Braço mais pop da turma do Clube, Lô Borges seguiu sua carreira se dedicando mais à estrada do que à composição. Essa ordem só se inverteu há pouco mais de 10 anos, quando seu filho Luca nasceu. E é pra ele e sua geração que o novo fruto desta boa fase como compositor é dedicado. Horizonte Vertical é o quarto disco que o cantor lança nesta década. “Fiquei pensado: ‘esse cara (Luca) quando tiver 10 para 12 anos vai ouvir o Clube da Esquina e vai ver que eu fiz uma coisa bacana’. Isso é uma coisa motivadora”, explica antes de apontar outro fator que contribuiu para a enxurrada de músicas novas, muitas delas ainda inéditas. “A coisa mais importante como artista é a composição. É uma maneira de estar comentando as impressões da vida, do mundo. Se ficar só nos sucessos, fica parecendo déjà vu”.
Embora ele assuma que não tem escutado muita coisa nova, nem reconheça como algo de caso pensado, é fato que Horizonte Vertical tem frescor contemporâneo e uma atmosfera que lembra em muito o novo pop inglês. Compostas todas a partir do piano, as 12 faixas inéditas ganharam acompanhamento dos músicos Barral e Robinson Matos (ambos co-produtores) que se dividiram entre vários instrumentos. Em seguida foram jogados ruídos, climas e efeitos por cima. A balada De mais ninguém abre o trabalho entregando toda a ideia, com seus momentos de calmaria e explosão.
Sem nunca deixar de lado o Clube que o lançou para a música, Lô convida também o parceiro constante Milton Nascimento e a ele dedica o curioso Mantra Bituca, exaltando o famoso apelido do amigo. Juntos eles ainda dividem Da nossa criação, que segundo o anfitrião, é uma “balada beatle” que conta a história de amizade da dupla. Cantando frases como “invento com meus versos um universo pra caminhar”, eles expõem a necessidade vital que ambos sentem de criar canções. “Sou fascinado com o inédito. Faço mais discos do que minha capacidade de lançá-los. Gostaria de chegar na idade do Niemeyer compondo”, encerra Lô Borges.