O Brasil nunca foi um exemplo de respeito aos seus mitos. Por isso mesmo, até hoje, tantas memórias, como as dos ídolos da música, vão se perdendo. Esse é o motivo pelo qual, para se saber a história de gente como Erasmo Carlos, Roberto Carlos, Rita Lee e tantos outros, é preciso se esperar a boa vontade dos próprios. E, se alguns desses traiçoeiros jornalistas inventarem de contar suas histórias, as ameaças de processo (leia-se: censura) logo viram verdade. Nisso, um problema maior acaba acontecendo: se o tal ídolo já tiver morrido, pobre dos fãs que precisam esperar uma autorização da família para que sua vida vá para a gráfica. Por isso mesmo, o grande Luiz Gonzaga ainda não tem uma biografia que faça jus ao seu tamanho. Fosse ele inglês ou americano, já teria vários livros – bons e ruins – dissecando cada pedaço da sua história. Ainda assim, em 2006, a jornalista Regina Echeverria, autora do fundamental Furacão Elis, escreveu aquela que é, ainda, a única biografia do Rei do Baião. Gonzaguinha e Gonzagão, tal qual dito no título, discorre sobre a errática relação do Mestre Lua e seu filho mais famoso. Base para o filme de Breno Silveira, o livro acaba de ganhar uma reedição pela editora Leya. Cheia de altos e baixos, a história dos dois começa com mais um dos muitos relacionamentos de Gonzagão, dessa vez com a cantora Odaléia, que dá à luz um menino que logo receberia o nome do pai, Gonzaguinha. Muitos duvidam se era ele mesmo o pai, e esse é um dos pontos altos do Livro: tudo é tratado, discutido e investigado até onde pode. Depois de muitas idas e vindas, mágoas, abandonos e reatados, eles terminam se perdoando e viajando o Brasil inteiro juntos, cantando e tocando. Apesar dos trechos relatoriais e outros menos interessantes, Echeverria tem um nome forte no mercado, principalmente pelos muitos anos dedicados ao jornalismo cultural. Com tanto traquejo, ela conheceu boa parte da vida dos seus biografados. Isso dá ao livro uma aproximação maior entre leitor e personagem. No entanto, é fato que o livro às vezes deixa a desejar pela falta de novidade, de emoção, culpa talvez, dos próprios biografados. Ainda assim, o livro vale por ser o único contar com detalhes a vida de dois compositores essenciais para a história da MPB. Cada um seu modo, Gonzaguinha e Gonzagão merecem bem mais respeito do seu País.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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