Na indústria musical, o produtor musical é uma espécie de timoneiro do produto que está sendo gravado. Responsável por direcionar ideias, sugerir sons, lapidar propostas, ele divide igualitariamente o ônus e o bônus de um lançamento. Não à toa seus nomes costumam aparecer em destaque na contracapa dos discos. Alguns até, por conta do estilo peculiar, ganharam notabilidade em seus segmentos. É o caso de George Martin (Beatles) para o rock, Quincy Jones (Michael Jackson) para a black music e José Milton (Ângela Maria) para a MPB.

Pois foi apostando no produtor musical que Mart’nália botou nas lojas seu 10º trabalho (incluindo os três ao vivo). Em busca de um som mais pop e menos samba, ela perseguiu o alagoano Djavan até convencê-lo a assumir a produção de Não tente compreender. Apesar do recado direto do título, tudo está explicado na primeira página do encarte: “mudei de poesia e fui pro pop, sem cuíca, pandeiro e tamborim”. Simples.

Embora não tenha lá um currículo como produtor (além dos próprios discos), Djavan tem uma personalidade muito bem impressa na carreira. E é isso que ele divide com Mart’nália. Namora comigo (Moska), o destaque do disco, coloca a batida e a voz características do alagoano para abrir os trabalhos, como quem diz: agora é comigo. Reforçando outra característica do compositor de Oceano, todas as 14 faixas de Não tente compreender tem cara de trilha de novela.

Sem poder se afastar de todo do samba, Surpresa (Mart’nália/ Arthur Maia/ Ronaldo Barcellos) cheira àquelas cenas folhetinescas pelo Rio de Janeiro. Esta, inclusive, é uma das mais belas letras do disco. A outra é Depois cura (Lula Queiroga), que diz: “amar é remédio de louco pra recuperar a razão”. Outro momento para a cantora esbanjar sua carioquice é Itinerário (Max Viana, filho de Djavan) que logo entrega: “no Rio é muito fácil de achar um cenário”.

Caetano Veloso, que deu a Mart’nália a obra-prima Pé do meu samba, agora comparece com a bossa Demorou.  E, pela primeira vez na voz da (ex?) sambista, Nando Reis assina o rock Zero muito. Não precisa nem de um minuto para saber que a música é do ex-titã (“você não curte o que eu curto, o mesmo sexo, outro prazer”). No entanto, a música mais “Djavan” de Não precisa compreender é Os sinais (Junior Almeida), que parece pegar o fio da meada de Acelerou.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles