Praticamente desconhecido do grande público, João Alfredo Correia de Oliveira Filho já conta mais de 10 anos de carreira. Rebatizado artisticamente como Fênix, ele já ouviu muitas comparação com Ney Matogrosso, tanto por conta do registro agudo da sua voz quanto pelas performances e figurinos exóticos – saias, maquiagem pesadas, longos rabos de cavalo – que usava em cena (herança das aulas de teatro). “Vou confessar de cara, eu não escutava Secos & Molhados. A primeira vez que ouvi o Ney, de fato, foi no (disco/show) As aparências enganam. Acho que ouvi muito mais o Edson Cordeiro que o Ney”, admite sem desdém.

Ainda assim, Fênix decidiu dar um novo rumo ao seu trabalho, explicitado no disco A foto onde eu quero estar. Pra começo de conversa, ele acrescentou um João antes de Fênix. Em seguida limpou os excessos do palco para que sua voz se sobressaísse. Pra parecer ainda mais comportado, na capa do disco ele aparece sério e de óculos. “Mas não uso óculos. É só um personagem”, esclarece por telefone.

Adepto de uma MPB mais moderna, esse pernambucano de 37 anos, que vive entre o Rio de Janeiro e Washington, gosta de misturar camadas e texturas. Por isso, ele promoveu um intercâmbio entre produtores de escolas diferentes em A foto onde eu quero estar. De um lado está a pegada rocker de JR Tostoi (Lenine) e do outro a elegância camerística de Jaime Além (Maria Bethânia). “Eu distribuí as músicas para cada produtor. Depois, entregava a faixa de um ao outro. Nem sei se eles gostaram”, comenta.

Se mostrando nu em cena, Fênix também aproveita o momento para revelar sua porção compositor. Criando cenas dramáticas (“Costuro a alma, imagino viver três mil anos”) e letras doces (“A beleza sã e a ternura são novas roupas”), o artista busca um caminho para esta vertente que ele pretende explorar mais em trabalhos futuros. Das 10 faixas do novo disco, cinco são crias próprias (incluindo uma versão) e outras duas são parcerias. As demais são releituras de Caetano Veloso (Meu rio) e Leonard Cohen (Halleluja), e uma inédita de Paulo César Pinheiro com Pedro Amorim (Delírios).

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Empolgado com a experiência, Fênix comenta que gostaria de ter mais disciplina na hora de compor. Ainda assim, ele revela que já tem coisas novas prontas para um novo disco. “Essas primeiras foram compostas desde 2006, mas correspondem a um mesmo abismo. Por isso, considero o disco como uma foto, fechado. As novas coisas vêm de um outro lugar”, explica ele que, no trato com parceiros, prefere sacrificar a autoria da melodia. “Como artista, sinto necessidade do que é verdadeiro pra mim. Logo, é muito difícil abrir mão da minha própria letra”.

De volta às comparações, o registro contralto de João Fênix ainda é um terreno que tem muito o que ser explorado. Sem a mesma pegada imediata de Ney Matogrosso nem a técnica cristalina de Edson Cordeiro, ele procura driblar a mesmice buscando uma variação de estilos. Enquanto Halleluja parece um minueto do século XV, O equilibrista e os animais tem um pé na bossa nova e outro na pista de dança. Pra dar conta disso, A foto onde eu quero estar conta com músicos do quilate de Sacha Amback, Jovi Joviniano e Serginho Trombone.

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Mesmo que muita gente ainda não tenha conhecido o Fênix, ele adianta que o João Fênix veio pra ficar. “Já tenho planos de lançar um novo disco no segundo semestre de 2013, também me mostrando como compositor. Sabe como é, cabeça do artista não para”. Quanto às performances de palco, por hora, estão suspensas, mas podem voltar a qualquer momento. Com planos de se apresentar em Fortaleza no mês de agosto, ele prefere não acertar tão a ferro e fogo o próximo passo. “O visual é instável. Com certeza vou ficar variando, do jeito que eu possa me comunicar mais com o público”.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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