No dia 21 de maio de 2009, o Brasil perdeu o cantor, compositor e pianista Zé Rodrix. Reconhecido por muitos pela autoria de Casa no Campo, um dos grandes sucessos de Elis Regina, o paulista atuou em grandes momentos da música brasileira, desde acompanhar Edu Lobo e Marília Medalha em Ponteio, no Festival da Record de 1967, até integrar o seminal grupo Som Imaginário, ao lado de Wagner Tiso e Tavito. Também esteve ao lado de Sá & Guarabira em discos que lançaram o conhecido “rock rural”, um cruzamento valoroso de Bob Dylan com Inezita Barroso. Embora tenha escrito boa parte da trilha sonora do folk rock setentista nacional, a maior parte da sua obra acabou ficando deixada de lado e, até hoje, é bem pouco ouvida. Pra resgatar parte desta memória, sua filha, a cantora Marya Bravo, acaba de lançar pela gravadora Joia Moderna, o tributo De Pai pra Filha, reunindo 12 canções de Rodrix lançadas entre 1972 e 1976. O recorte temporal, por si só, já garante uma unidade ao disco que prima por uma pegada mais roqueira. Marya Bravo também é atriz, tem voz forte, afinada e se permite se jogar sem medo em momentos luminosos da carreira do pai como Roupa Prateada, canção que emula o clima glitter então em voga naqueles anos 70. Mas, assim como o pai, Marya faz rock com folk e blues. Esse tempero é o que dei força à obra de Rodrix, cheia de momentos belos e hoje pouco ouvidos, como a Primeira canção da estrada. O clima hippie setentista que permeia a obra do compositor já soava jocoso, cínico e inspirado na época, e não paracem deslocados para os dias de hoje. Cercada por uma formação de baixo (Daniel Martins), bateria (Pedro Garcia), teclados vintage (Pedro Augusto), violão e guitarras (Bruno Pederneiras), Marya Bravo respeita o clima original das canções, mas não deixa de acrescentar algo de seu. Talvez o único momento questionável seja a presença “obrigatória” de Casa no Campo, onde a comparação com a leitura arrasadora e definitiva de Elis é impossível. Mas, em campo neutro, Marya se impõe. Caso de Hey Man e Eu preciso de você pra me ligar, os dois destaques do tributo, principalmente por conta da guitarra “carlossantanica” nesta segunda. Destaque também para o encarte decorado com desenhos do próprio homenageado cheios de órgãos sexuais, cores e psicodelia. Os desenhos de Rodrix têm algo de sério e de jocoso, e pode fazer muita gente procurar um sentido. O mesmo acontece com a canção Mestre Jonas, um dos hits de Rodrix, escolhida pra encerrar o tributo. Com clima pra cima e letra meio crítica, meio engraçada, ela fecha o disco com uma mensagem do velho compositor que ainda tem tanta coisa por ser descoberta.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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