No entanto, mesmo que tivesse muitos sambas na sua história, a cantora potiguar nunca se viu como uma autêntica sambista. Pensando nisso, ela colocou como regra para seu novo disco que ele não trouxesse nenhum samba. E assim nasceu Segunda Pele, fruto de inúmeras conversas com o músico e amigo Rodrigo Campello. Com pandeiro e tamborim em segundo plano, o disco se abre para outros sons brasileiros, de várias regiões. “Não quero deixar (o samba), não é um abandono. É só uma necessidade de viver experiências novas com o público”, explica Roberta Sá por telefone.
Esse mergulho na brasilidade está presente em tudo, desde a concepção do som até a capa do disco, que remete a uma saudosa Clara Nunes. “Queria que fosse uma capa de uma cantora bem brasileira. Esse foi o briefing. Uma capa bem tropicalista”, detalha lamentando o tamanho das capas de CDs comparadas aos antigos LPs. O movimento tropicalista também serviu de influência para os arranjos que emolduram as canções. Os climas e sensações trazem à memória os ambientes sonoros criados pelo maestro Rogério Duprat (1932 – 2006). É o caso, por exemplo, da abertura opulenta com Lua (Mário Seve/ Pedro Luís).
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=3OcSqilSm8A[/youtube]Em Segunda Pele, Roberta Sá procurou novos caminhos para seu canto. Um dos desafios que se impôs foi de gravar pela primeira vez em outra língua, no caso o espanhol. A escolhida foi Esquirlas, de Jorge Drexler, que ainda teve a participação do autor. Outra mudança curiosa está nas letras. A cantora que já foi chamada de “Sandy do Samba” se mostra agora mais sensual em versos como “quando ele vem, faço dele minha luva, meu collant, a minha segunda pele” (Segunda Pele, de Carlos Rennó e Gustavo Ruiz) ou “Quando a coisa é quente, já estamos bem a sós” (Bem a sós, Rubinho Jacobina).
Segunda Pele também mostra um lado mais ensolarado da cantora, que definiu este como “o disco das minhas vontades”. O Nego e Eu (João Cavalcanti) é um sambão gostoso que lembra os anos 1960 de Elza Soares. Junto com o marido Pedro Luís, ela assina o frevo “arrasta quarteirão” No bolso, onde pensa nos aperreios da vida moderna. Segurando o ritmo, ela pula para Deixa Sangrar, canção de Caetano Veloso lançada por Gal Costa em 1970. “Nos discos anteriores, eu jamais gravaria uma música da Gal. Ela é um símbolo, então eu a achava intocável. Agora ganhei essa liberdade, essa maturidade de poder fazer esse tipo de coisa, sem ficar com tanta preocupação”, avalia Roberta.
Na mistura de estilos do disco, há ainda a balada tocante Você não poderia surgir agora (Dudu Falcão), que conta com Daniel Jobim ao piano, e No Arrebol, um curioso reggae escrito pelo sambista carioca Wilson Moreira. Esta última encerra o trabalho deixando uma sensação objetivo alcançado. Para Roberta Sá esse disco não é necessariamente ousado (“Eu vou sempre achar que o próximo é mais ousado. A mudança de rumo é sempre uma ousadia”). Ainda assim, é certo que, a vontade de dar um passo à frente, fez deste o seu melhor disco até agora.