No último fim de semana, Fortaleza pediu licença a Brasília para provar um pouco do que é ser a capital do País. Com uma agenda atípica, foram três dias de recepção para representantes dos mais variados estados brasileiros, entre músicos, bailarinos, amigos, convidados e curiosos. O 14 Bis veio das Minas Gerais para o BNB Clube, Belo e Sorriso Maroto vieram do Rio para o Clube do Vaqueiro. Ainda teve Marcio Greyck, Reginaldo Rossi, Golden Boys e outros. Até alguns gringos resolveram vir ver no que daria essa mistura.

Entre tantos espaços, um palco se destacou nessa salada de sotaques. Recebendo a 6ª edição do festival Ponto.CE, a Praça Verde teve duas noites dedicadas a uma maratona de estilos musicais curiosos feita para um público pequeno, embora empolgado. Por falar em curiosidade, esse público era uma atração a parte. Formado basicamente por jovens e adolescentes, cada um preparou um figurino próprio que ia de espartilhos e meias arrastão de cores berrantes até maquiagens pesadas e penteados exóticos. Alguns bem exóticos.

Iniciado na quinta-feira (3), o festival trouxe espetáculo de dança, exibição de filmes e shows de artistas da cena independente. No caso da música, o palco do Ponto.CE é uma ótima vitrine para quem está curioso por saber o que acontece fora do circuito das rádios. Boa parte dos artistas que tocaram na sexta-feira (4) e no sábado (5) não tem grandes esquemas de divulgação e distribuição dos seus trabalhos. Alguns nem disco têm. Numa espécie de ação de guerrilha, eles mostram suas produções na internet em festivais como esse.

Por outro lado, a falta de investimentos das gravadoras acaba incentivando cada banda a ser ainda mais criativa para chamar atenção do público. Nas barracas montadas ao lado do palco era possível ver uma série de produtos em formatos bastante interessantes e a preços bem abaixo do esperado. O que deveria ser uma simples caixinha com um CD se transforma numa pequena obra de arte com envelope, livro ou dobradura.

No fim das contas, a combinação de trabalho e criatividade funciona e algumas dessas bandas já conseguiram arregimentar um bom número de admiradores. Na sexta-feira, por exemplo, a grande atração da noite seria os Móveis Coloniais de Acaju, mas quem roubou a cena foram os cariocas do Canastra. Conhecido por ter como baterista Rodrigo Barba, ex-Los Hermanos, a banda empolgou com uma performance enérgica e um som empolgante com direito até a um enorme baixo acústico no palco. No repertório, teve até Viva Las Vegas, uma homenagem ao rei do rock Elvis Presley. Outra grata surpresa da sexta foi a combinação da banda cearense O Sonso (atualmente morando em São Paulo) com o guitarrista paraense Saulo Duarte. Combinando canções próprias com covers, como Jorge Maravilha de Chico Buarque, eles seguraram bem a animação do público num set curto e certeiro.

Com uma escalação menos ensolarada, o sábado também teve suas surpresas. Se a grande atração da noite era a avalanche sonora do Mundo Livre S/A, apresentando as canções do novo disco, Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa, quem chamou a atenção foi o metal do Madame Saatan. Tendo a voz gultural da bela vocalista Sammliz como guia, eles viram uma turma empolgada de fãs berrando sem parar. “Tem um cara aqui que ta gritando mais do que eu”, surpreendeu-se a cantora. Afiado e cheio de energia, o quarteto mostrou que competência e esforço hoje em dia é a melhor combinação pra atravessar o incerto caminho da música independente.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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