Para Mario Adnet, a cultura brasileira anda numa situação bem crítica. “O dinheiro não está ao lado da cultura. Antes, as famílias que tinham dinheiro tinham cultura. Mas, hoje, as coisas estão popularescas demais”, alerta o maestro, cantor e compositor carioca. Numa tentativa de nadar contra esta maré, ele começou a viajar pela obra dos grandes mestres para relembrar o público o que temos de melhor em termos musicais. O mais novo projeto desse esforço pessoal foi resgatar parte da obra musical de Vinicius de Moraes composta ao lado de maestros brasileiros.

Com diferentes perfis, os parceiros selecionados para Vinicius & Os Maestros (Universal) foram Pixinguinha, Moacir Santos, Claudio Santoro e Baden Powell. Este último, embora nunca tenha sido exatamente um maestro entrou para o projeto por possuir um conhecimento musical digno do título. “Eu faço essa preservação dessas figuras até pra me resgatar. Quem é desconhecido precisa de resgate, mas, no Brasil, quem é conhecido também precisa”, comenta Mário, também um dos responsáveis pelo premiado Ouro Negro, disco/show sobre a obra de Moacir Santos lançado em 2001.

Indo além da Bossa Nova, gênero que teve em Vinicius um dos seus principais expoentes, Vinicius & Os Maestros mostra um lado mais erudito e outro mais brejeiro do Poetinha. Nesse trajeto, Adnet contou com o reforço vocal de Joyce, Dori Caymmi, Mônica Salmaso, Sérgio Santos e Tatiana Parra. Com esse time, ele vai de momentos mais populares como Lamento (“O Vinicius até dizia que se arrependia de ter colocado letra em Lamento, por que não precisava”) e outros mais obscuros como Acalanto da Rosa (em parceria com o maestro manauara Cláudio Santoro). Cercado por uma grande orquestra, Vinicius e Adnet crescem em canções sublimes como Valsa de Eurídice e Medo de amar.

Com um dos sobrenomes mais musicais do Brasil, Mario Adnet corre o mundo levando a obra de grandes compositores e o som de músicos brasileiros. Junto a este novo projeto, ele continua viajando com as canções de Moacir Santos e Tom Jobim, outro compositor que passou pelas suas mãos no projeto Jobim Sinfônico. “São projetos que vão durar pra sempre e que eu posso fazer com qualquer orquestra local, inclusive no Ceará, onde já tem orquestra e posso convidar artistas locais”, provoca. Sempre guardando coisas e buscando novas idéias, ele, que se considera “quase como um arqueólogo”, agora pensa em trabalhar as obras de Johnny Alf e João Donato. “A gente tem que criar os nossos mecanismos genuínos de sobrevivência das artes. Nossa memória é nosso bem maior. Se não tiver resgatando, não faz sentido fazer música”, encerra.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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