Lucena, vocalista e guitarrista da banda cearense Full Time Rockers (ex-Joseph K). Segundo o músico, ao longo destes dez anos a Feira já promoveu encontros e discutiu temas que vêm mudando o modo de fazer música na Cidade. “A gente tem que caminhar sempre pra se profissionalizar em música, tem que ter orgulho de dizer que trabalha com música. Mas esse tipo de afirmação não é nada a curto prazo, mas sim a passos lentos”.

Com a ajuda dos amigos

Apesar dos unânimes elogios à realização e à herança deixada nestes 10 anos, a Feira da Música passou por um aperto grande este ano. O grande motivo da dor de cabeça foi a notícia de que um recurso de R$133 mil, captado com a Funarte em convênio com a Secretaria de Cultura do Estado havia sido suspenso. O motivo: o Estado, mais precisamente a Secretaria de Turismo, está inadimplente com a União há 45 dias. A surpresa causou um alvoroço na produção da Feira, que este ano também perdeu o apoio do BNDES e parte do que vinha do SEBRAE. Com a saída do Governo do Estado, ficaram apenas os apoios do BNB (Lei Rouanet), Coelce (lei estadual) e Prefeitura. “Não acredito que o governador (Cid Gomes) esteja sabendo. É quase impossível um Estado ficar inadimplente por mais de dois dias, por que tudo depende de convênios. Com outras obras deve estar acontecendo o mesmo problema”, comenta Ivan Ferraro, presidente da Prodisc e coordenador da Feira.

Ainda tentou-se fazer o convênio pela Secultfor, mas não havia mais tempo hábil. Num primeiro momento, uma forma de resolver a situação foi diminuir a quantidade de palcos. Ou seja, a programação de três palcos seria realocada em apenas um. Em reunião com fornecedores, no entanto, uma nova surpresa, dessa vez boa, mudou novamente o rumo das coisas. As empresas responsáveis por fornecer a estrutura de luz, som e palco para a Feira da Música decidiram continuar como estava programado, sem cobrar nada. “Foi um sacrifício grande captar isso e fomos surpreendidos com essa inadimplência. Mas, o descompromisso de alguns acaba mostrando o super compromisso de outros. Enquanto as autoridades, que deveriam estar mais interessadas, estão menos, a sociedade civil se organiza e faz”, diz Ivan mais aliviado.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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