Quem viveu os anos 80 acompanhando bem a produção musical lembra bem da onipresença de um instrumento em particular: o sintetizador. Esse polêmico rapaz encontrou a redenção nos roqueiros progressivos, que exploraram ao máximo as possibilidades do coitado para camas e climas sonoros. O problema é que com o tempo ele passou a ser presença constante do samba ao rock, dando uma unificada em tudo que se ouvia. Pra piorar, eram os tecladistas que faziam os sons de bateria, ou dos metais, ou, pior, de uma orquestra inteira. E tome músico bom desempregado. Só pra citar um exemplo, sabem por que o primeiro disco do RPM só traz três músicos na capa? Porque a bateria era feita num teclado. Enfim…
Nem a MPB escapou dessa praga, como fica comprovado numa série de relançamentos recentes da época. Por exemplo, Vanusa ao completar seus 30 anos de carreira fonográfica resolveu dar uma repaginada no próprio som e soar mais moderna. Seguindo a ordem vigente, Vanusa 30 anos já abre com o som de um sintetizador. O disco, reeditado pela Joia Moderna, traz um repertório irregular e aquele famoso som ”anos 80″, apesar de ter sido lançado em 1977. O momento mais sintomático da crise dos sintetizadores está nas duas canções gospel que encerram o disco, Prece de Caritas e Maria Madalena. No entanto, há momentos que desculpam o instrumento como o bolero Só nós dois e na melancólica Problemas, composição obscura de Raul Seixas e Mauro Motta. O mago dos teclados, Lincoln Olivetti, também marca presença na direção do trabalho e na bonitinha Desencontro (parceria com Ronaldo Barcellos). O curioso é saber que, para a época, Vanusa 30 anos era sim um disco de renovação. Isso fica comprovado na presença de inéditas de Belchior (Brincando com a vida), Arnaud Rodrigues (A Aranha), Caetano Veloso (Duas manhãs) e na primeira gravação de Avohai, de Zé Ramalho. Só não entendi ainda por que um disco lançado em janeiro trazia a natalina Boas festas (Assis Valente).
Outro relançamento recente também marcado pela tecladeira é Filme Nacional, de uma esquecida Marília Barbosa. Cantora e atriz com atuação nas décadas de 70 e 80, ela também usou e abusou dos sintetizadores neste disco que parece mais coeso que o de Vanusa, embora traga lá suas derrapadas. Ele começa bem com com um mezzo samba cheio de eletrônicos chamado Manifesto. Segue com Minh’alma, bolero cortante de Don Beto e Reina, dupla que iria ficar conhecida como defensores da black music brasileira. Mas logo na terceira faixa, Melodia inacabada, a breguice começa a tomar conta. E olha que estamos falando de uma canção de Rita Lee. A música que dá nome ao disco também é um belo bolero, com direito a todos os maneirismos de bebum, e abre espaço para Olha, de Roberto e Erasmo (outras duas vítimas dos sintetizadores). O sambinha Total abandono (Djavan) e cantiga de ninar Pour Pablito (João Mello/ Dito) também tem tudo que a época pedia, mas deixam uma sensação de quem nem tudo estava perdido.
Nem mesmo Maria Creuza escapou da pasteurização sonora dos teclados. Mas, que fique claro, teclado e ruindade não são sinônimos. Só são amigos bem próximos que volta e meia se deixam levar um pelo outro. No caso da baiana que chegou a excursionar e gravar um clássico da música brasileira ao lado de Toquinho e Vinicius de Moraes, os teclados foram responsáveis por igualar seu canto sofisticado à mesmice que muitas outras cantoras faziam. Completando 40 anos de carreira em 2011, dois discos seus dos anos 80 estão de volta às lojas pelo selo Discobertas. Em Pura Magia (1987), a tônica é do samba. A abertura com Ifá, Um canto pra subir (Vevé Calasans/ Walter Queiroz) é bonitinha e tem clima axé music, enquanto o sambão joia Pura Magia (Roberto Mendes/ Jorge Portugal/ Jorge Aragão) é oitentismo puro. A coisa é tão séria que um dos convidados do disco é o obsceno Wando. Pra contrabalançar, Sivuca comparece em Luz (Toni/ Gloria Gadelha) numa rara participação como cantor. Delicado perfume é uma balada lenta que fecha bem o disco, com um raro suspiro de sofisticação. No entanto, em Paixão Acesa (1985), também de Maria Creuza, é mais tecladista ainda. Costurando canções de Nei Lopes, Rosa Passos, Ivone Lara e Carlos Colla, o disco tem como ponto alto a balada triste Sessões de cinema (Fernando Gama/ Arthur Laranjeira). Com apenas dois anos de diferença, Paixão Acesa e Pura Magia se parecem em tudo, desde os compositores até a sonoridade. Claro, quem viveu bem aqueles fins de anos 70 e a chegada dos 80, vais ter mais chance de gostar e até sentir uma pontinha de nostalgia. Já os mais novos, devem estranhar bastante.
os 30 anos são a idade da vanusa e não de carreira, não é possível que ela tenha iniciado a carreira em 1947.
Concordo com você,algumas músicas não soam bem a la synth,mas ou más,em tempos de inflação de 100% ao dia,o uso ou abuso dos synths veio ajudar no orçamentos das gravadoras a beira da falência.Alguns trabalhos também de tão ruins foram relegados a fácil programação de rolands juno e yamaha dx7 já que os megalomaniácos artistas queriam arranjos de corda e coral só que as máquinas diminuiam o tempo de estudio e poupava dinheiro pra remasterização.
Acompanhando o rítmo das coisas até o forró dos anos 80 entrou na turma roland/yamaha praticamente todos os forrós de A a Z também entraram na modernidade “baixo-custista”(ouvir “Zé Orlando” e “Eliane”) basta ouvir o uso abusivo da bateria roland tr 505 e tr 707,da bateria simmons(lincoln e olivetti também usaram) e a mais usada a “oberheim dmx” a queridinha do mundo todo.
Sou um irrecuperável fan de sintetizadores,culpa das chamadas da UNIFOR durante os anos 80 e o seriado “COSMOS” do saudoso cosmólogo Carl Sagan de quem chorosamente não seguí mas é outros sons sintéticos.No mundão moderno de meu Deus o sintetizador largamente usado foi ponto de partida pro “boom” da era digital já que a música pode ser emulada porquê não a arte pop,pronto,junção perfeita.
Sou uma das crianças cobaia desse novo tipo de comunicação emulada.impres-
sionado ao ouvir o som de “Planet Rock” fui uma especie de diário do eletrônico,desde os synths,ataris ao novíssima tela 4k.
Estou tentando comprar meu synth até hoje pra por em dia o diaŕio digital,talvez compre um jupiter 80 ou um yamaha motif,detalhe não sei tocar nada
também sou da era do empreedimento.
nado com o som de “Planet Rock” hino suburbano que enteveu a revolução dos
emulada
O problema não é o instrumento em si e sim a maneira em que está sendo empregado nas músicas combinado com a falta de criatividade dos músicos atuais.
seguindo o seu infeliz raciocinio, quando inventaram o email os carteiros ficaram desempregados?
seus comentarios são mediocres com relação a sintetizadores, vê se muda de profissão
Legal,ecoando a unanimidade da crítica.Discordar como?
Meu amigo, só escuta lá Chariots of fire.
Abraço
Boa matéria, mas sobre o RPM, tinha baterista sim, no encarte, mostra o Paulo Pagni empunhando suas baquetas numa Simmons, aquelas dos pads “sextavados”. Não tinha ” baterista no teclado “, até pq os sintetizadores que o Schiavon usava, não eram nenhum Casiotone ou PSR Yamaha, pra disparar as batidas. Ele usava Prophet, Juno, Oberheim, nessa linha mais synth mesmo. Na época, alguns usavam uma Oberheim Dmx, como o Guilherme Arantes, Marina, que era uma bateria eletrônica programavel. Parabéns pela matéria.
Cara, então me responde: por quê os grupos de Synth-pop como A-ha, Depeche Mode, Alphaville, Etc, só usavam Sintetizadores, ficaram ricos e estão ricos realizando shows até hoje? A… esqueci de falar que quase 100% das bandas de heavy metal melódico e power metal usam sintetizadores, e nem por isso o som das bandas é medíocre ou não presta…
Olá, Wanderson. Respondendo sua pergunta, essas bandas ficaram ricas por que tocaram muito em rádio, fizeram muitos shows, venderam muitos discos, estavam na crista da onda e souberam administrar bem a carreira. Tudo dentro do script. Ficar rico é um argumento que não entra na minha análise e nunca foi sinônimo de qualidade. Quanto às bandas de metal melódico, de fato, quase 100% usa sintetizador e não são medíocres. Por isso que eu não afirmei isso no meu texto. A propósito, eu nem cito a palavra medíocre ou digo que esses discos não prestam. Um abraço e obrigado pelo comentário
A música brasileira é conservadora demais. O som do RPM foi revolucionário. César Camargo Mariano usando um DX7 e Guilherme Arantes tocando Êxtase são ótimas lembranças! Mas tudo volta ao banquinho e o violão, saxofone, acordeon e pandeiro. Sociedade muito conservadora e tradicional. Então temos que ouvir os grandes clássicos do prog como Wakeman, Banks e Wright para curtir aquele som diferente como o mestre Jean Michel Jarre ensinou.
Que texto horrível! Português mal escrita, parece que foi redigido por um semi-analfabeto. Não o bastante, é apenas um cara de merda, frustado – invejoso e rancoroso, e sua total insignificância – destilando ódio e remorso.
Obrigado pelo comentário gentil e argumentativo