Perseguido pela dureza da ditadura brasileira, Caetano Veloso partiu para o exílio em Londres, em 1969. Lá, ele transformou boa parte das suas saudades em músicas embebidas de melancolia e vazio, muitas delas compostas na língua do seu novo país. Essa é a fonte onde a cantora Alexia Bomtempo foi beber para lançar o seu I just happen to be here (Biscoito Fino). Nascida em Washington, a cantora de 34 anos é filha de uma cantora e compositora americana com um produtor brasileiro. Lançou um primeiro disco em 2008 (Astrolábio), onde já bicava algumas coisas da obra do ídolo baiano. Ainda nessa época, o preparador vocal Felipe Abreu lhe propôs o projeto que daria em I just happen to be here, mas ela negou para não competir com seu disco de estreia.

 

Alexia e Felipe só voltaram a conversar em 2010 e ainda convidaram o produtor Dé Palmeira, ex-Barão Vermelho, para se juntar ao projeto. Entre muitos compromissos, I just happen to be here só ficou pronto dois anos depois. Dona de um registro rouco e sedutor, ela dá unidade a 10 canções, que vão da popular London London até a desconhecida e nostálgica In the hot sun of a Christmas day, que conta com o auxílio de Frejat no dobro. Outros convidados que enriquecem a homenagem é o maestro Letieres Leite e sua Orquestra Rumpilezz, em Nine out of ten, e o compositor Jesse Harris, parceiro de Norah Jones, tocando violões em Lost in the Paradise. Manso e reverente, I just happen to be here ganha por respeitar o clima nebuloso que deu origem a essas canções.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles