Ao longo de mais de 30 anos, Zé Ramalho construiu uma das assinaturas mais fortes da Música Popular Brasileira. Com seu toque de violeiro, sua voz agreste e seu canto falado, ele cruzou a linha do rock, da psicodelia, do baião, do folk e se lançou com uma obra referencial, agressiva e marcante. Como intérprete, essa regra não é diferente. Seja quem for o interpretado, da Bossa Nova ao Rock, ele é capaz de misturar essas mesmas influências e recriar obras importantes sem medo das comparações. Isso pode ser sentido no seu recente tributo aos Beatles, lançado pela gravadora Discobertas. Zé Ramalho Canta Beatles reúne 16 canções de George, Paul, John e Ringo, incluindo suas carreiras solo, gravadas pelo paraibano em diferentes épocas, ao longo de mais de 10 anos. Interpretadas em seu idioma original, Zé Ramalho deu ainda mais personalidade à homenagem por não esconder o sotaque nordestino. Longe de se ocupar com o que vão dizer os fãs mais puristas do Fab4, Zé Ramalho não teve medo de transformar canções da forma que julgava correta, como foi o caso de transformar a épica While my guitar gently weeps em um baião. O resultado é tão bom quanto In my life, que virou uma valsa que, segundo explicação no encarte, ressalta “os sentimentos de ingenuidade e juventude que estão presentes na letra”. Ambas são costuradas pela bela sanfona de Dodô Moraes, único parceiro nesta viagem de Zé. Algumas das versões do disco já haviam sido lançadas em outros projetos especiais. É o caso de The long and winding road e Beware the darkness, apresentadas no especial Beatles’70. In my life já havia sido gravado por Zé Ramalho no tributo Submarino Verde e Amarelo (2000), que contou com a participação se vários outros artistas brasileiros. Mas esta ganhou uma nova leitura, com voz dobrada e interpretação mais pessoal. Claro que nem sempre as tranformações funcionam. Golden Slumbers e Carry that weight, por exemplo, deixam a emoção se esvair no canto excessivamente pesado de Ramalho. Acompanhado apenas do violão, o cantor parece emular um Bob Dylan (também já regravado por Zé) em sua época mais folk. Zé Ramalho canta Beatles foi idealizado e produzido pelo anfitrião, tendo apenas Dodô de Moraes ao seu lado nas interpretações (poucas faixas contam com outros músicos). Ambos se desdobram para recriar arranjos e sentimentos. A day in the life virou um xote e até ganhou uma orquestra sampleada. Claro que tudo foge completamente do óbvio, mas é justamente sobre isso que Zé Ramalho criou sua história. Sobre a fuga do óbvio.
zé ramalho é sempre ótimo, criativo e independente!
Caro Marcos Sampaio, parabéns pelo blog discografia, repleto de ótimas matérias. Seus textos são muito bons e gostei do que você escreveu sobre o disco Zé Ramalho Canta Beatles. Tenho 5 livros sobre Raul Seixas publicados no site http://www.clubedeautores.com.br
Tenho 2 livros sobre Zé Ramalho publicados no mesmo site mencionado. Recentemente publiquei pela Editora Universo dos Livros meu sexto livro sobre Raul, de quem fui amigo pessoal e parceiro musical em uma canção ainda inédita, datada de 1983. Este meu novo livro sobre Raul Seixas, Dossiê Raul Seixas se encontra à venda nas bancas de jornais de todo Brasil. Eu gostaria muito de ter a sua autorização para incluir em meu livro ZÉ RAMALHO DIGITADO EM POESIA este texto que você escreveu sobre o disco Zé Ramalho Canta Beatles. Posso usar este texto seu em meu livro com os devidos créditos ao blog discografia e ao seu nome? Eu poderia escrever um texto referente ao mesmo disco, mas achei o que você escreveu muito legal e gostaria de transcrevê-lo em meu livro. Abraços e sucesso.