O músico Eduardo Bidlovski nasceu em São Paulo, mas morou muitos anos em Los Angeles. De volta já há um bom tempo a sua terra natal, ele é casado com uma japonesa. Por conta da estranheza do sobrenome de origem polonesa, ganhou na escola o apelido curtinho de Bid. E é com essa forma simplificada que ele assina seus trabalhos como músico, compositor e como um dos produtores mais requisitados da cena alternativa brasileira.

Assumindo que não sabe mais de onde é, Bid tornou-se um especialista em misturas e monta seu trabalho a partir delas. Foi assim desde seu primeiro trabalho como produtor, o clássico Afrociberdelia, que fundia maracatu, metal, funk, samba e mais. Curiosamente, foi durante uma viagem de ônibus para o SESC Bauru (SP) que ele e Chico Science começaram a desenhar o que viria a ser o segundo disco da Nação Zumbi. Naquele momento, eles ainda gravaram uma faixa (Roda rodete rodeando) que só viria a público 20 anos depois, quando Bid assinou seu primeiro trabalho solos, o multiétnico e polifônico Bambas & Biritas, que juntava Seu Jorge, Black Alien e Elza Soares num só disco.

Repetindo uma fórmula que ele chama de “velho novo”, ou seja misturar diferentes gerações de artistas, Bid está lançado agora Bambas & Biritas Vol.2, mais uma vez apostando na mistura. Iniciado durante uma viagem de férias para a Jamaica, em janeiro de 2010, o disco traz como proposta construir uma ponte sólida unindo o reggae da Ilha Mágica com sons nordestinos como forró, xote e baião. “O disco é todo sem bateria pra ficar mais parecido com a crueza do baião”, explica ele em entrevista por telefone.

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A ideia nasceu quando Eduardo passeava de barco pelo mar do Caribe e pediu pro piloto do barco pra botar pra tocar Francisco, Forró y Frevo, disco de Chico César com produção sua. O piloto do barco, um autêntico jamaicano com todos os dreadlocks que tem direito, começou a improvisar um reggae por cima. Era o estalo que faltava pra ele encerrar a folga. “Tem que esperar os insights chegarem. Quando a ideia vem completa, não precisa se esforçar muito”, comenta lembrando que o mesmo aconteceu com o primeiro disco do Funk Como Le Gusta, big band fundada por ele que mistura sons latinos com o funk.

Bid é desses produtores que procura formas de se empolgar com o que faz e, por isso, acaba criando uma marca própria. Um delas está em procurar o inusitado. Dominguinhos, por exemplo, divide a faixa Brasil com Ky-Mani Marley, penúltimo dos 11 filhos de Bob. Já o “culpado” pelo projeto, Chico César, encontra Jah Marcus na contagiante Little Johnny. Com o prêmio de “Ideia mais inovadora”, a jamaicana Queen Ifrica musicou os agradecimentos do disco e cantou ao lado do músico americano Joey Altruda. Entre as 14 faixas, há uma versão reggae de Something (George Harrison) dividida pelo cantor Luciano e o guitarrista Ernest Ranglin, inventor da levada do ska. “Tem gente até comparando com o Buena Vista Social Club, mas não é coletânea. Aqui é todo mundo produzindo canções novas”, corrige Bid.

Pra completar, Bambas & Biritas Vol. 2 está sendo vendido em formato simples ou acompanhado de um livro de 88 páginas, trazendo um dicionário de instrumentos musicais. O fato é que a preocupação primordial de qualquer projeto que Bid resolva botar o dedo é tirar dali alguma experiência além da própria música. “Tenho preocupação de deixar uma história. Não sou um fabricante de talentos. Nem sei fazer isso”, confessa desdenhando até um possível convite de Ivete Sangalo. Ele mesmo já soube o que é maistream quando foi guitarrista da banda Tókio, famosa por ter lançado o vocalista Supla, seu colega de peladas na infância. “Eu que o levei pra pintar o cabelo de branco a primeira vez”, relembra entre risadas.

Hoje Bid assume que fica mais à vontade como produtor. Entre seus projetos, por enquanto, está um trabalho com o rapper Marechal (“ainda sem grana, mas a música me move”) e um possível disco juntando a tradição de Elza Soares, as pick ups do DJ Marky e uma banda de metais. Bid e Elza, inclusive já se encontraram na trilha do filme Chega de Saudade. “Ela tem uma confiança muito grande em mim. Eu fico do lado dela no estúdio pra gravar, é muita intimidade. Quem gosta de música, sabe que são situações muito especiais”, emociona-se lembrando que já ganhou até selinho da diva. Por conta do caráter das suas ideias, acabou ganhando fama de difícil e cabeça dura. “Eu sou complicado por que gosto de fazer as coisas do jeito certo. Eu levo muito a sério essa parada de música”.

Faixas do CD:
1. Music For All – The Heptones

2. Little Johnny – Chico César e Jah Marcus

3. Hapiness Is All In Your Hands – Queen Ifrica

4. Brasil (Little Sunday) – Ky-Mani Marley e Dominguinhos

5. We Put The “M” Inna Music – Tony Rebel e Siba

6. Children Of The Future – U-Roy

7. Chiquinha Hey – Luiz Melodia e Anelis Assumpção

8. Lehá Dodi (sheeba) – Oku Onuora e Karina Buhr

9. Something – Luciano e Ernest Ranglin

10. World Cry (Al Fayah Mix) – Jesse Royal e Karina Buhr

11. Only Jah Love (Raggatu) – Sizzla Kalonji e Bi Ribeiro

12. Forever You Are – Queen Ifrica e Joey Altruda

13. Something Is Wrong – I Wayne

14. Nyahbinghi (Medley) – Priest Kassa, Priest Delroy, “Tiger” Williams, Prophet Caue A.K.A. Dada Yute, Marvin Wright e Papete 

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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