Foto: Gabriel Gonçalves

Fortalezense não mede esforços quando encontra um motivo para reunir os amigos e fazer uma farra. Quando o resultado implica em muita gente e risadas, vale até acordar cedo num sábado. Foi isso o que aconteceu neste fim de semana. Na última sexta-feira (2), o Brasil comemorou o Dia Nacional do Samba, data que marca a primeira visita de Ary Barroso à Bahia, e a capital alencarina resolveu fazer uma comemoração especial que, embora não seja original, atraiu uma enorme multidão. Assim como acontece no Rio de Janeiro, o Ceará resolveu ter o seu trem do samba.

Por aqui, a viagem começou no início da manhã do sábado (3), com um grupo de músicos recebendo os passageiros na Estação João Felipe. Ao som de Beth Carvalho, Ataulfo Alves e Adoniran Barbosa, as pessoas iam chegando, parando, davam uma reboladinha, arriscavam um sapateado e seguiam em frente para seus compromissos. Para outros, a maioria é fato, o compromisso era mesmo curtir aquele som. Isso ficava comprovado pelo figurino. Bermudão colorido pros homens e shortinho curto pras mulheres. Para ambos, chapéu, óculos escuros e uma bolsa fortemente equipada com cerveja suficiente para manter a alegria durante todo o percurso.

“Alvorada lá no morro, que beleza. Ninguém chora, não há tristeza”. Como diria o divino Cartola, pouco importava se o dia ainda estava começando, os foliões já estavam bem animados para a viagem bem antes dela começar. E ela começou às 9h40. Uma multidão trajando basicamente azul e branco, as cores da Portela, foi seguindo numa romaria batuqueira em busca de um vagão que ainda coubesse um pé de gente. Foi difícil achar, mas, com empurrãozinho aqui e um “com licença” ali, foi possível encontrar espaço.

Foto: Gabriel Gonçalves

“Chora! Não vou ligar, não vou ligar! Chegou a hora, vai me pagar. Pode chorar, pode chorar”. O samba clássico de Jorge Aragão, Neoci e Dida foi um dos que foi cantado a plenos pulmões pelo trajeto que seguia até a estação de Caucaia. Como se fosse uma mágica que só a música é capaz de fazer, ninguém estava incomodado com o trem lotado.

De tanta gente que havia, o ar condicionado só servia como uma mera lembrança. Pra completar, o cheiro de cerveja estava ar. “A informação que nós recebemos é que não era permitido nem beber nem vender bebida nos vagões”, explicou um dos seguranças que acompanhava a viagem. Vendo que, ainda assim, não faltavam latinhas e long necks passado de mão em mão, perguntei se ele iria chamar a atenção de alguém. “Impossível”, respondeu imediatamente.

Com quase duas horas de viagem, a estação João Filipe estava se aproximando novamente. “Moro em Jaçanã. Se eu perder esse trem, que sai agora às 11h, só amanhã de manhã”. A canção imortal de Adoniran Barbosa foi o tema óbvio daquele retorno. Em seguida foi a vez do Fundo de Quintal. “Outra vez o nosso cantar e a gente vai ser feliz. Olha nós outra vez no ar. O show tem que continuar”. Quando o trem fez sua parada definitiva, uma nova procissão se formou ritmada pelos pandeiros, tamborins e tantãs em direção à frente da estação. Se desfazendo aos poucos, um e outro ainda achava uma última cerveja na bolsa para ir tomando no caminho pra casa. Mas já era hora de dar uma parada antes de começar tudo novamente. Afinal, ali era só o início do Dia do Samba.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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