Boa parte deste vácuo deixado pela Pimentinha se reflete na carreira de sua única filha, Maria Rita. Lançada como cantora em 2003, cercada de muito alarde e investimentos altíssimos, ela nunca conseguiu se livrar das comparações com a mãe. Tanto que foi difícil começar sem falar de Elis. E este ano, quando muitos aguardam pelas celebrações dos 30 anos sem Elis (completados no próximo 19 de janeiro), Maria Rita deixa de lado a efeméride e lança seu quarto disco de carreira. O primeiro produzido somente por ela própria.
Elo (Warner) nasceu de uma série de shows intimistas que a cantora vinha fazendo pelo exterior e Brasil, incluindo Fortaleza. Na sequência da muito bem-sucedida turnê do disco Samba Meu, Maria Rita voltou ao estilo econômico do início de carreira. Dos oito sambistas que a acompanharam pelo mundo por quase três anos, ela passou para um trio de piano (Tiago Costa), baixo acústico (Sylvio Mazzuca) e bateria (Cuca Teixeira), músicos com quem ela vem trabalhando desde o início da carreira. Formada a banda, agora é partir para o repertório.
A escolha do que seria apresentado nesta turnê de entressafra (e que acabou posteriormente gravado) partiu de velhas lembranças, sugestões de amigos e do que ela já vinha cantarolando na sala de casa. Talvez por isso, apenas três das 11 canções de Elo são inéditas. Entre elas, Pra matar meu coração (Daniel Jobim/ Pedro Baby), que nasceu com bênçãos cearenses. Convidada pelo namorado Davi Moraes para participar do programa Som & Areia, gravado em Jericoacoara, foi aqui que ela conheceu esta que foi escolhida como a primeira música de trabalho. Por aqui também, Maria Rita ouviu o samba Coração a batucar (Davi Moraes/ Alvinho Lancellotti), o ponto alto do disco. A última inédita é Perfeitamente (Fred Martins/ Francisco Bosco), balada contundente que sobrou das gravações de Segundo (2005).
Com cara de trabalho de fim de contrato, Elo empolga pouco se comparado a outros momentos luminosos da intérprete. Bem cantado e bem tocado, é fato. Mas, a ausência do elemento surpresa deixa tudo meio morno. Mas, por enquanto, a expectativa mesmo é por saber se Maria Rita vai aceitar ou não visitar o repertório de Elis Regina no próximo ano, como espera o meio-irmão João Marcelo Bôscoli. É ele quem está à frente do projeto milionário Redescobrindo Elis, que deve incluir, além dos cinco shows de filha pra mãe (todos abertos ao público), biografia, exposição, discos e documentário. A torcida pelo “sim” de Maria Rita é grande. Caso ela aceite, este Elo vai ser só um aperitivo diante das emoções que estão por vir.