Por Célio Albuquerque

Sérgio Mendes é uma das principais atrações do Barcelona Jazz Festival

O Barcelona Jazz Festival, que acontece entre o final de outubro e o mês de novembro na Espanha,  é uma referência mundial no gênero. O festival, pelo que se pode ver na lista de participações, não se prende a standards. Abrange, dentro do possível, um leque bem rico, que navega do pianista Michel Camilo e o baixista Ron Carter até os duos Quiet Colors e Los Fumeros e a Sant Andreu Banda de Jazz.

E não se resume apenas aos shows. Há master classes e uma série de eventos paralelos. Um programão mesmo.

Um dos artistas mais aguardados para a edição 2023 do festival é o brasileiro Sérgio Mendes, lenda internacional que é um dos maiores divulgadores da música popular brasileira pelo mundo. O espetáculo dele está agendado para o dia 17 de novembro. Muito da música brasileira após ele desembarcar com o grupo Brasil 66 deve, de alguma forma, a ele parte de sua ampliação, além da bossa nova e do samba tradicional.

No texto de divulgação do Barcelona Jazz Festival está o resumo dessa expectativa: “É verdade? Bem, sim, sim, sim e sim! Sergio Mendes, história e lenda viva da música brasileira, estreia em nosso festival”.

Por falar em bossa nova, a herdeira direta de João Gilberto, sua filha Bebel vai estar por lá. E dessa vez cantando o repertório do pai, o mesmo que está em seu recente álbum João. Se conseguir levar ao palco a magia do álbum, vai ser espetacular. “Sim, é verdade. Agora é hora de apresentar ao público as músicas de João Gilberto que me influenciaram desde que nasci – e até antes”, comenta Bebel em texto que está no site do festival. O show de Bebel acontece dia 26 de outubro.

Bebel Gilberto apresenta seu show em homenagem ao pai João Gilberto

A presença do Brasil ainda é maior no festival. A cantora portuguesa Sofia Ribeiro, que já gravou Lilás (Djavan), À primeira vista (Chico César), entre outras pérolas nacionais, provavelmente vai lançar mão de pelo menos uma delas. Lilás, por sinal, ganhou uma leitura bem interessante.

Entretanto, a música do Brasil terá um aconchego especial no dia 11 de novembro com a Sant Andreu Jazz Band, dirigida por Joan Chamorro, no espetáculo Abraça Brasil.

A Sant Andreu se destaca por ser uma orquestra jovem com meninas e meninos multi-instrumentistas e que quase sempre cantam. O repertório é vasto mas, a música popular brasileira, não apenas a bossa nova, se destaca. Para a apresentação, a orquestra contará com a participação de duas ex componentes: Andrea Motis e Rita Payés. Ampliando o time de participações especiais Chamorro também terá como convidada Carme Canela, uma das referências vocais da cena espanhola. Na discografia das três artistas há muita música brasileira. De Guinga e Moacyr Luz até Tom Jobim, claro.

“A música brasileira está muito presente em nosso repertório há vários anos, através das vozes de Rita Payés, Andrea Motis, Èlia Bastida, Alba Armengou, e agora com Koldo Munné, Perot Rigau e Claudia Rostey”, comenta Chamorro em entrevista exclusiva para o DISCOGRAFIA.

Andrea Motis e Èlia Bastida também farão apresentações exclusivas no festival. “No concerto da Andrea, também no Palau, eu não toco. No show da Èlia Bastida sim. E, sim, com certeza faremos algumas músicas do repertório brasileiro”, complementou Joan.

Sant Andreu Jazz Band mantém em seu repertório diversas composições de autores brasileiros

A primeira artista a se destacar na Sant Andreu, a ter uma carreia solo solidificada, Andrea Motis é uma fã de carteirinha de música brasileira. Desde seu primeiro álbum, a música brasileira está presente. Em 2019 lançou um álbum só com músicas brasileiras ou de sua autoria, inspiradas na MPB. “Definitivamente o que me atrai na música brasileira é o ritmo e a melodia”, diz Andreia que já gravou clássicos como Chega de Saudade, Corcovado e Meditação. Mas, nessa aproximação com a música brasileira, aconteceu uma descoberta além dos artistas brasileiros conhecidos internacionalmente. “Gostei muito de descobrir Adoniran Barbosa. Gosto muito de Iracema, de Saudosa Maloca”, diz ela que em seu álbum Colors & Shadows, com a WDR Big Band, incluiu Iracema, do mestre paulista.

Bastida, que toca sax, violino e canta, diz que sua relação com a música brasileira começou quando entrou para a Sant Andreu. “Comecei a ouvir música brasileira quando entrei na big band. Comecei a tocar e cantar algumas músicas brasileiras e também me interessei por essa música. Lembro que quando comecei a cantar, as quais mais me identificava eram a bossa nova e foi aí que começou meu amor por essa música”, recorda Bastida ao DISCOGRAFIA.

E o que mais atrairia Èlia Bastida na música brasileira? “Quando toco, mas principalmente cantando, eu realmente me sinto ‘eu mesma’. Também acontece comigo quando ouço músicos brasileiros tocarem suas músicas, o que adoro e sinto que quero fazer o mesmo” complementa ela, cuja primeira música brasileira gravada foi O Barquinho, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Inclusive, Menescal viu, ouviu e gostou. Sobre o repertório que a orquestra e ela mesma irão apresentar no festival, Bastida é categórica: “O repertório que faremos é realmente muito bom!”.

“Estou muito feliz por participar mais uma vez do Festival de Jazz da minha cidade, Barcelona, e muito feliz por fazê-lo com o projeto da banda Sant Andreu Jazz, com Joan Chamorro, e claro, com Andrea, Rita e Èlia, todas pessoas maravilhosas”, comenta Carme Canela.

“Em casa tínhamos dois discos conhecidos de uma das minhas irmãs. O Getz/Gilberto, de João Gilberto com Stan Getz, e o do Vinicius de Moraes com Maria Creuza e Toquinho na Fusa (Vinicius de Moraes en La Fusa con Maria Creuza y Toquinho, de 1970). Sem nem saber, essa música que eu ouvia em casa já estava me influenciando. Mais tarde, quando comecei a cantar e ouvir música de forma mais consciente, ouvia Weather Report, funk, Frank Zappa, jazz, salsa. Teve um álbum que me marcou. Foi o Native Dancer, de Milton Nascimento e Wayne Shorter. A partir daí tudo se encaixou. Do grande Milton passei para Flora Purim, Gilberto Gil, Gal Costa, Elis Regina (Que ídolo!!), Zizi Possi, Joyce, Guinga. Com Guinga, inclusive, cantei no ano passado, em Barcelona. Minha curiosidade e amor pela música brasileira começaram desde muito jovem e isso tem grande influência no meu jeito de cantar”, comenta uma apaixonada Carme.

Perguntada sobre seus artistas e autores favoritos, Carmem fala: “Sim, alguns, quase todos! Mas para citar alguns: Noel Rosa, Jobim, Milton Nascimento, Edu Lobo, Guinga, Chico Buarque, Ivan Lins, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Toninho Horta, Dori Caymmi… E mais alguns que tenho certeza que deixarei para trás”.

Se depender do entusiasmo da Sant Andreu e seus convidados, o Festival de Barcelona este ano, pegando emprestado a palavra “criada” por Caetano Veloso, irá ganhar um “abraçaço”.

Das pérolas que estarão no repertório, serão apresentadas:

– Maçã do rosto (Djavan), por Kodlo Munné
– Samba da minha terra (Dorival Caymmi), com Èlia Bastida
– Fato Consumado (Djavan), com  Perot Rigau
– É com esse que eu vou  (Pedro Caetano), com Carme Canela
– Vestido de bolero (Dorival Caymmi), com Rita Payé
– Açaí (Djavan), com Andrea Motis

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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