Assumindo que não sabe mais de onde é, Bid tornou-se um especialista em misturas e monta seu trabalho a partir delas. Foi assim desde seu primeiro trabalho como produtor, o clássico Afrociberdelia, que fundia maracatu, metal, funk, samba e mais. Curiosamente, foi durante uma viagem de ônibus para o SESC Bauru (SP) que ele e Chico Science começaram a desenhar o que viria a ser o segundo disco da Nação Zumbi. Naquele momento, eles ainda gravaram uma faixa (Roda rodete rodeando) que só viria a público 20 anos depois, quando Bid assinou seu primeiro trabalho solos, o multiétnico e polifônico Bambas & Biritas, que juntava Seu Jorge, Black Alien e Elza Soares num só disco.
Repetindo uma fórmula que ele chama de “velho novo”, ou seja misturar diferentes gerações de artistas, Bid está lançado agora Bambas & Biritas Vol.2, mais uma vez apostando na mistura. Iniciado durante uma viagem de férias para a Jamaica, em janeiro de 2010, o disco traz como proposta construir uma ponte sólida unindo o reggae da Ilha Mágica com sons nordestinos como forró, xote e baião. “O disco é todo sem bateria pra ficar mais parecido com a crueza do baião”, explica ele em entrevista por telefone.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=GKhbc8r7wnQ&feature=related[/youtube]A ideia nasceu quando Eduardo passeava de barco pelo mar do Caribe e pediu pro piloto do barco pra botar pra tocar Francisco, Forró y Frevo, disco de Chico César com produção sua. O piloto do barco, um autêntico jamaicano com todos os dreadlocks que tem direito, começou a improvisar um reggae por cima. Era o estalo que faltava pra ele encerrar a folga. “Tem que esperar os insights chegarem. Quando a ideia vem completa, não precisa se esforçar muito”, comenta lembrando que o mesmo aconteceu com o primeiro disco do Funk Como Le Gusta, big band fundada por ele que mistura sons latinos com o funk.
Bid é desses produtores que procura formas de se empolgar com o que faz e, por isso, acaba criando uma marca própria. Um delas está em procurar o inusitado. Dominguinhos, por exemplo, divide a faixa Brasil com Ky-Mani Marley, penúltimo dos 11 filhos de Bob. Já o “culpado” pelo projeto, Chico César, encontra Jah Marcus na contagiante Little Johnny. Com o prêmio de “Ideia mais inovadora”, a jamaicana Queen Ifrica musicou os agradecimentos do disco e cantou ao lado do músico americano Joey Altruda. Entre as 14 faixas, há uma versão reggae de Something (George Harrison) dividida pelo cantor Luciano e o guitarrista Ernest Ranglin, inventor da levada do ska. “Tem gente até comparando com o Buena Vista Social Club, mas não é coletânea. Aqui é todo mundo produzindo canções novas”, corrige Bid.
Hoje Bid assume que fica mais à vontade como produtor. Entre seus projetos, por enquanto, está um trabalho com o rapper Marechal (“ainda sem grana, mas a música me move”) e um possível disco juntando a tradição de Elza Soares, as pick ups do DJ Marky e uma banda de metais. Bid e Elza, inclusive já se encontraram na trilha do filme Chega de Saudade. “Ela tem uma confiança muito grande em mim. Eu fico do lado dela no estúdio pra gravar, é muita intimidade. Quem gosta de música, sabe que são situações muito especiais”, emociona-se lembrando que já ganhou até selinho da diva. Por conta do caráter das suas ideias, acabou ganhando fama de difícil e cabeça dura. “Eu sou complicado por que gosto de fazer as coisas do jeito certo. Eu levo muito a sério essa parada de música”.
Faixas do CD:
2. Little Johnny – Chico César e Jah Marcus
3. Hapiness Is All In Your Hands – Queen Ifrica
4. Brasil (Little Sunday) – Ky-Mani Marley e Dominguinhos
5. We Put The “M” Inna Music – Tony Rebel e Siba
6. Children Of The Future – U-Roy
7. Chiquinha Hey – Luiz Melodia e Anelis Assumpção
8. Lehá Dodi (sheeba) – Oku Onuora e Karina Buhr
9. Something – Luciano e Ernest Ranglin
10. World Cry (Al Fayah Mix) – Jesse Royal e Karina Buhr
11. Only Jah Love (Raggatu) – Sizzla Kalonji e Bi Ribeiro
12. Forever You Are – Queen Ifrica e Joey Altruda
13. Something Is Wrong – I Wayne
14. Nyahbinghi (Medley) – Priest Kassa, Priest Delroy, “Tiger” Williams, Prophet Caue A.K.A. Dada Yute, Marvin Wright e Papete