No crescente mercado de cantoras brasileiras, conseguir um destaque entre tantas vozes graves e agudas é algo que exige muito esforço. Mais ainda quando a música é só um veículo para passar uma ideia maior sobre a arte, a criação e a vida. Mas esse foi o desafio que a carioca Silvia Machete impôs para o seu trabalho. Sem um sucesso no rádio ou na trilha da novela, ela chega pela primeira vez a Fortaleza nesta sexta-feira (4) para apresentar um resumo dos seus seis anos de carreira como cantora.

Apesar de praticamente desconhecida do grande público e do pouco tempo que conta desde sua estreia com o disco Bomb of love – música safada para corações apaixonados (2006), Silvia Machete já tem uma longa estrada no campo das artes. Depois de anos acalentando o sonho de ser malabarista, ela seguiu para a França onde estudou artes circenses, teatro burlesco e o erótico cômico. De fato a viagem que duraria seis meses era para estudar o francês. Apostando no próprio talento, ela preferiu se dedicar ao que de fato queria e esticou a estada para três anos.

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Certa de que a arte era o melhor caminho para sua vida, Silvia Machete dedicou mais 12 anos ao teatro de rua, na Europa e na América do Norte, onde acumulou prêmios e elogios. De volta ao Brasil, ela, que tem dois irmãos músicos profissionais, decidiu juntar o canto e a performance teatral em espetáculos cheios de humor, sensualidade e maluquices, como cantar rodando um bambolê. “Tem uns que têm uma certa resistência ao que eu faço. Mas, olha, meu show é muito legal. Eu amo”, empolga-se a artista em entrevista por telefone.

Grande parte dessa resistência deve-se ao fato de Silvia Machete fazer no palco algo à beira do indefinível. Não à toa, ela batizou seu último disco, lançado em 2010, de Extravaganza (Coqueiro Verde). Ao mesmo tempo em que cede seus belos agudos à tocante Feminino frágil – parceria com o tremendão Erasmo Carlos –, ela surge vestida de samambaia no mambo Tropical extravaganza, de Fabiano Krieger. Pra completar, em O baixo, composição de próprio punho, ela faz do instrumento de notas graves o parceiro ideal para uma dança do acasalamento. “Esse disco começou com a palavra ‘extravagante’, que diz muito sobre o que eu sou no palco. Acho que o Brasil é muito extravagante. Então, comecei com essa palavra, fui pesquisando”, lembra ela que recebeu o prêmio de melhor show de 2010, cedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

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No entanto, Silvia Machete não é de fazer qualquer coisa somente pensando em chamar a atenção e nem fica posando de engraçada. Com certo ar de seriedade, ela não nega que um leque tão aberto na vida profissional acaba tornando sua estrada mais longa e difícil. “Sinto falta de uma pessoa que faça o que eu faço, um teatro musical. Não caio nessas coisas tradicionais”, dispara. Com três discos e um DVD lançado em esquema independente, ela afirma que sua música até poderia tocar no rádio, mas isso exigiria uma estrutura que ela não tem. “Acho que vou, ainda por muito tempo, ser uma artista que faz uma coisa até artesanal”, adianta sem esconder uma pontinha de decepção.

Mas o grande trunfo guardado na manga desta artista tão multifacetada, ela sabe, é mesmo no palco. “Hoje, falar que é cantora não é grande coisa. Meu trabalho é único por que consigo fazer no palco tudo que sei fazer. Faço parte dessa coisa que não dá pra rotular”, admite. No CD e DVD ao vivo Não sou nenhuma santa (2008), por exemplo, ela vai do samba canção passional Foi ela a uma versão mais mansa de Sweet child o’mine, da banda Guns N’Roses. Hábil pescadora de pérolas, ela sabe bem juntar composições próprias e canções perdidas em discos alheios (a delicada Gente aberta, de 1971, foi que deu origem à amizade com Erasmo Carlos), antes de jogar seu molho particular e apresentar para o público. “Como é a primeira vez que vou a Fortaleza, vou fazer os números do show antigo e misturar com coisas novas. É um show bem divertido. Nem precisa conhecer as músicas para gostar”.

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Serviço:
Quando:
nesta sexta-feira (4), às 20h
Onde: Sesc Senac Iracema (Rua Boris, 90 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia)
Outras informações: 3230 1917

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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